Ronaldo Gogoni 11 semanas atrás
Invasão Secreta é a mais nova minissérie original do MCU para o Disney+, e o tão esperado projeto centrado em Nick Fury (Samuel L. Jackson), ex-diretor da SHIELD e ex-maior espião do mundo, tendo que enfrentar, quase sozinho, uma conspiração dentro dos mais altos escalões do poder mundial.
A série, que lida com consequências diretas dos eventos vistos em Capitã Marvel, é de longe a mais séria de todas as produções da Marvel Studios em 15 anos, mais até que Capitão América 2: O Soldado Invernal, que tinha uma ou outra piada. Aliás, o ritmo de thriller de espionagem é compartilhado entre as duas obras.
Afinal, do que se trata Invasão Secreta? O MCU finalmente conseguiu um lugar na mesa dos adultos? Confira a seguir nossa resenha, com alguns SPOILERS, baseada nos dois primeiros episódios da minissérie, de um total de seis.
A série abre com o agente Everett K. Ross (Martin Freeman, visto em Capitão América: Guerra Civil e nos dois Pantera Negra) rastreando um agente aparentemente maluco, que fala de uma conspiração skrull na Terra. Os alienígenas metamorfos estariam criando agitação e tentando escalar conflitos em todo o globo, ao nível de uma Terceira Guerra Mundial.
O agente Prescott ataca Ross, pensando ser este um skrull, que acaba matando o suposto maluco. Ele então é perseguido por outra pessoa, cai do alto de um prédio, e é encontrado pela agente Maria Hill (Cobie Smulders).
O perseguidor então se revela como o skrull aliado Talos (Ben Mendelsohn), e Ross morre, revertendo para sua forma original. Ele também era um skrull. Talvez sempre tenha sido, desde antes de Guerra Civil, e essa é a premissa da série: eles podem ser qualquer um, e não há como identificá-los.
O Everett Ross que você viu nos cinemas poderia já ser um skrull. Durma com essa (Crédito: Reprodução/Marvel Studios/Disney+)
Os eventos de Invasão Secreta acontecem anos após a reversão do blip, que trouxe de volta todos os que Thanos apagou por cinco anos, incluindo o próprio Nick Fury. Desde que reviveu, o ex-sabe tudo se tornou recluso e ausente, preferindo se esconder na estação espacial da S.A.B.E.R., que vai aparecer em The Marvels com mais destaque.
O trabalho pesado ficou por anos nas mãos de Talos, que com sua esposa Soren foram vistos pela última vez no segundo filme do Aranha, justamente disfarçados como Fury e Hill.
Problema: os skrulls antes espalhados pela galáxia estão agora todos na Terra, após atenderem um chamado de Talos para tentarem uma vida melhor aqui, e quando Fury, que usou muitos deles como espiões por anos, falhou em sua promessa de achar um novo planeta, e depois sumiu, boa parte deles ficou ressentida com o aliado traíra, e por tabela, com todos os humanos.
Alguns destes se infiltraram nos altos escalões, e hoje são as "pessoas" mais poderosas do planeta, entre primeiros-ministros, âncoras de telejornais, e até o secretário-geral da OTAN. Todos skrulls, mas a princípio, estes procuram organizar uma forma de coexistência secreta com os humanos, e afastar atenção indevida.
Nick Fury está fora de forma, quebrado e sozinho. Mas não desiste (Crédito: Reprodução/Marvel Studios/Disney+)
Já outros mais radicais, liderados por Gravik (Kingsley Ben-Adir, o Malcolm X de Uma Noite em Miami) são a célula terrorista, os responsáveis por escalar conflitos ao ponto de guerra nuclear. O motivo é simples: skrulls são imunes a radiação, e tomariam para si a Terra (no futuro, Nova Skrullos) após os humanos se obliterarem.
Estes skrulls desenvolveram métodos para roubar não só a aparência, mas também as memórias das pessoas, para tornar a substituição ainda mais indetectável. E para complicar, G'iah (Emilia Clarke, nossa Targaryen maluquete favorita), filha de Talos, é uma das agentes mais confiáveis de Gravik, responsável direto pela morte de sua mãe, Soren, o que ela não sabe quando a série começa.
Fury volta à Terra para travar o que ele chama de sua "última luta": impedir um conflito global que pode exterminar a raça humana, mas nenhum de seus antigos aliados acham que ele está apto para isso, de Hill a Talos e James Rhodes (Don Cheadle), o Máquina de Combate, aqui agindo como o conselheiro do presidente dos Estados Unidos (Dermot Mulroney).
Por fim, não esqueça da premissa: ninguém, absolutamente NINGUÉM, é 100% confiável.
A minissérie é uma adaptação da saga dos quadrinhos de mesmo nome, publicada em 2008, mas remove todos os super-humanos. A conspiração srkull é bem mais pé-no-chão, os aliens não têm poderes além da mudança de forma (ao menos, por enquanto), e assim, os alvos preferenciais são sempre humanos comuns em posições de poder e influência.
Sim, Rhodes pode muito bem ser um srkull, a armadura do Máquina de Combate é puramente tecnológica, o mesmo valendo para outros heróis menos poderosos, mas eles não são o foco. Você não vai ver um Bucky ou um Gavião Arqueiro de pele verde na série.
A proposta da minissérie é seguir o formato de thriller de espionagem, ao estilo dos filmes dos anos 1970 estrelados por Robert Redford; não por coincidência seu Alexander Pierce foi o vilão de O Soldado Invernal, e Invasão Secreta segue a mesma linguagem de roteiro.
Emilia Clarke convence como G'iah, enquanto Talos está na fossa pela morte da esposa e o radicalismo da filha (Crédito: Divulgação/Marvel Studios/Disney+)
O clima da série, aliás, é de enterro (em mais de um sentido), e por causa disso, pela primeira em 15 anos, Invasão Secreta é uma obra do MCU que não faz uma piada sequer. Talos está de luto pela esposa e p#t0 com Nick Fury, por prometer um lar para os skrulls e não manter a palavra.
Este, por sua vez, está furioso por seu amigo verde não ter lhe contado que existem mais de 1 milhão de metamorfos indetectáveis na Terra, com boa parte deles agora tramando pelo fim da humanidade e a conquista do planeta.
Hill também não acredita que Fury dá conta do pepino, o mesmo valendo para Sonya Falsworth (Olivia Colman, a rainha Elizabeth durante a 3.ª e 4.ª temporadas de The Crown), uma agente do MI6 que também não quer o ex-diretor da S.H.I.E.L.D. metido no rolo, porque ele vai mais atrapalhar do que ajudar.
Rhodes, então, está a um dedo de mandar Fury para a prisão, porque o governo dos EUA o considera diretamente responsável pelos eventos do primeiro episódio, orquestrados por Gravik.
Conclusão: o mundo está queimando, os skrulls estão atiçando o fogo, Fury só tem um copo d'água nas mãos, e ninguém vai mover um dedo para ajudá-lo.
O tom mais sério de Invasão Secreta é compreensível para a história que o produtor Brian Tucker (Linha de Ação), o roteirista Kyle Bradstreet (Mr. Robot), e o diretor Ali Selim (The Calling, a série, não a banda), que conduziu todos os 6 episódios, querem contar.
Há quem diga que a minissérie chegou tarde demais para imprimir seriedade em um multiverso "bobo e infantil", e fazem a óbvia comparação do MCU com o finado Universo Estendido da DC, capitaneado pelo "visionário" Zack Snyder, mas quadrinhos permitem qualquer abordagem. Podem ser filmes de roubo, comédias insanas, matinês descompromissadas, e por que não, thrillers como O Soldado Invernal e Viúva Negra.
Quem está acostumado a uma piada a cada 15 minutos das outras obras do MCU, arrisca achar Invasão Secreta sério demais, ainda que estejamos falando de uma trama de conquista por alienígenas. Em última análise, é algo bem próximo da grande conspiração que Chris Carter contou em Arquivo X, e que Mulder e Scully levaram anos para revelar.
Invasão Secreta confundiu a crítica. No momento em que esta resenha vai ao ar, com dois episódios exibidos, a série está com apenas 66% de aprovação no Rotten Tomatoes, contra 75% de avaliações positivas do público. Isso a classifica como uma produção controversa, em cima do muro.
Eu gostei bastante do que vi, principalmente da pegada "não confie em ninguém", o que dá um senso de urgência permanente, e as cenas de ação são muito mais viscerais. As atuações são cruas, Talos está um misto de ódio contido e piedade, enquanto Nick Fury não é nem de longe o super agente secreto confiante e reservado, cujos segredos tinham segredos, que vimos nos primeiros filmes do MCU.
Ele está velho e desiludido, mas não está disposto a entregar os pontos, mesmo com o mundo contra ele. Já Maria Hill é Maria Hill, eficiente e descontraída, e a gente a adora por isso.
Invasão Secreta não é uma obra para mudar nada, nem é o Titãs do MCU. É uma minissérie criada como uma espécie de closure para um de seus personagens mais importantes, mesmo que ele ainda vá aparecer em The Marvels, dando a ele uma tão adiada chance de ser protagonista de sua própria história, enquanto se redime por erros do passado, que explodiram na cara de todo mundo.
No mais, é uma boa mudança de clima para quem está cansado de piadinhas.
Invasão Secreta está disponível no Disney+.
4/5 Marias Hill.