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Dead Cells e a velha pergunta: quando é a hora de parar?

Após a Motion Twin anunciar que não lançará mais conteúdos para o Dead Cells, um dos criadores do jogo e cofundador do estúdio faz duras críticas à decisão

13/02/2024 às 8:51

Fundada em 2001, durante muitos anos a Motion Twin se dedicou à criação de jogos para navegadores e dispositivos mobile. Foi só em 2017 que o estúdio francês mudou de patamar, quando lançou como em Acesso Antecipado um jogo que se tornaria um dos mais bem sucedidos títulos indies de todos os tempos, o Dead Cells.

Dead Cells

Crédito: Divulgação/Motion Twin/Evil Empire

Misturando metroidvania com roguelike, já de cara ele conquistou muita gente pela jogabilidade sólida e viciante, com o suporte dado pela desenvolvedora contribuindo para que o jogo fosse aclamado. Além de ouvir a opinião do público, os criadores ainda se dedicaram a adicionar muito conteúdo ao título, fosse através de atualizações gratuitas ou expansões pagas.

De novos modos a uma bela e muito bem-produzida homenagem à franquia Castlevania, Dead Cells se tornou um ótimo exemplo de fator replay e do respeito de um estúdio com a sua produção e com o público. Porém, essa adição de conteúdo ganhou data para acabar.

Pelo Steam, o estúdio anunciou que quando a 35ª atualização do jogo for lançada, ela marcará “o fim da jornada criativa” que enfrentaram ao lado da Evil Empire, equipe formada justamente para cuidar do conteúdo criado para o jogo. Ou seja, embora correções possam ocorrer quando necessárias, não devemos esperar novos conteúdo para o jogo.

Segundo os responsáveis pelo desenvolvimento, essa decisão foi tomada para que eles pudessem “evitar a armadilha do ‘mais do mesmo’,” como viram acontecer com outras séries mantidas por muito tempo. “É crucial não estender demais e arriscar diminuir o charme único que torna o Dead Cells especial para todos nós,” diz o comunicado.

Crédito: Reprodução/Evil Empire

Olhando por essa perspectiva, a justificativa dada pela Motion Twin parece fazer sentido. Esse é um jogo que recebeu muitas adições interessantes ao longo dos anos e que até pela sua própria estrutura roguelike, pode nos entreter por muitas e muitas horas.

Ordenhar demais o jogo poderia fazer com que tudo o que eles criaram ao longo desses anos acabasse virando motivo para críticas, com algumas pessoas acusando os profissionais dedicados a ele de estarem explorando desnecessariamente a marca — embora uma série animada baseada nela já foi anunciada.

Porém, nem todos concordam com esse ponto de vista — principalmente porque a Evil Empire havia anunciado o lançamento de conteúdo para até 2025 — e uma das principais vozes que se ergueu contra esse “abandono” do Dead Cells, foi a de Sébastien Benard. Designer responsável pelo jogo e cofundador da desenvolvedora, ele foi duro ao criticar a decisão tomada pela empresa em que não trabalha mais. Após ser questionado por um fã no Discord, ele disse:

“Já que você está me perguntando, apenas direi que a Motion Twin fez o pior movimento cuz** imaginável contra o Dead Cells e a Evil Empire. Tendo visto em primeira mão a situação real nos bastidores, honestamente posso dizer que sou grato por não fazer mais parte daquilo. A declaração oficial é uma total porcaria de marketing, a maneira como essa situação aconteceu está num nível totalmente diferente.

Nunca imaginei que o meu antigo estúdio cooperativo se tornaria pessoas tão gananciosas. Desejo o melhor para a Evil Empire em seus próximos projetos e espero que as pessoas que trabalham lá sobrevivam a esse repentino corte econômico.”

Crédito: Divulgação/Motion Twin/Evil Empire

Como era de se esperar, as palavras de Benard rapidamente começaram a ser debatidas pela impressa especializada, pois deixavam evidente o descontentamento do designer com a situação, mas principalmente, com as pessoas que controlam o estúdio.

Ciente da repercussão, ele utilizou seu blog para elaborar a opinião, onde elogiou o trabalho feito pelo pessoal da Evil Empire em relação a manter o jogo atualizado. Segundo Benard, mesmo não acreditando inicialmente que a equipe seria capaz de produzir bons conteúdos para o Dead Cells, o tempo mostrou que estava errado e dos dez milhões de cópias vendidas pelo jogo, nove devem ser creditadas a essas pessoas.

Segundo Sébastien Benard, a explicação para o Dead Cells ser deixado de lado agora não passa de uma jogada de marketing. Para ele, cresceu ultimamente a impressão externa de que a Evil Empire é a verdadeira responsável pelo jogo e como atualmente a Motion Twin está trabalhando na criação do Windblown, tirar o antigo sucesso de cena abriria espaço para que o novo possa se destacar.

“Como a Motion Twin sempre fez, [essa] é uma estratégia que deixa as pessoas para trás; tantos os leais jogadores quanto os funcionários da Evil Empire,” disse o designer. “Nada realmente novo, infelizmente.”

Dead Cells

Crédito: Divulgação/Motion Twin/Evil Empire

Se as acusações de Benard tem fundamento ou não, é difícil ter certeza sem sabermos o que pensam aqueles que hoje estão no comando da desenvolvedora francesa e convenhamos, eles provavelmente nunca admitiriam que a ganância é o principal motivador desse movimento.

Contudo, a publicação do designer encerra com um comentário muito interessante feito por uma pessoa que ainda trabalha na Motion Twin e que recentemente debateu com Benard sobre se os criadores de jogos deveriam ou não cuidar das comunidades e base de jogadores de projetos anteriores. Durante a conversa, a pessoa questionou, “por que se importar? O que devemos a eles?”

Felizmente, nem todos pensam desta forma e o passado da Motion Twin é um bom exemplo disso. Se antes o estúdio focava em colocar algo no mercado, lançar algumas atualizações e logo partir para outros projetos, com o Dead Cells eles mudaram de estratégia e a enorme quantidade de conteúdo criado para ele prova isso.

Tudo bem que o sucesso do jogo contribuiu muito para essa postura, mas de qualquer forma, a dedicação do pessoal da Evil Empre provavelmente sempre será lembrada pela maneira como um jogo deve ser tratado no pós-lançamento.

Fonte: PCGamesN

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