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Armored Core VI — Rubicon ex machina

Com uma jogabilidade frenética e desafiadora, Armored Core VI: Fires of Rubicon é o retorno de uma lenda que mostra que os mechs podem ser muito divertidos

29 semanas atrás

Embora tenha sido fundada em 1986, podemos dizer que a FromSoftware só mudou de patamar em 2009, quando lançou um jogo chamado Demon's Souls. Porém, com aquele sucesso veio um fardo pesado, com os fãs esperando que tudo o que fosse feito pelo estúdio se adequasse ao padrão Soulslike. Porém, com o Armored Core VI: Fires of Rubicon eles mostraram que isso não é necessário.

Armored Core VI: Fires of Rubicon

Crédito: Divulgação/FromSoftware

Com quase dez anos tendo se passado desde o último capítulo da franquia, o Armored Core: Verdict Day, e sem que muitos jogos de mechs tivessem sido lançados desde então, existia uma grande expectativa para que a FromSoftware resgatasse a franquia. Mas como defendido por Masanori Takeuchi, essa não seria uma tarefa fácil.

Segundo o produtor, enquanto no Japão o público se habitou a enxergar os robôs gigantes em obras de ficção “como personagens, quase da mesma maneira como as pessoas”, no ocidente essas máquinas de guerra são vistas apenas como uma ferramenta, “apenas algo que você controla ou algo que você pilota.”

Mesmo assim, a desenvolvedora japonesa decidiu que havia chegado a hora de voltarmos ao campo de batalha e que ele aconteceria em Rubicon 3. Foi neste distante planeta em que a humanidade encontrou uma substância chamada Coral, cujo potencial energético poderia acelerar muito a nossa tecnologia e capacidade de comunicação.

Mas como acontece com qualquer fonte de energia valiosa, o Coral também passou a ser controlado por poucas corporações, enquanto os rubiconianos o tratam como uma dádiva, algo diretamente ligado à sua fé. Esse conflito de interesse tinha tudo para nos levar a um enorme conflito, o que realmente aconteceu, num evento que ficou conhecido como os “Incêndios de Íbis”.

Crédito: Divulgação/FromSoftware

Tendo o Coral como combustível, toda a superfície de Rubicon 3 foi inflamada, deixando um rastro de contaminação. Aquela catástrofe mudou profundamente o planeta e embora imaginássemos que o Coral havia acabado, quase meio século depois ele ressurge. Como era de se esperar, várias empresas se interessaram em coletar o material e com a possibilidade de enriquecimento e poder, renasceram as possibilidades de conflitos.

Será neste cenário em que acordaremos, flutuando na órbita de Rubicon 3 e prontos para faturar alguns trocados como um mercenário. Assim, prontamente acionaremos nosso Armored Core, mas sem termos autorização para pousar no planeta, seremos abatidos e cairemos em Belius, uma região formada por cidades abandonadas, desertos e rios congelados.

Com o codinome C4-621, nosso contato será Handler Walter, sujeito para quem realizaremos os mais variados trabalhos, o que basicamente significa entrar num enorme robô (não-necessariamente bípede), rasgar os campos de batalha em alta velocidade e com um pouco de sorte, sair vivo para repetir o processo.

Como um bom mercenário que somos, pouco importará a questão política que paira sobre Rubicon 3. Desde que o pagamento seja bom, num momento poderemos realizar missões para uma facção e no noutro enfrentarmos pilotos que trabalham para ela. Isso acaba tornando a progressão interessante, já que em certos pontos da campanha teremos que escolher para quem prestar serviço, o que poderá desagradar os rivais.

Infelizmente, o enredo de Armored Core VI: Fires of Rubicon não está entre os pontos fortes do jogo. Embora nos entregue alguns momentos interessantes, a narrativa acontecer através de arquivos de áudio entre as missões torna a experiência pouco imersiva, o que é agravado pelo fato de estarmos no controle de um personagem que nunca fala.

Armored Core VI: Fires of Rubicon

Crédito: Divulgação/FromSoftware

Mas se o jogo peca por nos manter pouco motivados a conhecer sua história, o mesmo não pode ser dito sobre quando estamos controlando os mechs. Assim como nos demais títulos criados pela FromSoftware desde a ascensão de Hidetaka Miyazaki, aqui a jogabilidade também foi lapidada ao extremo, com as incursões que faremos nas fases sendo quase sempre uma mistura de deleite com frustração.

Sim, Armored Core VI: Fires of Rubicon também é um jogo com um nível de dificuldade elevado, especialmente quando precisamos enfrentar um chefe que mal cabe na tela ou nos deparamos com outro Armored Core. Eu perdi as contas das vezes em que me peguei com as mãos suando, tudo por causa da tensão que estava sofrendo enquanto tentava (pela enésima vez) derrubar algum inimigo.

Aqui também avançaremos pelos estágios sem sabermos ao certo o que encontraremos logo a frente, mas se num Dark Souls somos incentivados a progredir com extrema cautela, em Fires of Rubicon tudo acontecerá de maneira muito mais frenética, com o nosso mech se tornando alvo fácil se optarmos por movimentos mais lentos.

Crédito: Divulgação/FromSoftware

Outro fator que o difere muito dos jogos mais recentes do estúdio é a sua verticalidade. Com os robôs podendo voar por curtos períodos, será muito importante sabermos quando deixar o solo, já que no ar será mais difícil sermos alvejados e muitas vezes um ataque aéreo que desferirmos terá um maior impacto.

Além disso, nosso Armored Core poderá ser equipado com até quatro armas, uma para cada botão no ombro do controle. Outra dificuldade está em alguns desses equipamentos precisarem de um tempo de resfriamento para serem usados novamente, fazendo com que saber qual o momento certo para acioná-los se mostre um desafio que só será superado com bastante treinamento.

Agora, some a tudo isso uma interface repleta de informações, com os dados mostrados na trela indo desde o altímetro até a velocidade do nosso mech, passando pela munição, a barra que nos permite realizar esquivas e a nossa energia. Como ler tudo isso enquanto você está sendo alvejado por todos os lados? Boa sorte!

Armored Core VI: Fires of Rubicon

Crédito: Divulgação/FromSoftware

Mas não pense que o Armored Core VI: Fires of Rubicon te fará sofrer apenas quando tiver que derrubar um gigantesco chefe ou atravessar uma cidade defendida por poderosas máquinas controladas por outros mercenários. O gerenciamento de recursos também será muito importante.

Isso porque, antes de cada missão, nos será informado quanto receberemos para concluí-las, mas o que nunca saberemos é o quanto gastaremos enquanto estivermos no campo de batalha. Sim, o jogo será impiedoso aos nos cobrar pelo conserto do nosso Armored Core, assim como pela munição gasta. Isso nos faz ter que pensar bem antes de partir para o ataque, mas quando nossa vida estiver perto de acabar, a busca por um maior lucro inevitavelmente ficará em segundo plano.

Quanto ao dinheiro restante após cada missão, ele será gasto na customização do nosso mech, um aspecto que pode parecer irrelevante num primeiro momento, mas que provavelmente lhe roubará algumas horas. Escolher as melhores armas ou partes do robô é algo fascinante e que poderá mudar consideravelmente a jogabilidade.

O que adiciona alguma estratégia a essa parte do jogo é que não basta ter a quantia necessária para montar um robô que sonhamos. Com eles contando com limitações de peso e pontos de energia, às vezes teremos que renunciar a um tipo de perna para podermos equipar um tronco mais forte, ou optar por um braço mais feio, apenas para podermos carregar uma arma que gostamos.

E por falar na parte visual, não estranhe se você perceber que dedicou um bom tempo só para deixar sua máquina de guerra com uma aparência mais invocada. Isso pode ser feito escolhendo a cor de várias partes independentes, mas também optando por uma textura diferentona ou um material mais ou menos refletivo. Quer encher o mech com adesivos? Sem problema, o limite será a sua criatividade e depois, ainda será possível compartilhar suas criações com a comunidade.

Crédito: Divulgação/FromSoftware

Já para quem temia que o Armored Core VI: Fires of Rubicon adotasse muitas ideias do estilo Soulslike, há boas e más notícias. Nele também será fundamental estudar os ambientes e inimigos, com a ideia de tentativa e erro se fazendo bastante presente. Às vezes será melhor admitir nossa inferioridade perante os inimigos, voltar para a base e tentar outras armas. Em outras ocasiões, utilizar uma armadura mais leve nos deixará mais fraco, mas a velocidade maior poderá facilitar muito o confronto devido a maior movimentação.

Outra característica que ser tornou marca registrada do estúdio e que volta neste jogo é que para termos sucesso, será necessária muita precisão. Saber o momento certo de realizar um desvio ou atacar quando o inimigo abrir uma brecha será muito importante, sendo fundamental ficarmos de olho no Attitude Control System (ACS), uma barra que se encherá conforme um mech for atacado e que, quando completa, o deixará vulnerável.

Esse sistema é parecido com o que tínhamos no Sekiro: Shadows Die Twice, o que não chega a ser uma grande surpresa. O responsável pelos combates naquele jogo foi Masaru Yamamura, que em Fires of Rubicon responde como diretor. Isso também explica uma abordagem mais ofensiva nas batalhas, algo diferente dos Dark Souls, onde quase sempre estamos mais preocupados em não sermos aniquilados.

Contudo, algo que eu adoraria ter sido aproveitado dos jogos anteriores da FromSoftware é o design dos níveis. Ao invés de se passar num enorme mundo com as áreas interconectadas, Armored Core VI: Fires of Rubicon se passa em fases isoladas, com as missões acontecendo em locais delimitados e quase não nos dando espaço exploração.

Armored Core VI: Fires of Rubicon

Crédito: Divulgação/FromSoftware

Por um lado, isso é bom, pois permitiu que os desenvolvedores criassem ambientes mais detalhados e felizmente a sensação de grandiosidade nunca desaparece. Seja num deserto, a beira de uma represa ou numa cidade, a escala foi muito bem trabalhada, com o nosso mech passando por cima de carros ou vagões de trens como se fosse brinquedos, mas ainda assim sendo muito menor que algumas máquinas de guerra que cruzarão o nosso caminho.

Eu também senti falta de um elemento muito importante nos Soulslike da empresa, que é a capacidade de “invocar” outros jogadores para enfrentarmos os chefes. Isso poderia tornar as batalhas mais fáceis e até mais interessantes, mas talvez Yamamura tenha preferido se manter mais fiel às origens da série Armored Core, o que podemos dizer que foi alcançado com sucesso.  

Com o Armored Core VI: Fires of Rubicon, seus criadores conseguiram entregar um excelente jogo. Uma experiência desafiadora, capaz de tirar o fôlego até dos maiores fãs e que, além de provar que a franquia não ficou presa ao passado, é acessível a ponto de abrir as portas para uma nova leva de admiradores. Um título para apaixonados por mechs, pela FromSoftWare e principalmente, por ótimos jogos de ação.

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