Dori Prata 21/03/2024 às 9:37
Em 2019 algumas pessoas ficaram decepcionadas com a notícia de que mais um jogo deixaria de ser distribuído digitalmente. Devido à expiração dos direitos sobre sua trilha sonora, a venda do Alpha Protocol teve que ser interrompida, mas para a alegria daqueles que não garantiram suas cópias, uma versão com algumas melhorias passou a ser vendida no GOG.
Desenvolvido pela Obsidian Entertainment, Alpha Protocol teve uma produção tão interessante quanto complicada. Tudo começou em 2006, quando prestes a terminar a criação do Neverwinter Nights 2, o estúdio recebeu uma proposta da Sega. Conhecendo a capacidade da empresa fundada por Feargus Urquhart e Chris Jones, a editora japonesa queria que eles fizessem um RPG.
Porém, como a Obsidian estava envolvida em outros projetos, não poderia aceitar a proposta, mas se comprometeu a entregar um conceito. O que surgiu do acordo foi um RPG de espionagem, algo que agradou tanto a contratante, que ela aceitou que o estúdio iniciasse o projeto quando pudesse.
Pois a brecha apareceria pouco tempo depois com o cancelamento de Dwarfs, um RPG que se passaria antes da história da Branca de neves e Os Sete Anões e que estava sendo criado para a Disney. Mas o fim daquele projeto cobraria um preço. Sem dinheiro no caixa e visando evitar demissões, a Obsidian aceitou ceder a propriedade intelectual do Alpha Protocol para a Sega.
Logo a equipe envolvida na produção passaria de 60 pessoas, mas sem um líder, elas estavam confusas para qual direção seguir e em qual público-alvo mirar. Naquele momento o projeto já passava por problemas, com as pessoas envolvidas enfrentando muita dificuldade para implementar o sistema de furtividade que um jogo assim demandava e até mesmo para resolver problemas técnicos com a Unreal Engine 3.
Em paralelo, a Obsidian trabalhava em outro título para a Sega, o Aliens: Crucible — que nunca foi lançado — e cientes do lento desenvolvimento que chegava a dois anos, um dos donos do estúdio, Chris Parker, assumiu o cargo de diretor do projeto e Chris Avellone o de designer chefe.
Juntos, eles realizaram uma reunião para definir alguns pontos, o que acabou resultando na remoção de muitas ideias, como a possibilidade de o protagonista fazer parkour e participar de perseguições de moto e barco. Mudanças estruturais também foram estabelecidas, incluindo uma redução na inteligência artificial dos inimigos, a remoção de uma versão feminina do personagem que controlaríamos e a implementação de safe houses, para tornar a aventura menos linear.
Tudo isso ajudou a fazer com que tanto a equipe, quanto a editora se sentissem mais confiantes, embora por volta de 2009 a Sega tenha exigido que muitos dos elementos de RPG fossem adicionados ou alterados.
Tantas alterações atrapalharam o desenvolvimento, com o lançamento do Alpha Protocol sendo adiado para que o pessoal da Obsidian pudesse lhe dar o devido polimento e evitasse uma janela que seria muito concorrida.
“Um grande exemplo [da indecisão da Sega] é que havia todo um segmento do jogo, que era realmente legal, e ele provavelmente custou US$ 500 mil para ser feito,” revelou Urquhart. “Era uma sequência longa, cheia de mocaps e todos esses tipos de coisas e na época a Sega achou que ela simplesmente não se encaixava no jogo... e então, um corte de US$ 500 mil.”
Mesmo reconhecendo que a editora estava no direito dela, afinal era quem os estava pagando, o executivo ressaltou como aquilo demonstrava o quão perto o projeto estava de “descarrilhar”.
De qualquer forma, em 17 de maio de 2010 o Alpha Protocol foi lançado e o que se viu foi um misto de surpresa e decepção por parte do público. Embora o título tenha conquistado muitos pelo seu sistema de diálogos e a maneira como a todo momento nossas ações e escolhas estão gerando consequências, seu início lento, sistema de combate simplista e de cobertura pouco eficiente, fez com que a experiência fosse comprometida para tantos outros.
Num primeiro momento as vendas foram fracas, o que frustrou a Sega, mas aos poucos aquele jogo se tornaria uma espécie de clássico cult, com parte dos jogadores conseguindo aproveitar suas ideias inovadores, mesmo com os problemas estruturais. Então, sua remoção das lojas virtuais foi lamentada mesmo por aqueles que já haviam comprado o jogo, muito por acharem que mais pessoas deveriam poder conhecê-lo.
Eis que cinco anos depois o GOG surpreendeu muita gente ao resgatar aquele título e fazer isso implementando algumas melhorias. Agora, aqueles que adquirirem o Alpha Protocol por lá, além de um jogo livre de DRM, terão suporte às seguintes novidades:
Mesmo não sendo o que poderíamos considerar um remaster, esse é mais um belo trabalho de preservação realizado pelo pessoal do GOG, fazendo que um jogo odiado por alguns, mas adorado por outros possa ser aproveitado da melhor maneira possível.
A lamentar, apenas o preço que está sendo pedido por essa versão (no momento, R$ 94,49) e o fato que aqueles que possuem uma cópia no Steam não terão direito a essas melhorias. No futuro, quando alguma promoção derrubar esse valor para menos da metade, pode ser que eu acabe comprando o Alpha Protocol novamente. Mas se você ainda não conhece a interessante aventura do agente Michael Thorton, vale a pena aproveitar esse “renascimento”.