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A influência (e importância) de Hidetaka Miyazaki

Eleito pela revista Time como uma das pessoas mais influentes do ano, Hidetaka Miyazaki foi apenas o segundo game designer a receber tal honra

51 semanas atrás

Anualmente a revista Time divulgada uma lista com as 100 pessoas mais influentes, uma tradição já bastante aguardada pelos leitores e por algumas das figuras mais importantes do mundo. Porém, quando se trata dos possíveis candidatos a figurarem nesta seleção, alguém ligado a criação de jogos, como Hidetaka Miyazaki, não costuma estar entre os favoritos.

Hidetaka Miyazaki

Crédito: Reprodução/Time Magazine/FromSoftware

Homenageando desde políticos até atletas e passando por grandes empresários ou artistas, a lista da Time leva em consideração, ao menos oficialmente, o quão influente essas pessoas foram no ano anterior, independentemente de sua popularidade ou poder. Então, para justificar a escolha, a revista coloca outra figura importante da área para falar sobre ela e no caso de Hidetaka Miyazaki, quem fez as honras foi Neil Druckmann.

Um declarado fã das criações do presidente da FromSoftware, o criador da série The Last of Us disse recentemente que pretende produzir jogos que contem com enredos menos explícitos e ao descrever o game designer japonês, Druckmann fez um belo resumo do que podemos esperar encontrar nas suas obras.

“A primeira vez que joguei um dos jogos de Hidetaka Miyazaki, fiquei infeliz. Eu continuava morrendo seguidas vezes no primeiro inimigo. Mas quando desacelerei minha abordagem, prestando atenção aos detalhes, de repente deu um clique. Consegui derrotar o primeiro inimigo e avançar mais pelo jogo. Mereci o meu progresso e senti uma espécie de adrenalina! E à medida que avançava pelo jogo fui muito mais deliberado e cuidadoso na forma como explorei o seu mundo. E em troca, o mundo me recompensou com tensão, beleza e surpresas.”

Neil Druckmann então falou sobre como o Elden Ring se mostrou um grande embaixador para os vídeos games e como eles podem fornecer sentimentos únicos ao público, algo que uma mídia passiva como a TV jamais será capaz. Para ele, “os jogos de Miyazaki fazem o jogador se sentir realizado e inteligente,” muito por não explicar a mecânica e confiar que as pessoas a descubram por conta própria.

Elden Ring - Hidetaka Miyazaki

Crédito: Divulgação/FromSoftware

Contudo, mesmo em se tratando de um jogo aclamado pela crítica e que vendeu mais de 20 milhões de cópias, seria justo nomear Hidetaka Miyazaki como uma das 100 pessoas mais influentes de 2023? A resposta imediata seria não, ainda mais ao sabermos que ele foi apenas o segundo game designer a receber tal honra, com o outro sendo ninguém menos que Shigeru Miyamoto, lá em 2007.

Mas o que justificaria a presença do japonês ao lado de figuras da cultura POP como Neil Gaiman, Michael B. Jordan, Beyoncé, Pedro Pascal ou Angela Bassett? Pois para responder a esta pergunta, precisamos contar um pouco da forma quase por acaso como ele entrou para a indústria de games.

Formado em Ciências Sociais pela Keio University, Hidetaka Miyazaki começou a trabalhar como gerente de contas da Oracle Corporation. Porém, a grande mudança em sua vida aconteceu em 2001, quando um amigo lhe recomendou jogar uma obra de arte chamada Ico, de Fumito Ueda. Encantando pelo que estava experimentando, ele passou a cogitar uma mudança para o desenvolvimento de jogos, mas sem qualquer experiência na área e já com 29 anos, seria difícil conseguir uma vaga em alguma empresa, mas a FromSoftware decidiu lhe dar uma chance.

No estúdio, aquele inexperiente sujeito passou a fazer parte da pré-produção do Armored Core: Last Raven e conforme o desenvolvimento avançava, ele ganhou o cargo de codesigner, ao lado de Tatsuya Kawate, Wataru Murakami, Yasutaka Kimura e Tsuyoshi Satoh. Aquela função lhe rendeu tanta visibilidade, que Miyazaki seria convidado a dirigir outro capítulo da franquia Armored Core, o For Answer.

Armored Core: For Answer (Crédito: Reprodução/Vonschlippe/Reddit)

Após aquelas experiências, o agora game designer ficaria sabendo da existência da criação interna de um RPG de fantasia, algo que os executivos da empresa viam como um iminente fracasso. Percebendo ali uma boa oportunidade para assumir um projeto, já que o insucesso era esperado, o sujeito resolveu encarar o desafio do que ficaria conhecido como Demon's Souls.

Alguns anos se passaram até que o desenvolvimento daquele jogo fosse terminado e quando uma apresentação foi feita na Tokyo game Show de 2009, a recepção não foi das melhores. Para piorar, inicialmente o jogo exclusivo para o PlayStation 3 vendeu pouco e a desconfiança da alta cúpula da FromSoftware parecia justificada.

Porém, conforme os meses foram passando, aquele título repleto de inovações foi chamando a atenção, fazendo com que a Atlus fechasse um acordo para publicá-lo nos Estados Unidos e a Bandai Namco fizesse o mesmo na Europa. Aquele foi o empurrão que a criação de Hidetaka Miyazaki tanto precisava, com o jogo se tornando um clássico cult e que não considero exagero afirmar, revolucionando a indústria.

Com as desenvolvedoras sendo criticadas pela maneira automatizada como muitos jogos vinham sendo produzidos e com o nível de dificuldade em nada lembrando os primórdios, Demon's Souls mostrou que a essência dos videogames ainda podia render ótimas aventuras. Além disso, a forma brilhante como ele incluía o multiplayer num jogo com estilo solo fascinou muita gente.

Crédito: Divulgação/FromSoftware

Com o sucesso estabelecido, a FromSoftware aproveitaria as ideias implementadas naquele jogo para dar início à série Dark Souls, que por ser multiplataforma e melhorar o antecessor em muitos aspectos, fez com que a importância de Miyazaki para a indústria se tornasse muito maior.

Depois ele ainda dirigiria os igualmente excelentes Bloodborne e Sekiro: Shadows Die Twice, com o seu estilo passando a servir como referência para inúmeros jogos. Além disso, são poucos os game designers que podem se orgulhar por terem criado um gênero ou subgênero e hoje vemos muitos estúdios tentando replicar a sua genialidade, com eles raramente conseguindo se aproximar do nível de qualidade que apenas o próprio Hidetaka Miyazaki conseguiu superar.

Pois foi com o Elden Ring que o japonês mostrou que sua fórmula poderia ir além, com o jogo lançado para PC, Xbox Series S|X e PlayStation 5 sendo considerado por muitos não como um dos melhores de 2023, mas de todos os tempos. Portanto, por mais que a sua influência no ano passado possa ser questionada, não há como negar a importância que sua carreira teve para os games, algo que ainda deverá refletir por muito tempo.

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