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Resenha: Capitã Marvel, ou: Thanos não se sente tão bem...

5 anos atrás

Meninos, eu vi!

Não foi o que eu esperava, Capitã Marvel não é o típico filme de super-herói, é algo que eu sentia falta e mesmo a Marvel só raramente conseguia fazer: Um legítimo, delicioso filme de super-herói de gibi, e era tudo que eu queria. O futuro do MCU será maravilhoso, exceto para você, Thanos.

Vamos então a uma resenha razoavelmente sem spoilers:

1 - A Personagem

Capitão Marvel não é minha primeira escolha pra enfrentar Thanos, idealmente eu pegaria a Fênix (me too - Logan). Claro, originalmente nos quadrinhos Mar-Vell era junto com Adam Warlock inimigo do Titã Louco, mas há tanta, tanta história que seria inviável contar tudo até contextualizar os personagens. A própria Capitã Marvel é uma simplificação, como tudo no cinema.

É basicamente inviável transpor para o cinema em 2h uma saga de quadrinhos. Guerra Civil se espalha por 107 revistas em dezenas de títulos diferentes, fora o conceito central a semelhança com o ótimo filme é mínima. A Capitã Marvel mesmo começou como uma secretária loura e hoje é uma adolescente muçulmana, ou melhor, Carol Denvers, a Capitã Marvel original era uma policial negra que não tinha nada a ver com o Capitão Marvel, e se chamava Monica Rambeau:

O primeiro Capitão Marvel surgiu gracas a uma briga judicial nos Anos 60 quando a DC processou a Fawcett Comics dizendo que o Capitão Marvel (Shazam) era parecido demais com o Super-Homem. A DC ganhou e o nome ficou vago. A Marvel entrou com registro, conseguiu e em 1967 Stan Lee e Gene Colan criaram seu próprio personagem, um guerreiro Kree chamado Mar-Vell que vem à Terra como observador, descobre que o Império Kree é maligno e acaba traindo seu povo para nos defender, snif.

Em 1982 ele foi tema da primeira Graphic Novel, A Morte do Capitão Marvel, que é uma obra-prima. No mesmo ano surgiu Monica Rambeau, mais tarde tivemos Genis-Vell, Phyla-Vell, Khn'nr, Noh-Varr e em 2012 Carol Denvers, mas ela começou bem antes disso no ramo.

2 - Carol Danvers

Carol surgiu em 1968, na segunda história do Capitão Marvel. Ela era uma oficial da Força Aérea dos EUA e chefe de segurança da base onde o Capitão trabalhava sob sua identidade secreta, mas ela só se tornaria Ms Marvel em 1977, não por casamento, mas por algo quase tão destrutivo, uma explosão de uma bomba alienígena.

Ela se tornou Ms Marvel, mais tarde mudou de codinome para Binária (Warbird, no original) e finalmente Capitã Marvel. Nos Anos 80 passou por umas fases muito ruins, incluindo quando foi hipnotizada, seduzida e -se me permitem o eufemismo- estuprada por um alienígena, de quem teve um filho.

3 - Seu Maior Poder

Carol Danvers, Ms Marvel, Capitã Marvel tem um poder raro em quadrinhos: Ela não é unidimensional. Em geral os personagens tem uma característica principal e todo escritor só trabalha naquele ponto, vide quantas histórias do Aranha envolvem grandes poderes e grandes responsabilidades. Carol tem compaixão, determinação, bravata, é alegre e séria ao mesmo tempo, ela é... uma pessoa normal, não um arquétipo ambulante. Longe de ser perfeita, ela chega a ficar do lado errado várias vezes, como em um arco da Ms Marvel Kamala Khan quando Carol comandou uma milícia que basicamente aterrorizou Nova Jersey.

4 - A Carol do Filme

Você vai ver um monte de "fãs" reclamando que mudaram a personagem, que ela virou lacradora, etc, etc, que a origem não é mais a mesma. Titica de touro! A Carol Danvers teve várias versões e origens, sua história vem sendo reescrita desde sua gênese, não existe isso de "versão definitiva" em quadrinhos, mas uma coisa é certa: Ela sempre foi marrenta, decidida e senhora de si. E os fãs de verdade sempre a adoraram assim.

A heroína lacradora celebrada por finalmente colocar as mulheres em posição de destaque e respeito já fazia isso nos Anos 70, quando Carol foi trabalhar no Clarim Diário para editar o suplemento feminino que JJ Jameson odiava mas tinha que fazer.

A personagem sempre foi contestadora, a versão do filme curiosamente é bem menos militante do que a versão dos quadrinhos, por um simples motivo: ELA NÃO PRECISA SER! Ela é uma guerreira Kree de uma tropa de elite, ela é imbuída do Poder Cósmico, ela JAMAIS vai ouvir um desaforo e correr pra casa pra fazer um textão no Facebook.

Carol Danvers não é uma personagem que fala como as mulheres deveriam ser, ela É. Tudo que lemos por décadas nos gibis está lá. O Poder Cósmico, a guerreira auto-confiante até o osso, o senso de moralidade maior que o mundo.

5 - Complicada e Perfeitinha

Duas coisas realmente me impressionaram no filme. A primeira é que Danvers tem tudo pra ser uma personagem trágica, sem passado, sem saber seu lugar no mundo, perdida em um mundo que não era mais seu lar, descobrindo coisas terríveis sobre seus mentores e sua vida, mas não é um filme da DC, não é um filme pra baixo NEM um filme depressivo. Mesmo assim, não é um filme leviano. A dor de Carol não é tratada como brincadeira.

Carol adora soltar piadinhas em momentos inconvenientes para defletir perguntas pessoais, ela usa humor como um mecanismo de defesa, ao mesmo tempo em que torna as cenas engraçadas, dá mais dimensão à personagem, que não tem nada de perfeitinha, aliás. Brie Larson conseguiu passar exatamente o tom de uma personagem que parece uma Mary Sue, mas que na verdade compartimentaliza seus problemas.

Pode ficar tranquilo, Carol não é a Rey.

6 - Tem porradaria?

Tem, meninos e meninas, tem, a Capitã briga muito no braço, e muito bem. O que me deixa revoltado. Como a Marvel conseguiu colocar uma patricinha serelepe como a Brie Larson caindo na porrada com alienígenas, e aquela lesma morta do Punho de Ferro não consegue levantar o pé acima do... rodapé? Todo filme aparece ator dizendo que treinou não sei quantos meses pro papel, a Brie Larson é uma das poucas em que acredito.

E ao contrário do Punho de Ferro, que seria incapaz de bater em uma velhinha, a Capitã bate, e muito bem. A porradaria com a velhinha no metrô aliás é uma das ótimas e hilárias cenas do filme.

7 - E o que mais impressionou?

Ah sim, foi a nerfagem. Em explico: NERF é a marca daquelas armas que lançam dardos de espuma, preferidas por crianças até 8 aos e nerds acima dos 35:

Nerfar é um termo originado da indústria de videogames, significa remover poder ou efetividade de algo. Como no BF4, onde rifles de sniper não matam mais com um headshot. A Marvel costuma fazer muito isso com seus personagens. A Feiticeira Escarlate é uma das mutantes mais poderosas do Universo Marvel, ela redefiniu o UNIVERSO em um arco, no cinema ela faz muita mímica e lança luzinhas roxas.

Era de se esperar que a Capitã Marvel tivesse seus poderes reduzidos, escrever seres super-poderosos é complicado, você acaba com um Deus Ex Machina que resolve todos os problemas facilmente. A solução que encontraram pra Capitã Marvel ficou excelente, e ela não foi nerfada, muito pelo contrário. Ela é facilmente a entidade mais poderosa que já apareceu no cinema da Marvel, incluindo a Hela.

8 - Tango e Cash

A tecnologia usada nesse filme é assustadora. Samuel Jackson e Clark Gregg foram rejuvenescidos digitalmente de uma forma incrível, e não foi em uma ou duas cenas, como o Robert Downey Jr Jr no Guerra Civil, Nick Fury passa a maior parte do tempo do lado da Brie Larson, parecendo 30 anos mais jovem. O terreno que isso abre é... infinito. Pense nas possibilidades.

9 - Os Inimigos

Os Skrulls são uma raça insidiosa e maligna, com capacidades miméticas capazes de se disfarçar de qualquer coisa pessoa ou qualquer criatura, isso é explorado de forma ótima no filme, com aquele clima de "não confie em ninguém". Aliás, é uma ÓTIMA dica pro filme: Não confie em ninguém, em ninguém mesmo.

10 - Tem Mônica?

Isso sim é nerfar uma personagem. É como se o Galactus estivesse usando a roupa do Tucão.

Tem sim senhor, originalmente Maria Rambeau era dona de casa, agora a mãe de Mônica Rambeau, a Capitã Marvel original é piloto de caça, melhor amiga da igualmente piloto Carol Danvers. Mônica aparece, como uma garotinha espevitada que não parece muito assustada por ter seu mundo invadido por alienígenas e guerreiros espaciais, o que pensando bem, que criança de 12 anos se assustaria com isso?

12 - Tem Stan Lee?

Tem sim. Bem no comecinho e depois no meio do filme. Pode aplaudir, o véio merce. Poeira no olho tá liberado também.

13 - Tem cena pós-créditos?

Tem, duas. Uma logo no começo, outra no final de tudo.

14 - E o gato?

Ah, o Chewie, digo, Goose. No original o gato se chama Chewbacca, Carol adora Star Wars, mas no filme o gato não é dela, mas de outra pessoa envolvida com o projeto secreto (sempre tem um projeto secreto) que tem a ver com os caças que Carol pilota, daí o nome Goose, em referência a Top Gun, mas estranhamente o gato não morre.

15 - Ah, o saudosismo...

A platéia tem momentos de puro êxtase rindo das referências aos anos 90 que já fazem parte da memória coletiva de uma geração. É um truque barato e óbvio apelar para saudosismo, mas como diria os Vitorianos... "e daí?"

16 - É a heroína feminista que a gente merece?

Digamos assim: Você pode assistir o filme e entender como uma muito esperada e inédita mensagem de empoderamento feminino, ou pode assistir como um fã das antigas, que consome a personagem desde os Anos 80 e se alegrar com a idéia de finalmente poder ver Carol Danvers chutando bundas e usando TODO O SEU PODER CÓSMICO. Tanto faz, os fãs verdadeiros não compram essa briga, nós gostamos dos bons personagens, sejam eles homens, mulheres, árvores ou guaxinins. Se você odeia ou ama Carol só por ser mulher, está pensando pequeno.

17 - Como demoraram tanto pra fazer esse filme?

Existe uma discussão sobre filmes com heroínas femininas, alguns executivos dizem que é difícil fazer um filme bom com mulheres, outros apontam Mulher-Gato e Elektra como exemplos disso. Eu discordo. É difícil fazer filmes de super-heróis PONTO. Para cada Elektra temos um Aço, para cada Mulher-Gato tempos um Meteor Man, por mais que seja realista o cronograma de Cartman e sua franquia de filmes de super-heróis:

A Marvel tem um monte de ótimos personagens femininos que foram desenvolvidos em seus filmes, da Viúva Negra às Dora Milaje, da Shuri e da Vespa à Lady Sif. A Capitã Marvel era algo planejado desde o começo para se tornar o foco da fase final do mega-arco de mais de 10 filmes, introduzi-la antes só enfraqueceria a personagem.

Como toda Super-heroína Carol Danvers apareceu no momento em que era mais aguardada, quando mais precisávamos dela. Ela trouxe a maior arma de todas e reverteu totalmente o clima pra baixo do final de Guerra Infinita. Mais que  um S no peito, a Capitã Marvel representa a Esperança.

Cotação:

5/5 Inteligências Supremas Krees

Quando e Onde:

Dia 7 de Março, nos melhores cinemas, e nos mais ou menos também.

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