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JRPG ou não JRPG, eis a questão

Após produtor do Final Fantasy XVI reclamar do termo JRPG, Hideki Kamiya sai em defesa da expressão e diz que os japoneses deveriam se orgulhar dela

31 semanas atrás

Se existe algo que eu nunca imaginei que um dia veria, é um debate sobre o termo JRPG (Japanese Role-Playing Game) ser válido ou não. De um alado temos aqueles que o consideram preconceituoso, do outro há quem não veja problema na sua utilização, tratando-o até como uma forma de elogio e entre eles está Hideki Kamiya.

Uma das figuras mais importantes do cenário japonês, Kamiya é o criador de títulos como Resident Evil 2, Devil May Cry, Okami e Bayonetta, e para ele, existir uma denominação para aos RPGs criados no Japão é algo do qual os profissionais de lá deveriam se orgulhar.

O JRPG Chrono trigger

Homenagem ao Chrono Trigger (Crédito: Reprodução/Orioto)

Criado ainda durante a década de 90 como uma maneira de distinguir os títulos do gênero que estavam sendo criados no Japão daqueles produzidos deste lado do mundo, o termo ganhou as manchetes recentemente graças a uma declaração de Naoki Yoshida, produtor do Final Fantasy XVI.

“Para nós, como desenvolvedores, a primeira vez que ouvimos isso foi como um termo discriminatório,” explicou Yoshida. “Foi como se estivéssemos sendo ridicularizados por criar esses jogos e, portanto, para alguns desenvolvedores, o termo JRPG pode ser algo que talvez desencadeie alguns sentimentos ruins devido a como era no passado.”

Ao citar o passado, o produtor se refere a uma época em que o termo era usado de uma forma pejorativa. Embora ele admita que hoje isso não aconteça mais, teria ficado a sensação de ofensa para alguns profissionais, sempre que um jogo é descrito como um JRPG.

Dragon Quest, um dos primeiros sucessos dos JRPGs (Crédito: reprodução/Unicorn Lynx/MobyGames)

Pois é aí que entra Hideki Kamiya. Ao conversar com o pessoal do site Video Games Chronicle, o game designer foi questionado sobre o assunto e deu uma resposta extensa, chegando a afirmar que este é um termo do qual os japoneses deveriam se orgulhar.

“Quando olha para o God of War, você tem o Kratos. Ele é musculoso, é enorme, é careca, parece realmente f***, basicamente. Então nós pensamos, ‘ok, temos jogos como esses que estão começando a se tornar mais populares globalmente, poderíamos criar algo parecido a partir do ponto de vista japonês?’

Discutimos isso internamente e a conclusão foi de que não, obviamente não conseguiríamos, porque isso é algo que não é exclusivo de nós, criadores japoneses. Então, para criar um jogo de ação que se destacasse, precisaríamos criar algo que expressasse nossa sensibilidade única como criadores japoneses e a Bayonetta foi o resultado disso.

Quando você olha para a Bayonetta como personagem, ela não parece forte como o Kratos, não parece que pode dar conta daqueles enormes demônios, mas ela é única na maneira como foi criada, na maneira como vemos os heróis de ação, de um ponto de vista único de japoneses.

Então, quando se trata do termo ‘JRPG’, ele é algo relacionado a isso — são jogos de RPGs que, de certa forma, apenas os criadores japoneses podem fazer, com suas sensibilidades únicas quando se trata de criar essas experiências.

Penso ser algo que certamente deve ser comemorado no futuro e alguém deveria realmente ter como objetivo criar um jogo ‘rei dos JRPGs’ para expressar isso. Como japoneses criadores de jogos, estamos muito orgulhosos do termo JRPG.”

O JRPG Chained Echoes

Chained Echoes (Crédito: Divulgação/Matthias Linda)

Essa é uma opinião que considero interessante e que só discordo um pouco da parte em que Hideki Kamiya afirma que apenas os japoneses seriam capazes de criar um jogo assim. Nos últimos anos temos visto boas tentativas neste sentido e um dos últimos que tive a oportunidade de conhecer foi o excelente Chained Echoes.

Desenvolvido pelo alemão Matthias Linda, é impossível jogar esse RPG e não ser transportado diretamente para os anos 90, quando nos divertíamos com títulos como Chrono Trigger, Suikoden, Breath of Fire ou algum Final Fantasy. Tal jogo pode até não contar com algumas excentricidades típicas do que é produzido no Japão, mas ainda assim, se trata de um típico JRPG.

Peguemos então o jogo produzido por Naoki Yoshida. Muitos que não gostaram do Final Fantasy XVI alegam que isso se deve ao seu suposto distanciamento da franquia — reclamação que se repete a cada novo capítulo, diga-se. Isso estaria explicito até mesmo no sistema de batalha, mais voltado para a ação, então, será que tal jogo não poderia ser considerado um JRPG?

Talvez tudo não passe de uma questão semântica, um termo que pode ser levado para lá ou para cá de acordo com o gosto do freguês. De qualquer forma, não vejo problema algum em utilizar o termo JRPG para descrever de maneira mais rápida o estilo de um jogo, mesmo que isso não resulte em uma classificação muito precisa.

O Final Fantasy XVI não é um JRPG? (Crédito: Divulgação/Square Enix)

O fato é que não parece haver certo ou errado neste debate sobre como chamar os RPGs produzido no Japão (ou que imitem seu estilo). Mas se Hideki Kamiya se mostrou favorável à utilização do termo JRPG, o mesmo não pode ser dito sobre jogos retrô.

“Primeiro de tudo, não gosto da palavra ‘retro game’,” explicou o game designer. “Obviamente não sou um falante nativo em inglês, então isso pode ser algo que estou interpretando de uma perspectiva japonesa, mas ouvir a palavra ‘retro’ de um ponto de vista japonês, sugere mais uma ‘moda’ trazida de uma era passada e reformulada para a época atual.”

Ele então afirmou preferir os termos “jogos antigos” ou “jogos clássicos”, já que demonstrariam mais respeitos a tais títulos. Para Kamiya, “não há necessidade de se referir a eles como ‘retro’, porque eles ainda guardam memórias e experiências especiais que permanecem com vocês por todos esses anos.”

Talvez eu seja acusado de estar querendo pôr água nesta fervura, mas desde que a pessoa consiga se divertir, pode chamar de JRPG, apenas RPG, jogo retrô, jogo clássico, jogo antigo... o que for. De verdade, por mais que eu sempre tente usar um padrão, não consigo achar nenhum dos termos nocivo.

Fonte: Eurogamer

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