Meio Bit » Engenharia » SpaceX: Falcon 9 vai lançar satélites GALILEO da UE

SpaceX: Falcon 9 vai lançar satélites GALILEO da UE

Elon Musk rindo à toa: acordo entre ESA, UE e governo dos Estados Unidos levará satélites GALILEO ao espaço, em foguetes Falcon 9 da SpaceX

21/03/2024 às 9:05

A União Europeia (UE) e a Agência Espacial Europeia (ESA) bem que tentaram, mas não teve jeito: em um acordo firmado nesta terça-feira (19) com o governo dos Estados Unidos, um entendimento foi alcançado para a expansão do sistema de satélites de geoposicionamento europeu GALILEO, em que os foguetes Falcon 9 da SpaceX serão usados para levá-los ao Espaço.

Não teve jeito, a ESA teve que engolir o Falcon 9 de Elon Musk (Crédito: Divulgação/SpaceX)

Não teve jeito, a ESA teve que engolir o Falcon 9 de Elon Musk (Crédito: Divulgação/SpaceX)

A ESA vinha há tempos ruminando a concorrência (na cabeça dela, "desleal") que a companhia de Elon Musk fazia na Europa, e a UE tentava de todo jeito restringir seu alcance para privilegiar a prata da casa, mas quando ficou óbvio que ESA, Arianespace e cia. não conseguiriam cumprir nem com o básico, restou recorrer ao bilionário que mais detestam, para a diversão do mesmo.

SpaceX 1 x 0 ESA e UE

Os problemas da ESA e da UE com o Espaço não são de hoje, principalmente porque o parlamento do bloco não fez o mínimo necessário, que era injetar dinheiro no setor, e ainda assim queriam "hegemonia no espaço" frente principalmente às companhias particulares, em especial a SpaceX. Só para dar uma ideia, o orçamento total de 2022 com o Espaço foi de US$ 2,6 bilhões, contra US$ 61,97 bilhões dos EUA.

Até mesmo a Rússia, mantendo simultaneamente sua "operação militar especial" na Ucrânia, gastou mais (US$ 3,42 bilhões), mesmo se considerarmos que a Roscosmos foi usada para recrutar voluntários, treiná-los e enviá-los para o front, mas divago.

O Ariane 6, a obra de igreja da ESA, está com um orçamento total estimado de 880 € milhões anuais (~R$ 4,77 bilhões, cotação de 21/03/2024), embora a agência não informe quanto o foguete custa realmente, o dinheiro continua sendo injetado, e até agora ele não saiu do chão; o lançamento inaugural está agendado para junho de 2024, se nada mais der errado.

Os problemas da UE são vários. Primeiro, embora o Ariane 6 suporte conversão para o modelo reutilizável, ele é inicialmente um foguete tradicional, de uso único, e depois da SpaceX, este é considerado um modelo ultrapassado, e um desperdício colossal de dinheiro e recursos. Segundo, as agências locais como Arianespace (França) e ASI (Itália) não têm nada que chegue perto dos foguetes de Elon Musk.

Por fim, para desespero da UE, a SpaceX não faz concorrência desleal. A companhia apresenta as melhores soluções, tanto em eficiência quanto em menor custo por lançamento, mas mesmo assim, Arianespace e ASI tentaram convencer a ESA a estimular uma reação local coordenada, enquanto a Comissão Europeia tentou vencer Musk concedendo subsídios a todas as locais, menos a ela. Também não deu certo.

Para piorar, a invasão da Rússia à Ucrânia removeu a Roscosmos da lista de opções da UE, no que o sistema de foguetes Soyuz chegou a ser considerado. Não mais.

Resultado, a UE não tem nada minimamente viável para atender suas ambições prioritárias, no momento, a expansão de seu sistema de geoposicionamento GALILEO, o único do mundo que é voltado primariamente ao usuário final, e não pode ser usado pelas Forças Armadas, algo que os EUA detestam desde sempre.

Se o Ariane 6 não serve, a única opção viável e barata restante é recorrer à SpaceX, que se garante com o Falcon 9, seu foguete pé-de-boi, usado hoje de modo corriqueiro para o lançamento de todo e qualquer tipo de carga, orbital e suborbital. Preço por missão? Por volta de 61,4 € milhões (~R$ 332,75 milhões), contra 146,7 € milhões (~R$ 795 milhões) por lançamento estimado do Ariane 6, lembrando que não há números oficiais disponíveis.

Elon Musk para ESA e UE: "obrigado pela preferência!" (Crédito: Britta Pedersen/Pool/AFP/Getty Images)

Elon Musk para ESA e UE: "obrigado pela preferência!" (Crédito: Britta Pedersen/Pool/AFP/Getty Images)

A SpaceX já havia fechado um acordo e lançou a missão do satélite Euclid, em julho de 2023, mas já havia conversas da ESA e UE quase concluídas para usar o Falcon 9 também nas missões futuras do GALILEO, o que foi oficializado nesta semana, com aval da Casa Branca. Oficiais e pessoal de ambos órgãos europeus terão acesso às áreas de lançamento das missões, (há duas programadas, cada uma com dois satélites), e se algo der errado, ambas terão prioridade no resgate de destroços.

Isso é relevante porque, de novo, o GALILEO não pode ser usado para fins militares, e seu projeto é considerado informação sensível; essas precauções foram tomadas para garantir que não haverá espionagem do sistema, seja pelo Pentágono, pela NASA, ou mesmo pela SpaceX, e manter o sistema 100% blindado, como ele sempre foi. Para se ter uma ideia, será a primeira vez que uma missão de expansão da rede será realizada fora da Europa.

Ambas missões dos satélites europeus estão agendadas para o fim de 2024, com o Falcon 9 sendo usado para colocá-los em uma órbita de 22 mil km; o pacote foi fechado em 180 € milhões (~R$ 975,15 milhões), ou 90 € milhões (~R$ 487,57 milhões) por missão, um gordo adicional de 30% ao preço-base, o que Elon Musk muito agradece.

À ESA e UE, resta torcer para que a missão de testes do Ariane 6 não dê chabu, para que o foguete local possa ser escalado para futuras missões quanto antes, mas até lá, os europeus vão continuar dependendo do Falcon 9 para suas missões críticas, e por mais que não gostem, Musk concorre de forma justa no setor, com os lançadores mais eficientes, pelos menores preços.

Fonte: Politico, Ars Technica

Leia mais sobre: , , , .

relacionados


Comentários