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Chained Echoes e o “bombardeio” a um jogo aclamado

Sem nenhum motivo aparente, vários meses após seu lançamento o ótimo JRPG Chained Echoes se tornou alvo de um "Review Bombing" no Metacritic

46 semanas atrás

No dia 8 de dezembro de 2022 Matthias Linda realizou um sonho. Após sete anos de árduo trabalho e uma campanha de financiamento coletivo bem-sucedida, o game designer alemão lançou seu JRPG Chained Echoes, com a recepção tendo sido a melhor possível. Muito elogiado tanto pela crítica quanto pelo público, o que ele não poderia imaginar é que, meses depois, o jogo agora seria alvo de ataques em massa.

Chained Echoes

Crédito: Divulgação/Matthias Linda/Deck13

Fortemente inspirado pelos RPGs japoneses lançados na década de 90, como Final Fantasy VI, Breath of Fire, Terranigma, Xenogears e Suikoden 2, Chained Echoes chamou a atenção justamente pelo alto nível de qualidade e pela dedicação do seu criador. Conhecer a história de um grupo de personagens que percorrem um continente devastados pela guerra entre três reinos foi uma grata surpresa para muita gente.

Com um enredo maduro, uma pixelart muito bonita e um sistema de batalhas dinâmico que garante que os confrontos por turnos não se tornem maçantes, ele conseguiu uma média de notas bem alta em todas as plataformas em que foi lançado. Embora muitas pessoas não confiam em agregadores como o Metacritic simplesmente por achar que a mídia especializada pode ser corrompida, a pontuação do Chained Echoes se manteve elevada mesmo entre o público. Bom, isso até os últimos dias.

De maneira inexplicável, várias pessoas foram ao agregador e passaram a dar notas muito baixas para o título, o que consequentemente fez com que a sua média despencasse. Ao notar a situação, o chefe de produtos da Deck13, Michael Hoss, usou sua conta no Twitter para lamentar e cobrar uma ação do Metacritic.

“Agora aconteceu com a gente,” começou o funcionário da editora que publicou o JRPG. “O @ChainedEchoes foi bombardeado com críticas no Metacritic. Apenas classificações simples, sem análises. Sem razões. Nós não sabemos o porquê, apenas aconteceu.”

Crédito: Divulgação/Matthias Linda/Deck13

Ele então questiona uma promessa feita pelo Metacritic de que não permitiria mais isso, mas termina sugerindo que a fiscalização seria apenas para jogos de grande porte. Hoss se referia a uma iniciativa do site nascida após os usuários terem realizado a prática do que é conhecido como Review Bomb no DLC Burning Shores, do Horizon: Forbidden West. Mesmo com a expansão tendo sido bastante elogiada pela crítica, o público não gostou do desfecho da história, pura e simplesmente devido a um relacionamento amoroso que a protagonista, Alloy, pode ter.

Diante de um problema que escalou rapidamente, a empresa responsável pelo agregador correu para se posicionar, soltando o seguinte comunicado:

“A Fandom é um lugar de pertencimento a todos os nossos fãs e levamos a confiança e a segurança online muito a sério em todos os nossos sites, incluindo o Metacritic. O Metacritic está ciente das críticas abusivas e desrespeitosas ao Horizon Forbidden West Burning Shores e temos um sistema de moderação em vigor para rastrear violações dos nossos termos de uso.

A nossa equipe analisa todas as denúncias de abuso (incluindo, mas não limitadas a racismo, sexismo, homofobia, insultos a outros usuários, etc.) e se violações ocorrerem, as críticas serão removidas. No momento estamos evoluindo os nossos processos e ferramentas para introduzir uma moderação mais rigorosa nos próximos meses.”

Voltando ao Chained Echoes, ele nem parece ter sido alvo de ataques preconceituosos, pois como a própria editora afirma, os usuários apenas deram notas baixas ao título. Uma possibilidade é que o “bombardeio” tenha acontecido pela falta de localização do jogo para línguas como espanhol, chinês e português.

Recentemente a Deck13 comentou em uma sessão de perguntas e expostas que constantemente eles recebem pedidos para que o título seja disponibilizado em outras línguas, mas que devido à base instalada nesses países e o tamanho do Chained Echoes, isso não é possível. Eu mesmo lamentei isso quando dei minha opinião sobre o jogo, mas entendo o posicionamento dos envolvidos.  

Crédito: Divulgação/Matthias Linda/Deck13

Ao ser contactado pelo pessoal do site GamesRadar+, Michael Hoss afirmou não ter esperança de que o Metacritic faça alguma coisa e que devido ao título ter sido lançado há alguns meses, esse Review Bomb não deve ter impacto nas vendas. “É mais uma situação irritante, pois não podemos fazer nada,” ele disse, pontuando que “especialmente com o bombardeio de críticas a conteúdo LGBTQI+, que pode prejudicar seriamente os jogos indies menores em termos de vendas. Enquanto o The Last of Us 2 pode lidar com isso, um indie menor pode realmente sofrer aqui.”

O agravante é que esse problema não se restringe a apenas uma média mais baixa no Metacritic ou uma possível queda nas vendas. Segundo Hoss, o que começa como uma forma de protesto por parte dos consumidores muitas vezes ganha tração nas redes sociais e resulta em desenvolvedores sendo ofendidos e até ameaçados. “Estamos falando sobre pessoas que jogaram anos e anos de suor, sangue e lágrimas em seus jogos e então alguém vem e caga em frente à sua porta,” declarou. “A depressão pós-lançamento é uma coisa e essas coisas machucam as pessoas.”

Felizmente a atitude por parte do Metacritic veio mais rápida do que muitos poderiam imaginar, com as notas baixas não aparecendo mais nas páginas do Chained Echoes. Neste caso o estrago provavelmente nem acontecerá, mas imagine o que essa onda de ataques poderia ter causado se começasse nos dias seguintes ao lançamento.

Chained Echoes

Crédito: Divulgação/Matthias Linda/Deck13

Mesmo não sendo contra a manifestação por parte do público, seja reclamando muito no Twitter, seja negativando um jogo no Steam ou lhe dando uma nota baixa no Metacritic, é preciso haver o mínimo de bom senso ao fazer isso. Não vejo problema algum em críticas pela falta de qualidade em uma obra, mas juntar um grupo para atacar um jogo ou seus criadores só porque ele aborda temas que vão contra a sua convicção?

O que não consigo entender é, se algo parece tão nocivo a alguém ponto da pessoa se dispor a organizar uma campanha deste tipo, o mais simples não seria apenas ignorar? O mercado está repleto de opções e por mais que eu sempre advogue a favor de jogos localizados no nosso idioma, nunca atacarei um desenvolvedor só porque ele não pôde/quis fazer esse trabalho.

Mas o pior de tudo é saber se tratar apenas de uma questão de tempo até que outros alvos sejam escolhidos para serem bombardeados, com alguns se indignando e ver tal círculo continuar teimando em ser encerrado.

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