Meio Bit » Games » Google e Amazon “quebrarão” a indústria de games?

Google e Amazon “quebrarão” a indústria de games?

Para ex-presidente da SIE Worldwide Studios, Shawn Layden, interesse de empresas não-nativas é algo que poderá ser prejudicial para a indústria de games

28 semanas atrás

Para muitas pessoas, quanto mais empresas se dispuserem a criar jogos, melhor. Aumenta o investimento, aumenta a oferta, aumenta a quantidade de empregos e talvez aumente até a qualidade do que estiver sendo produzido. Porém, há aqueles que enxergam nesse repentino interesse algo perigoso para a indústria de games e entre eles está Shawn Layden.

indústria de games

Crédito: Reprodução/pikisuperstar/Freepik

Funcionário da Sony desde 1987, em 2016 Layden assumiu o cargo de presidente da SIE Worldwide Studios, posto que ocupou por três anos, até deixar a empresa. Em 2022 ele se tornou consultor estratégico da Tencent Games e tem realizado palestras, como na Investment Summit do GamesIndustry.biz, que aconteceu em Seattle.

Em seu discurso, Shawn Layden deu uma opinião interessante sobre o futuro da indústria de games, um em que, na sua visão, poderá ser afetado pela chegada de gigantes da tecnologia como Google, Amazon, Apple e Netflix.

“Em primeiro lugar, a consolidação pode ser um inimigo da criatividade,” disse Layden, referindo-se às grandes aquisições e fechamentos de estúdios nos últimos anos. “Também acho que o aumento nos custos [de desenvolvimento] dos jogos é uma ameaça existencial para todos nós. E a entrada de não-endêmicos no setor — também conhecidos como os ‘bárbaros no portão’.”

O experiente executivo então virou sua metralhadora diretamente para os gigantes, ao afirmar que “no momento estamos vendo todos os big players dizendo ‘Oh, jogos? Eles geram bilhões de dólares por ano? Quero um pedaço disso’ e então temos Google, Netflix, Apple e Amazon querendo pegar um pedaço e tentar desestabilizar a indústria.”

Shawn Layden (Crédito: Reprodução/Wikimedia Commons)

Para reforçar sua opinião, Layden citou a indústria da música, que teria sido afetada quando a Apple “convenceu a todos que 99 centavos por música era uma boa ideia.” Outro exemplo seria a Netflix, que se tornou a principal forma das pessoas assistirem filmes, prejudicando assim os cinemas.

“Espero que os games sejam a primeira indústria em que nos revolucionaremos,” afirmou de forma categórica. “Onde não será o Google ou a Amazon que completamente virará a mesa. Precisamos ser espertos o suficiente para ver essas mudanças vindo e nos preparar para essa eventualidade.”

Neste momento, o chefe do site GamesIndustry, Christopher Dring, questionou Layden sobre o fato de tanto a Sony quanto a Microsoft, duas das principais fabricantes de consoles, também não serem nativas da indústria de games e mesmo assim terem obtido sucesso. O palestrante se limitou a falar da sua antiga empregadora, explicando como eles contornaram isso.

“A [divisão] PlayStation sabia que não poderíamos fazer o que Sega e Nintendo faziam e [fornecer a maior parte do software], não sabíamos o suficiente sobre como fazer isso,” declarou Layden. “Tínhamos que ser a plataforma de jogos third-party, então tínhamos que conseguir a Namco, Square, EA, Activision.”

Entre essas investidas estava um jogo chamado Final Fantasy VII, produção que inicialmente seria exclusiva para o Super Nintendo e foi conseguida pelo pessoal da Sony Music Japan. Com a Sony Electronics, foram eles os responsáveis por fazer com que a empresa apostasse na criação de um console.

“Então, sim, não éramos endêmicos, mas penso que trouxemos a parte do entretenimento, o que realmente ajudou a acelerar o sucesso do PlayStation,” defendeu Shawn Layden. “Eles sabiam que tinham que trazer o entretenimento... desde o início. As pessoas que cuidavam da publicidade, do marketing, das relações com as editoras, assessoria de imprensa — todos eram caras da Sony Music — e estavam solicitando às editoras que apoiassem a plataforma.”

Crédito: Reprodução/storyset/Freepik

Mesmo que possamos questionar essa visão apocalíptica do executivo, ele tem razão quando diz que não basta uma empresa estar no ramo da tecnologia para ter sucesso na indústria de games. Isso já foi visto com a própria Apple, que em 1996 lançou o Pippin, console que se mostrou um enorme fracasso e vendeu apenas cerca de 42 mil unidades.

Mais recentemente, o Google foi outro gigante que teve dificuldade em se aventurar por este mercado, mais especificamente com o streaming de jogos. Com o Stadia tendo permanecido online por apenas três anos, nem mesmo o estúdio que a empresa de Montain View havia fundado para o desenvolvimento de jogos foi poupado.

“[MGM, Fox, Sony Pictures], todos eles pensaram, ‘temos as propriedades intelectuais, há dinheiro no espaço dos jogos, então vamos fazer jogos. O quão difícil pode ser?’ e então não saiu como esperavam,” disse Layden sobre a uma tentativa parecida, mas feita pelos estúdios de cinema. “E 20 anos depois você tem todas essas empresas de tecnologia, elas têm essas estruturas da nuvem e estão dizendo, ‘vamos criar jogos. O quão difícil pode ser?’ E acontece que é muito difícil.”

Mesmo assim, não vejo com tanto temor essa investida das gigantes na indústria de games, pelo menos não como um mero consumidor. Talvez o maior problema esteja na possibilidade de elas adquirirem estúdios e ao cansarem da brincadeira, simplesmente fechar suas portas e dezenas de pessoas perderem seus empregos.

Porém, isso não seria muito diferente do que cansamos de ver acontecer com empresas que nasceram neste meio, se tornaram enormes e em sua ânsia por devorar os menores, não tiveram o menor pudor na hora de fechar esses estúdios. Portanto, talvez aquilo para que realmente deveríamos olhar é a primeira frase de Layden: “a consolidação pode ser um inimigo da criatividade.”

relacionados


Comentários