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Dragon's Dogma 2 — Em nome da imersão

Melhorando muito do que já havia no anterior, Dragon's Dogma 2 é um jogo extremamente imersivo e que não te poupará pelos erros cometidos

01/04/2024 às 10:29

Mais de uma década após o lançamento do original, Dragon's Dogma 2 chega como a continuação daquele que considero um dos melhores jogos da sétima geração de consoles. O desafio era grande, mas apesar de algumas duvidosas escolhas de design, Hideaki Itsuno conseguiu tornar aquilo que já era muito bom, ainda melhor.

Dragon's Dogma 2

Crédito: Divulgação/Capcom

Em Dragon's Dogma 2 assumiremos novamente o papel de um Arisen (traduzido como Nascen por aqui), uma pessoa escolhida por um dragão e que terá papel importante numa grande intriga política. Porém, se antes a aventura se passava na ilha de Gransys, agora ela acontecerá em duas novas regiões, Vermund e Battahl.

Com um mapa muito maior que o do primeiro jogo, o que não falta nesta continuação são coisas para fazer. A todo momento esbarraremos em algum personagem que nos pedirá um favor ou seremos motivados a desviar nosso caminho para pegar um baú ou vasculhar uma caverna em busca de itens.

Pois são messes momentos em que o Dragon's Dogma 2 mais se destaca. Ao nos soltar num enorme mundo aberto e sem oferecer muitas direções e barreiras, é difícil não nos sentirmos parte de um grupo de bravos heróis, assim como não temer pelas nossas vidas. Lá, os perigos estão por todos os lados e por mais forte que nos tornemos, um mero deslize poderá acabar rapidamente com a nossa equipe.

Essa era uma característica que já existia no antecessor e que Itsuno e sua equipe conseguiram manter. Para o bem ou para o mal, esse é um jogo que raramente nos pegará pela mão e nos conduzirá até o objetivo. Para isso ele rompe com muitos conceitos adotados nos últimos anos, o que aumenta a imersão, mas torna nosso progresso mais lento e desafiador.

Se na maioria dos jogos de mundo aberto temos um sistema de fast travel, em Dragon's Dogma 2 ele até existe, mas não é tão acessível. Ou seja, se você quiser se teletransportar para alguma cidade que já visitou, precisará usar uma pedra mágica e como elas não existem em profusão, será preciso pensar bem antes de gastar um recurso tão valioso.

Dragon's Dogma 2

Crédito: Divulgação/Capcom

Contudo, é na maneira como o jogo nos passa poucas informações que reside aquilo que muitos poderão considerar seu maior defeito e para ilustrar isso, contarei algo que aconteceu enquanto visitava a principal cidade.

Conforme fui me inteirando da disputa política que pairava sobre o lugar, um sujeito me passou três missões de infiltração: roubar um documento nos aposentos da rainha, investigar um farsante num baile de máscara e conversar com um condenado que estava na prisão.

Podendo realizar as tarefas na ordem que quisesse, resolvi ir primeiro visitar o prisioneiro. Invadir o lugar pela porta da frente não parecia uma boa ideia, então passei a procurar outra entrada e encontrei uma passagem pelos esgotos. Ali não tive muitos problemas, conseguindo entrar e sair sem alertar os guardas, já que eles não se importaram em me ver andando entre as celas.

Na sequência pensei no baile de máscaras, mas eu precisaria de uma roupa de nobre e desisti da ideia ao descobrir que ela me custaria algumas centenas de milhares da moeda local. Restava roubar o documento, o que só poderia ser feito a noite, mas esqueci de um detalhe: eu teria que falar com um guarda que facilitaria minha entrada.

Assim, invadi o castelo por uma entrada lateral e ao me verem no jardim, os guardas me atacaram, imobilizaram e enviaram para a prisão. Fugir não foi difícil, mas o que aconteceria a seguir quase me fez abandonar o progresso. O motivo para isso foi que conforme andava pela cidade, as pessoas me atacavam, fruto do crime que eu havia cometido.

Crédito: Divulgação/Capcom

Mesmo indo para outras cidades e esperando o tempo passar, nada fazia com que a marca de um criminoso saísse das minhas costas. Eu já estava ficando desesperado, não queria ter que começar uma nova campanha, mas continuar daquela maneira era impossível, pois não conseguia fazer nada, apenas revidar e matar todos os personagens.

A impressão foi de que o comportamento se tratava de um bug, mas após pesquisar na internet, vi uma pessoa sugerindo que dormisse por duas ou três noites seguidas, o que de fato limpou a minha imagem. O problema é que em momento algum o jogo me explicou isso, nunca recebi uma informação sobre o que fazer no caso de ser perseguido e se não fosse por ter encontrado isso num fórum, poderia ter desistido.

De certa forma, considero louvável a maneira como estamos sempre aprendendo com o Dragon's Dogma 2 e como ele nos instiga a experimentar e arriscar. Porém, quem não gosta de se frustrar provavelmente passará por situações irritantes no jogo, principalmente porque até o momento não temos uma opção para criar vários saves.

Quanto as missões que me foram dadas, não quero estregar a surpresa de ninguém, mas posso dizer que se realizadas numa sequência específica, elas serão bem fáceis e por sorte acertei sem recorrer a um guia. Novamente, essa forma de nos deixar às cegas é algo que pode ser considerado bom por alguns, mas horrível por outros.

Quer outro exemplo? Durante as minhas andanças vi uma caverna perto do caminho em que estava e resolvi explorá-la. La encontrei vários goblins que não mostraram muita resistência, assim como baús com itens e armas. Entre essas armas estava uma específica e como não podia usá-la devido à minha classe, ao voltar para a cidade fiz o que sempre faço em RPGs, a vendi. Acontece que um bom tempo depois recebi como missão ir até aquele lugar para encontrar uma arma que me daria acesso a uma nova classe e você já deve ter imaginado que arma era.

Sim, o jogo me deu acesso antecipado a um item fundamental para uma missão, permitiu que o vendesse e nunca me avisou das consequências disso. Seria isso uma falha de design? Talvez, mas tamanha liberdade é algo que adoro nos jogos e ali percebi que eu deveria tomar muito cuidado com cada ação que realizasse no Dragon's Dogma 2. Acredite, podemos até matar personagens que nos dariam alguma missão no futuro, então sempre pense antes de atacar alguém.

Crédito: Divulgação/Capcom

Outra dica que posso dar para facilitar sua vida é: preste muita atenção nas conversas e nas cenas não-interativas. Em boa parte das vezes teremos alguma indicação de como proceder, com quais pessoas falar ou qual caminho seguir. Porém, muitas dessas informações não ficarão guardadas na aba de missões, então pode ser até o caso de jogar com um caderninho ao lado.

Para mim, isso é algo positivo, pois acredito que contribui muito para a imersão e faz com que, mesmo sabendo que seremos os responsáveis por salvar aquele universo, não significa que somos superpoderosos, muitos menos que estamos acima do bem ou do mal. Se você cometer algum erro, seja ele proposital ou não, prepare-se para arcar com as consequências — e isso é muito legal!

Outra característica muito interessante e que já existia no primeiro jogo é o sistema de Peões. Como um Nascen, uma das nossas habilidades é poder invocar pessoas para nos ajudar, seres que habitam entre mundos e que podem ser “contratados” por uma certa quantidade de Cristais da Fenda. O detalhe é que esses Peões são criados por outras pessoas, contando com habilidades e aparências específicas.

Ao todo, podemos contar com a companhia de três desses personagens, sendo que um deles nós mesmos criaremos e ele também poderá ser invocado por outros jogadores, o que nos renderá itens e em alguns casos, dicas de locais encontrados enquanto se aventuravam em outras partidas.

Dessa forma, Dragon's Dogma 2 entrega uma porção multiplayer incomum, mas que se encaixa tão bem no enredo e na jogabilidade, que em momento algum prejudica a imersão. Além disso, explorar o seu mundo com essas companhias faz com que as caminhadas não se tornem entediantes, já que eles estão sempre fazendo comentários e demonstrando alguma inteligência.

Crédito: Divulgação/Capcom

Mas se as escolhas de design do pessoal da Capcom podem dividir opiniões, o que não deixa espaço para dúvidas é a parte técnica do jogo. Visualmente o título é bonito, com boas animações tanto para os personagens quanto para os monstros, com seus cenários vastos e detalhados também se destacando. Porém, isso cobra um preço bem alto na questão do desempenho.

Com uma taxa de frames muito instável, é nítido o quanto o PlayStation 5 sofre para rodar o Dragon's Dogma 2, mas não pense que essa é uma exclusividade do console da Sony. Mesmo em computadores mais parrudos é fácil encontrar reclamações por parte dos jogadores, um problema que já afetava o primeiro jogo quando ele chegou ao Xbox 360 e PlayStation 3.

Segundo a desenvolvedora, eles estão trabalhando para estabilizar os frames, o que deverá acontecer com futuras atualizações. Contudo, da maneira com o jogo se encontra atualmente, não há como não lamentar o que nos foi entregue e sonhar com o dia em que ele funcionará de maneira muito mais suave.

Dragon's Dogma 2

Crédito: Divulgação/Capcom

Ainda assim, Dragon's Dogma 2 é um jogo que tem me divertido muito e que sei que ainda passarei muitas e muitas horas no seu mundo. Eu aguardei com muita ansiedade por essa continuação e fico feliz por Hideaki Itsuno ter conseguido levar sua visão adiante, melhorando um conceito que me fascinou há 14 anos e que provavelmente continuará despertando o meu interesse pelos próximos meses.

Um jogo que me deixou com raiva em algumas situações, frustrado em outras e maravilhado a cada descoberta. Guardadas as devidas proporções, Dragon's Dogma 2 funciona como os títulos do passado, quando tínhamos que descobrir quase tudo na raça ou recorrer a ajuda de outras pessoas simplesmente para entender o que está acontecendo. Pode parecer um retrocesso, mas prefiro ver como uma bela maneira de nos oferecer liberdade.

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