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Pantera Negra: Wakanda para Sempre – resenha com spoilers

Wakanda Para Sempre é um filme que não deveria existir, mas a morte de Chadwick Boseman mudou para sempre Sua História

1 ano atrás

Wakanda Para Sempre, ou Wakanda Forévis, como diria o Mussum, é um filme triste e inevitável, trazendo a transição do manto do Pantera Negra, e principalmente a introdução de um novo complexo e poderoso personagem no MCU.

Um dos muitos momentos tristes do filme (Crédito: Marvel Movies)

Esse foi, com certeza, o filme mais complicado da Marvel. Além de ser produzido no meio de uma pandemia, com uma protagonista antivaxxer, Wakanda Para Sempre ainda teve que lidar com a morte de Chadwick Boseman, o sujeito que deu vida a T’Challa, e era perfeito no papel.

Levado pelo câncer (fuck câncer!), Boseman teve sua última participação como o personagem no ótimo What If, e o filme teve que ser reescrito. Havia rumores de que o personagem ganharia um novo ator, já aconteceu, vide o Coronel Rodhes, no 1.º Homem de Ferro. Terrence Howard pediu dinheiro demais, ganhou bilhete azul, Don Cheadle assumiu o papel no 2.º filme e virou a cara do personagem.

Não seria possível com Chadwick Boseman, ele fez o Pantera em diversos filmes, já era muito... ele.

O jeito foi matar o personagem, com uma doença misteriosa que nem a tecnologia de Wakanda conseguiu curar. Só que não foi uma virada de página. Por mais que o funeral em Wakanda fosse uma celebração, e o povo tivesse a firme crença de que os mortos vão morar com os Ancestrais, nós no mundo real não temos tanta certeza (quer dizer, alguns até têm mas não a ponto de celebrar).

T’Challa, sua morte e as consequências pesam sobre o filme o tempo todo. O grande arco é Shuri, que agora tecnicamente é uma Princesa da Disney lidando com a morte do irmão, algo que ela se recusa a racionalizar. No melhor estilo Tony Stark, ela se enfia no trabalho, e não quer falar, conversar ou seguir adiante.

Wakanda Para Sempre Encrencada

O filme “começa” quando uma unidade de Wakanda em Mali é atacada por mercenários franceses, atrás de vibranium. Ao mesmo tempo a ONU está insatisfeita com a recusa de Wakanda de compartilhar seu vibranium e sua tecnologia.

Para piorar, um navio oceanográfico varrendo o oceano com um detector de vibranium é atacado por uma força misteriosa, que deixa vários mortos. A ONU acha que foi Wakanda, Wakanda não faz ideia, até que são confrontados pelo autor, ou pelo menos o mandante: Namor, o Príncipe Submarino.

Aqui normalmente eu escreveria a história do personagem nos quadrinhos, desde sua criação em 1939, e como ele é um dos mais complexos vilões/anti-heróis da Marvel, que apesar de uma aparência meio ridícula com asinhas nos pés, tem uma aura imperial, uma determinação implacável e ainda por cima é talarico oficial do Reed Richards, mas esse novo Namor não tem nada disso.

A vida (submarina) como ela é (Crédito: Marvel Comics)

No MCU, ao menos na realidade oficial, Atlântida não é mais Atlântida, agora é Talokan, e não fica no Atlântico Norte, mas na península de Yucatan, no México. Na versão de Wakanda Para Sempre, um deus Maia (ou Asteca, eles misturam as duas culturas) ensina para um Xamã como utilizar uma erva mágica para fugir dos conquistadores espanhóis, no Século XVI.

A tal erva transformou os astecas (ou maias, sei lá) em uma espécie de Na’Vi  de R$1,99, pele azul, guelras.

Na categoria luxo, Namora com a fantasia "Ascenção e Glória do Império Asteca" (Crédito: Marvel Movies)

Uma das mulheres do grupo estava grávida, relutou mas tomou a erva. Ela acabou dando à luz a um menino diferente, com asas nos pés, pele de cor normal (sim, pura cianofobia, me cancele) e orelhas pontudas. O jovem, que mais tarde adotaria o nome Namor pelo motivo mais ridículo possível, era mais que um híbrido, ele era... um mutante.

Sim, crianças, oficialmente temos mutantes no MCU, dito com todas as letras.

Namor, que envelhece bem devagar, mantém seu reino escondido, usufruindo do vibranium em atla-digo Talokan, e quando os humanos descobrem como detectar o metal, Namor chantageia os wakandianos para que encontrem a cientista que criou o equipamento, e a entreguem para ele.

A cientista é ninguém menos que Riri Willliams, a Iron Heart dos quadrinhos, uma estudante do MIT, gênia e cria do Tony Stark. E uma das mais chatas personagens da nova era da Marvel. Felizmente no filme ela está excelente, sem nada do ranço dos gibis.

A Rainha de Wakanda decide que é mais seguro trazerem Riri para Wakanda, mas tudo dá errado, claro, senão não tem filme. Shuri é capurada, Okoye perde seu posto de general, e Namor ataca Wakanda, que pela primeira vez enfrenta um inimigo à altura.

Não aprenderam nada com Avatar, gente azul briga bem (Crédito: Marvel Movies)

Wakanda Para Sempre tem um certo problema de ritmo, reconheço. E Shuri age como herói relutante, ela faz o que tem que fazer, mas sem entusiasmo. Nada parece realmente importar, há momentos de silêncio e espaços vazios no filme, dá pra sentir a falta que o Pantera Negra faz.

Quando a tragédia volta a cair sobre Shuri, ela se torna pura vingança, pura noite, pura Batman (RIP Kevin Conroy, de novo, fuck câncer!). Só que isso é claramente errado e será fatal para Wakanda.

Namor por sua vez tem motivações fracas, o que é péssimo. Ele tenta trazer Shuri para seu lado, dizendo que ambos os povos sofreram nas mãos dos colonizadores, mas sendo realista, Talokan não sofre na mão de ninguém tem uns 500 anos, e Wakanda não só nunca foi escravizada, como é a nação mais poderosa da Terra, se tem um povo que não se encaixa no papel de oprimido, é o de Wakanda.

Ele é mau. Não acreditem no marketing (Crédito: Marvel Movies)

Nos quadrinhos Namor odeia o povo da superfície por jogarmos nosso lixo, nossos poluentes, nossos esgotos e nossas bombas em seu reino, e nos longínquos anos iniciais do personagem, o discurso ecológico era décadas adiante de seu tempo.

Claro que todo mundo ficaria de olho grande no vibranium, mas ninguém se arriscaria a uma guerra contra Talokan OU Wakanda.

Em Wakanda Para Sempre Namor é um bom personagem mas um vilão fraco, suas motivações não convencem e seu desejo de sangue é grande demais. Sua inevitável redenção não compensa o mal que causou.

O filme também sofre do mesmo mal de Eternos: é uma ameaça global que não atrai a atenção de NENHUM outro super-grupo ou super-herói. Onde está o Bucky? O Capitão América? Não apareceram nem no funeral, caramba. Agora Wakanda, que ajudou a salvar o mundo contra Thanos, vai enfrentar seu maior inimigo e não aparece um corno pra dar uma moral? Wakanda Forever Alone.

O filme termina com Shuri tendo seu próprio momento de redenção, agora como uma Pantera Negra da Justiça, não mais uma agente da vingança. Namor aceita a misericórdia de sua inimiga, e se não terminam como BFFs, ao menos há respeito mútuo - e paz - entre os dois países.

O que funcionou

Uma das coisas que melhor funcionou não faria a menor falta: Riri Williams (Dominique Thorne). Ela cria seu próprio traje de Homem de Ferro, é uma gênia total, e tem uma ótima química com Shuri (Letitia Wright). Apesar disso, sua participação no filme é basicamente um comercial para sua série. Se todo o arco de Riri fosse removido, o filme não perderia nada.

Os Anjos da Meia-Noite – nos quadrinhos os Anjos são uma tropa de elite da tropa de elite, uma espécie de forças especiais das Dora Milaje, as já especiais forças de elite de Wakanda, compostas por mulheres guerreiras, inspiradas nas Amazonas de Dahomey, cuja história contei neste artigo aqui.

Os Anjos da Meia-Noite (Crédito: Marvel Comics)

Okoye passa o filme dizendo que o traje criado por Shuri é danado de feio, e é, mas ao mesmo tempo ele é bem fiel aos quadrinhos, o que configura a Marvel zoando a si mesma, o que é sempre legal.

Namuer, El Hombre Submarino – OK, piadas com Namor Mexicano à parte, a mitologia foi bem encaixada, os povos da Mesoamérica são muito pouco explorados, e ninguém aguenta mais lendas gregas em quadrinhos. Fora que apesar do Aquaman ter surgido 3 anos depois de Namor e ter kibado descaradamente sua origem, no cinema atual Aquaman veio primeiro e se Namor seguisse a origem clássica, tudo que é site de nerd estaria acusando a Marvel de plágio.

Tenoch Huerta Mejía cumpriu bem seu papel, vendeu o personagem, e conseguiu não ser ridículo voando com asinhas nos calcanhares.

A emoção – T’Challa morreu, Chadwick morreu, o filme não varre isso pra debaixo do tapete, o filme trata a dor como um processo, Shuri demora para aceitar que seu irmão morreu mas a vida continua. É tocante ver esse nível de respeito, mesmo prejudicando o filme como um todo. Saímos do cinema com a sensação de que a ficha caiu, e isso machuca. Mas é bom.

O que não funcionou

A Geografia – Wakanda, no MCU fica entre a Etiópia e o Quênia. Em linha reta dá uns 850Km do mar. De alguma forma Namor e suas tropas nadaram por rios essa distância toda para atacar Wakanda, que por sua vez construiu um navio e navegou milhares de Km por rios, até chegar ao mar e então rumar para Talokan.

Tá certo que o interior da África é meio atrasado, mas eles já desenvolveram o conceito de PONTES.

Wakanda, segundo a informação mais recente do MCU (Crédito: Editoria de Arte)

O Drama – Eu sei, eu sei. O drama é inevitável, mas meu, como a Rainha sofre, como a Shuri sofre, é tristeza em cima de tristeza, parece filme iraniano. Nem as piadinhas de filme da Marvel conseguem reverter o clima pesado. Se você não estiver de ótimo humor, deixe pra assistir outro dia.

A EscalaA batalha final de Aquaman é MONUMENTAL, vemos exércitos e exércitos. Em Wakanda Para Sempre a “guerra” é entre UM navio de Wakanda e meia-dúzia de talokanianos, parece até que a verba acabou. As duas nações mais poderosas da Terra resumem seu combate a uma briga de foice no convés de um navio mal-feito. A batalha do primeiro Pantera Negra é muito, muito melhor.

Wakanda Para Sempre: Conclusão

Pantera Negra: Wakanda Para Sempre é um filme que precisava ser feito, seria total desrespeito passar um pano e fingir que Chadwick Boseman nunca existiu. Isso vale um imenso desconto. É um filme que tem seus momentos divertidos, avança a história da Fase 4 do MCU, mas lida com perda de forma mais realista e desconfortável do que costumamos ver no cinema. Dessa vez não é só mentirinha, e a gente percebe, no olhar de cada ator.

Merece ser visto? Merece sim. Por T’Challa.

Trailer:

Cotação:

3/5 Namores Talaricos

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