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Desenvolvimento do The Day Before foi um show de horrores

Documentário revela as condições deploráveis encaradas por aqueles que trabalharam na criação de um dos maiores fiascos dos últimos anos, o jogo The Day Before

06/02/2024 às 8:54

Conhecer os bastidores do desenvolvimento de jogos tende a ser algo fascinante, mas também digno de nos deixar estarrecidos. Vez ou outra um autor se arrisca a nos contar algumas dessas histórias, conseguindo nos entregar relatos muito interessantes, mas se quisermos conhecer uma passagem dessa indústria que seja realmente inacreditável, talvez não haja caso melhor que o do The Day Before.

The Day Before

Crédito: Divulgação/Fntastic

Produzido pelo desconhecido estúdio Fntastic, o jogo começou a chamar a atenção do público assim que foi anunciado, em 2021. A promessa era de um MMO com belos gráficos, que se passaria num mundo pós-apocalíptico e onde teríamos que lidar com os mortos-vivos controlados pelo computador, mas também com a atitude dos outros jogadores.

Resumidamente, The Day Before deveria ser algo parecido com o DayZ ou State of Decay, mas com o acabamento de alto padrão de um The Last of Us. Porém, aqueles que não duvidaram se algo assim poderia ser entregue por um estúdio sem um longo histórico, passaram a fazer isso com os seguidos adiamentos e acusações de que a desenvolvedora não pagava parte das pessoas que trabalhavam na criação do The Day Before.

Pois a desconfiança se confirmou. Apenas quatro dias após o lançamento daquele título e com ele tendo mudado de um MMO para um jogo de extração, o estúdio sediado em Singapura anunciou que estava fechando as portas e consequentemente, chegava ao fim o The Day Before.

Tal atitude já servia para demonstrar que as coisas não andaram bem durante a criação do jogo, mas uma melhor imagem da situação só foi pintada agora, com o lançamento de um documentário produzido pelos alemães do Game Two e GameStar.

Crédito: Divulgação/Fntastic

Após conversar com 17 pessoas que trabalharam no desenvolvimento do título, sendo que uma delas de maneira voluntária, eles descobriram que um dos maiores problemas do projeto estava na convicção do que queriam os irmãos Gotovtsev, fundadores da Fntastic.

Segundo os relatos, a dupla vivia impondo mudanças no estilo do The Day Before, tendo como base algum título que estivesse fazendo sucesso na época. Isso aconteceu, por exemplo, quando o Hogwarts Legacy e o Baldur’s Gate 3 saíram, mas o Grand Theft Auto Online também teria influenciado o criador de personagens.

Outro jogo que os Gotovtsev quiseram copiar foi o Marvel's Spider-Man 2, já que até que um deles tivesse contato com a criação da Insomniac Games, o jogo que estavam desenvolvendo era mais sombrio e menos amigável.

Contudo, talvez os maiores absurdos relacionados à produção do The Day Before nem estavam relacionados a essa volatilidade dos comandantes do estúdio. Uma dessas situações lamentáveis diz respeito a ideia de entregar um MMO, algo que os entrevistados afirmam que só foram tomar conhecimento quando aquele famigerado trailer surgiu em 2021.

Já a outra — e sem dúvida muito pior — estaria nas próprias condições de trabalho. Além das acusações de trabalho voluntário, que já conhecíamos, as pessoas que deram seus depoimentos para o documentário falam que o estúdio recorria à mão-de-obra jovem e inexperiente vinda principalmente da cidade de Yakutsk, localizada na Rússia e de outros países da antiga União Soviética, como o Cazaquistão e Armênia.

The Day Before

Crédito: Divulgação/Fntastic

E o motivo deles mirarem nesse público não foi por acaso. Sabendo da dificuldade que tais populações têm para encontrar emprego, os Gotovtsev podiam oferecer salários menores e forçar seus funcionários a encararem longas sessões de horas extras sem remuneração.  E quando falo forçar, não seria tão exagero quanto pode parecer.

“Ao longo de um ano e meio eu não tive um sábado de folga e nos últimos dois meses, não tive um dia de folga no geral,” disse um dos entrevistados. “Me peguei implorando por algumas horas de folga só para encontrar tempo para um banho ou uma refeição.”

E não foi só. Com relatos de que tinham que encarar jornadas de trabalho de 16 horas, outro entrevistado afirmou que alguns funcionários tiveram que pagar multas à Fntastic por entregarem trabalhos abaixo do que os fundadores consideravam padrão. As quantias chegaram a US$ 1930 para dois profissionais que não produziram dublagens boas o suficiente e por mais surreal que algo assim possa soar, a acusação foi confirmada por outras pessoas ouvidas para o documentário.

Crédito: Divulgação/Fntastic

Mas e quanto a Eduard e Aisen Gotovtsev? Bom, pelo jeito ninguém sabe ao certo qual o paradeiro dos idealizadores do The Day Before. Fora dos holofotes desde o lançamento do jogo, eles só teriam se encontrado com seus funcionários para encerrar as atividades do estúdio, numa reunião realizado pelo Microsoft Teams.

Para algumas pessoas ouvidas pelo Game Two e GameStar, o motivo para esse desaparecimento estaria na convicção dos irmãos de que estavam colocando uma bomba nas lojas, mas pode haver também outra explicação. Supostamente, os Gotovtsev já teriam fundado outra desenvolvedora, desta vez para produzir jogos mobile.

Se essa suspeita é tem fundamento, ainda não sabemos, mas se a dupla já se arriscou a recomeçar do zero, acredito que não demorará até descobrirmos sob qual fachada se escondeu. E quando isso acontecer, como confiar nos possíveis futuros projetos em que eles se envolverem?

Se tiver curiosidade (e estômago) para ouvir esses e outros relatos sobre um dos desenvolvimentos mais conturbados da história dos games, o documentário está aí, com legendas em inglês e alemão.

Fonte: Dexerto

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