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GOG: a preservação de jogos como um negócio

Diretora da GOG fala sobre os desafios em licenciar jogos antigos e como o faturamento não é prioridade para loja ao disponibilizar clássicos

14 semanas atrás

O PC costuma ser defendido como a plataforma mais acessível quando se trata de jogos do passado. Mesmo assim, tentar rodar alguns clássicos em sistemas mais modernos pode nos causar uma tremenda dor de cabeça e é aí que entra uma das iniciativas mais adoradas por quem se preocupa com a preservação da história dos jogos eletrônicos, a GOG.

GOG

Crédito: Reprodução/GOG

Lançada em 2008 como Good Old Games, a loja que funciona como uma subsidiária da CD Projekt Red rapidamente conquistou admiradores e não apenas por focar em jogos mais antigos. De maneira inovadora, todos os títulos vendidos por lá eram livres de DRM e principalmente, adaptados para os sistemas operacionais mais novos.

Apesar de muitas mudanças terem acontecido desde então, incluindo aí a adoção do novo nome e a aposta em jogos mais recentes, a GOG nunca abandonou os clássicos. Porém, numa indústria em que os consumidores estão sempre sedentos pelas novidades, será que financeiramente ainda compensa continuar engordando esse catálogo?

Pois quem falou sobre esse tema foi a Diretora Geral da GOG, Urszula Jach-Jaki. Em entrevista ao site Destructoid, ela explicou como a loja decide quais títulos tem potencial ou não para serem lucrativos.

“As principais métricas que avaliamos antes de tomar uma decisão normalmente envolve uma combinação de nossa experiência, conclusões tiradas do passado, certas métricas de negócios e a visão e suposição dos desenvolvedores,” declarou.

“Não é sempre sobre o lucro puro,” continuou Jach-Jaki. “Muitas vezes investimos em trazer jogos de volta que não alcançaram o sucesso comercial, com o objetivo de deixar felizes os fãs do jogo e a comunidade — especialmente se consertar o jogo não for algo demorado. O que nos ajuda nessa decisão é a lista de desejo da nossa comunidade, que monitoramos regularmente. Alguns dos jogos no topo são difíceis de conseguir, então voltamos nossa atenção no que vem a seguir na fila, baseados no nível de complexidade (e isso é uma mistura de quem possui o código e a propriedade intelectual e qual história por trás do título),” concluiu.

Crédito: Reprodução/GOG

Ainda segundo a diretora, esse conceito pode até parecer idealista, afinal eles são uma loja e o objetivo principal deveria ser gerar lucros com todos os títulos vendidos. Porém, ela garante que a preservação de jogos é algo que, para a GOG, vai além do ganho financeiro. Além disso, ao resgatar jogos antigos eles estariam permanecendo fiéis às suas raízes e até mesmo recapturando o espírito de quando ainda eram crianças.

“Para a maioria de nós, esses jogos antigos desempenharam um papel crucial na formação de nossas identidades,” declarou Urszula. “Nós nos esforçamos para estender essa oportunidade para as gerações mais novas de jogadores, cujas experiências com jogos diferem significativamente, lhes permitindo experimentar a mesma emoção que sentimos. Desde que essa ambição seja alcançada, é perfeitamente aceitável, mesmo que não produza lucros imediatos.”

Quanto a lista a que Jach-Jaki se referiu, ela pode ser encontrada aqui e além de mostrar os títulos mais pedidos de uma semana para cá, também conta com um ranking geral. Nele, os jogos que aparecem na primeira colocação, com mais de 61 mil votos, são os da trilogia Diablo. Logo depois vem a série Mechwarrior e não fiquei nem um pouco surpreso ao ver que franquias como Black & White, No Ones Live Forever e Silent Hill também figuram entre as mais pedidas.

Crédito: Reprodução/GOG

Mas qual seria o motivo para muitos desses títulos tão desejados continuarem sendo “ignorados” pela GOG? Pois a resposta não está na loja e sim naqueles que detêm os direitos sobre esses clássicos e que, muitas vezes, são difíceis de serem identificados.

“Graças aos nossos esforços, o relançamento se tornou uma realidade — o Diablo, por exemplo,” explicou. “Contudo, é sempre uma decisão da editora e só podemos lhes oferecer argumentos convincentes. Pode haver vários motivos para não lançar títulos conhecidos. Às vezes, isso se deve a questões de propriedade intelectual, com a editora insegura sobre possuir 100% dos direitos sobre a propriedade (e provar isso pode ser bastante complexo), ou eles simplesmente não têm a capacidade para trabalhar em versões antigas e relançar o jogo em sistemas modernos.”

Ela citou alguns outros exemplos do que pode travar esses relançamentos, como diretos para a utilização da trilha sonora, cachês para atores, produtos licenciados inseridos nos games e até mesmo créditos desatualizados. Some a isso as muitas mudanças que precisam ser feitas e em resumo, pode ser que no fim das contas o custo envolvido não compense.

Pois esse entrave jurídico nos ajuda a entender o motivo para o GOG ter desacelerado o lançamento de clássicos e voltado sua atenção para títulos mais novos. Segundo Urszula, a loja nasceu visando salvar os jogos lançados antes da era da distribuição digital e acredito que quanto a isso, eles fizeram um bom trabalho. Hoje, 20% do catálogo do serviço é composto por jogos clássicos — que eles consideram como aqueles lançados há mais de 10 anos — e isso representa mais de 1600 títulos.

GOG

Crédito: Reprodução/GOG

Num mundo ideal, um dia teremos a oportunidade de comprar tudo aquilo que nos encantou antigamente ou mesmo nem tivemos a oportunidade de jogar. Porém, mesmo com todo o esforço do pessoal responsável pela GOG, a verdade é que boa parte do passado dos jogos para PC está condenada a ser esquecida ou viver através daqueles que se dedicam a restaurar esses títulos de maneira extraoficial.

A vantagem do PC sobre outras plataformas é que nele isso não só é possível, como pode ser realizado de forma bem menos complicada. O problema é quando um grupo de fãs se dispõem a realizar essa missão de resgate e mesmo sem ter o jogo vendido oficialmente, sua editora/desenvolvedora exige que o trabalho seja interrompido ou tirado do ar.

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