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NASA: Jeanette Epps voará para a ISS em 2024, 6 anos após corte

Astronauta Jeanette Epps foi cortada de missão em 2018; NASA nunca explicou o motivo, o que lhe rendeu acusações de racismo

31 semanas atrás

Não é segredo que a NASA tem pavor a escândalos de todo tipo, a agência sempre trabalhou para cortar pontas, ou varrer para debaixo do tapete, qualquer coisa que possa render matérias nos sites e jornais sensacionalistas dos Estados Unidos, e como regra, ela nunca comenta nada a respeito de suas decisões internas.

A engenheira aeroespacial Jeanette Epps estava escalada para voar rumo a ISS (Estação Espacial Internacional) em junho de 2018, mas acabou cortada e substituída, o que seria entendido como um dia normal na agência, não fosse um detalhe: ela é negra.

Equipe da missão Crew-8, que será lançada em 2024. Da esq. para a dir. : cosmonauta especialista Alexander Grebenkin, piloto Michael Barratt, comandante Matthew Dominick, e especialista Jeanette Epps (Crédito: Divulgação/NASA)

Equipe da missão Crew-8, que será lançada em 2024. Da esq. para a dir. : cosmonauta especialista Alexander Grebenkin, piloto Michael Barratt, comandante Matthew Dominick, e especialista Jeanette Epps (Crédito: Divulgação/NASA)

Claro, a NASA, nunca soltou um "a" sobre tal decisão, que é o procedimento padrão, mas em tempos de maior representatividade, o caso foi entendido como racismo e rendeu muitas críticas. Talvez por isso (ou não), Epps ficou no gelo por 6 anos (muito provavelmente devido ao caso ter se tornado público) e só agora, terá a chance de voar.

NASA, Ride, Epps e o tapete

Claro que por ser uma agência centenária, se levarmos em conta sua antecessora NACA, o comitê de aeronáutica criado em 1915, a NASA acumula um histórico de episódios controversos que atravessou décadas, no que o órgão foi se ajustando conforme o passar do tempo, mas muitos casos foram parar debaixo do tapete. De cabeça, podemos citar a puxada de tapete no programa Mercury 13, e a física Sally K. Ride (1951 — 2012), a primeira astronauta mulher dos EUA.

Ela voou em 1983 com apenas 32 anos, mas como o time de engenheiros da NASA com o qual trabalharia era formado exclusivamente por homens, eles desconheciam completamente a logística de quantos absorventes íntimos seriam necessários para uma missão de uma semana, mas esse nem foi o maior "problema":

Para desespero da NASA e do então presidente Ronald Reagan, Ride era lésbica.

Isso não poderia NUNCA vazar para o público, era preciso vender a imagem da "mulher ideal" americana no espaço, no estilo comercial de margarina dos anos 1980 mesmo. Solução: a agência arranjou para Ride um casamento de fachada com o também astronauta Steven Hawley em 1982.

No ano seguinte, Ride subiu como especialista a bordo do ônibus espacial Challenger; em sua segunda e última missão, em 1984, ela teve a companhia de outra mulher, Kathryn D. Sullivan, a primeira vez em que duas subiram juntas.

Ride e Hawley se separaram em 1987, mas dois anos antes, ela iniciou um longo relacionamento com a tenista Tam O'Shaughnessy. Elas viveram juntas até a morte de Ride em 2012, e só aí toda a história veio à tona; desde então, ela é reconhecida como a primeira astronauta LGBTQIA+ a ir ao espaço, independente do gênero e/ou nacionalidade.

Sally Ride a bordo da USS Challenger, durante a missão STS-7 em 1983 (Crédito: Divulgação/NASA)

Sally Ride a bordo da USS Challenger, durante a missão STS-7 em 1983 (Crédito: Divulgação/NASA)

O caso de Jeanette Epps não é nem de longe tão polêmico (para a agência) quanto o de Ride; o que se sabe, via informações oficiais divulgadas pela NASA, é que ela estava escalada para a Expedição 56/57, mas foi substituída por Serena M. Auñón-Chancellor, que ficou 196 dias em órbita, entre junho e dezembro de 2018. E só.

Curiosamente, a substituta de Epps na ISS teve seu próprio rolo, com a Roscosmos a acusando de ter aberto um buraco da cápsula Soyuz intencionalmente, e as acusações foram de "crise psicológica" a "estresse por um relacionamento romântico mal sucedido". No fim, ficou por isso mesmo.

Como de costume, a NASA não deu nenhuma satisfação sobre o que teria motivado o corte de Epps da missão na ISS, como normalmente (não) o faz, mas seu irmão foi a público alegando que ela sofria discriminação dentro da agência, por encampar um ambiente mais representativo para minorias, e que o corte teria sido represália.

Isso foi o suficiente para que a NASA fosse alvo de protestos por um caso flagrante de racismo, mas, ao mesmo tempo, Chancellor é filha de um cubano que fugiu para os EUA em 1960, logo, a agência teria trocado uma minoria por outra, para não dar tanto na vista.

Quando Epps veio a público sobre o caso, ela se limitou a dizer que "não podia especular" sobre o ocorrido, os procedimentos sobre quem sobe e quem fica no chão, são relativos ao órgão e tão somente. A astronauta afirmou que cortes são comuns e já ocorreram por causas médicas, como acidentes no treinamento (ela citou um caso de costela quebrada, sem dar nomes, como exemplo), mas do seu caso em particular, ela não elaborou. Ou a NASA não lhe disse nada, ou ela sabia o motivo, mas não quis jogar no ventilador.

De qualquer forma, o circo estava armado. A agência não cortou Epps do programa espacial, visto que ela havia passado com louvor nos treinamentos da NASA e da Roscosmos, e é uma engenheira aeroespacial de ponta, tendo inclusive trabalhado para a CIA como Oficial Técnica de Inteligência, e chegou a ser deslocada para o Iraque, entre 2003 e 2009, quando foi selecionada para o programa espacial.

Porém, a NASA, que chegou a aposentar astronautas por um punhado de selos que foram ao espaço sem autorização, teria mantido Epps no gelo devido às dimensões que o caso tomou ao se tornar público, não como um castigo (isso também), mas para permitir que a poeira baixasse.

Time de backup das Expedições 54/55, de 2017; da esq. para a dir.: Jeanette Epps, cosmonauta Sergey Prokopyev, e Alexander Gerst da ESA (Crédito: Divulgação/Roscosmos)

Time de backup das Expedições 54/55, de 2017; da esq. para a dir.: Jeanette Epps, cosmonauta Sergey Prokopyev, e Alexander Gerst da ESA (Crédito: Divulgação/Roscosmos)

Só agora, com o anúncio da Crew-8, agendada para agosto de 2024 em uma cápsula Crew Dragon, ela terá a chance de fazer parte da equipe de astronautas na ISS, que contará inclusive com um cosmonauta, sinal de que as rusgas com a Roscosmos estão diminuindo, mesmo com a agência russa dando suporte à invasão da Ucrânia.

A NASA diz apenas que o voo de Epps em 2018 foi cancelado "para dar tempo à Boeing" de refinar o lançamento tripulado da cápsula Starliner, a "obra de igreja" da vez, que só teve testes autômatos até agora; todo mundo da Expedição 56/57 subiu nas Soyuz, mas só ela foi substituída.

De qualquer forma, a única certeza nessa história é que a NASA continuará não comentando nada, e o público que a interprete como quiser.

Fonte: NASA

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