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Eternos – Resenhamos o filme mais estranho da Marvel

Eternos é um filme ambicioso, fugindo do estilo tradicional de super-heróis, almejando uma escala quase cósmica. Fracassaram totalmente

2 anos atrás

Eternos é um filme complicado, ele tenta não ser um filme de super-herói, mas ao mesmo tempo se ancora no MCU, criando uma sensação ruim de herói contrariado. A diretora, Chloé Zhao, parece querer contar uma história, mas ao mesmo tempo é obrigada a enfiar supers no meio, e no final ambas as histórias se perdem.

Olha a cabeçada de gente (Crédito: Marvel/Disney)

ALERTA: SPOILERS, SPOILERS EVERYWHERE

O conceito de Eternos é muito bom, foi bem explicado neste artigo aqui, mas em resumo, Jack Kirby se baseou em Eram Os Deuses Astronautas?, livro do picareta autor Erich Von Daniken, que propõe que o que hoje vemos como mitologia de antigas civilizações na verdade foram contatos com extraterrestres.

Em Eternos a Humanidade foi criada por uma raça de seres super-poderosos conhecidos como Celestiais, que existiam antes mesmo das joias do Infinito. Eles semeiam vida pelo cosmos, criando estrelas e planetas.

Junto dos humanos, eles também criaram os Deviantes, criaturas irracionais que deveriam proteger a vida de predadores, mas que saíram de controle, e os Eternos, campeões que defendem a vida inteligente do ataque dos Deviantes.

Tudo fica melhor com Salmão (Crédito: Disney/Marvel)

Como disse o otimista caindo do alto do Empire State e passando pelo 119º andar, “Até aqui tudo bem”.

A mitologia de Eternos é excelente, mas é enorme. São pencas de personagens, histórias paralelas, intrigas... Chloé Zhao pula isso tudo e toma a controversa decisão de já começar o filme com tiro porrada e bomba.

Após um textinho introdutório (o que não é pecado, Blade Runner e Star Wars também usaram o recurso) caímos em uma comunidade da Idade da Pedra, sendo atacada por Deviantes e protegida por Eternos. Era pra ser emocionante, mas em 2021 uma batalha em CGI entre personagens que temos zero apego emocional, e monstros genéricos? Dá sono.

Ah, Jolie... (Crédito: Marvel/Disney)

A ação corta para o presente, Sersi, como toda guerreira imortal que se preza, trabalha em um museu. Sersi é uma Eterna com poderes de transmutação, mas não pode criar coisas vivas, exceto pétalas de flores e pássaros. Não pergunte.

Junto com Sprite, a Eterna Adolescente (literalmente) e seu namorado (da Sersi, o fato da Sprite ser uma alienígena com dezenas de milhares de anos de idade só funciona no Japão) Sersi é atacada por um Deviante. Ikaris, o líder dos Eternos aparece aos 48 do segundo tempo, espanta o bicho feio e todos decidem que há algo errado.

O filme vira um road movie sem a parte da Estrada, enquanto tentam reunir a velha turma. De cara descobrimos que Ajak, personagem de Salma Hayek foi morta um Deviante.

Sersi assume o lugar de Ajak e passa a se comunicar com os Celestiais, representados por Arishem, que como todo bom vilão de quadrinhos, revela a verdade:

  • Os Eternos foram criados para guiar e controlar o desenvolvimento de vidas inteligentes no cosmos; eles deveriam garantir planetas com populações bem grandes, isso germinaria a semente celestial que os Celestiais haviam implantado.
  • Cada planeta era um ovo cósmico que daria luz a um Celestial, extinguindo sua população no processo.
  • Não existe Planeta Olympia. Todos os Eternos foram criados na Forja Central.
  • Após cada missão a memória dos Eternos era apagada e eles achavam que aquela era sua primeira missão.
  • Eternos podem ser consertados ou substituídos, eles não são seres vivos, são robôs.

Isso mesmo. Os personagens que foram todos jogados, a gente mal começou a conhecer, uma morreu e a gente tem que se esforçar pra ter qualquer apego... são robôs. Westworld total, tem até uma cena com milhares de robôs-genéricos prontos pra assumir o papel dos Eternos.

O visual dos Celestiais ficou lindo, mas estranhamente eles não ficaram imponentes (Crédito: Marvel/Disney)

É revelado que chegou o momento da Terra chocar, a humanidade tem mais sete dias de vida.

Sersi e outros Eternos se rebelam, já Ikaris fica do lado dos Celestiais. Os rebeldes criam um plano para evitar que o Celestial dentro da Terra desperte. Ocorre a tradicional batalha entre os Eternos do Bem e os Eternos do Mal, e no final conseguem formar a Unimente, unindo os poderes da maioria deles.

Isso dá um power-up em Sersi, que transforma o Celestial emergente em um astronauta de mármore. Terra salva, the end, Ikaris, em um show de originalidade voa em direção ao Sol e comete suicídio.

Arishem aparece em seguida, recolhe Sersi e sua turma, e diz que suas memórias serão usadas para julgar a Humanidade, e determinar se serão culpados pela morte de um Celestial.

Nas cenas pós-crédito aparecem Starfox e Pip, o Troll, e Daniel Whitman, namorado de Sersi tira de uma caixa a Espada de Ébano, revelando que ele é o Cavaleiro Negro.

===fim da sinopse===

Dito assim parece uma história épica, e tinha tudo pra ser. O conceito de deuses astronautas mudaria tudo, mesmo no Universo Cinematográfico Marvel. No filme é algo dito totalmente de passagem, ninguém liga. Apesar de visualmente lindo, falta grandiosidade ao filme de Chloé Zhao, falta ambição.

E sim, é complicado dizer isso de um filme que termina sua primeira cena épica ao som de Time, do Pink Floyd, mas depois a trilha não emplaca. Não existe nada pior do que enfiar músicas clássicas em um filme mas não manter o estilo. Chloé quis ser James Gunn sem ser James Gunn.

Apostar em repetir Guardiões da Galáxia, aliás, foi um dos principais erros de Eternos. Em princípio o conceito é o mesmo, temos um grupo de aliens que ninguém ouviu falar, jogados no meio da ação, mas James Gunn se deu ao trabalho de estabelecer uma pucta conexão emocional com o espectador, todo mundo simpatizou com Peter Quill, ele é a âncora que guia o filme.

Eternos não tem isso. Nossos heróis são imortais, depois descartáveis, depois capangas dos vilões, depois não conseguem se entender entre si. Mesmo Phastos, que tem uma família e quer protegê-los, sai como egoísta. Seres imortais não devem se apegar a frágeis e efêmeros humanos.

Thena, a personagem de Angelina Jolie sofre de Alzheimer Espacial, ou Mahd Wy'ry, uma doença causada por excesso de memórias, o que não faz sentido visto que os Celestiais formatam todo mundo após cada missão. Ela se torna uma incógnita, atacando furiosamente seus amigos, quando tem algum surto.

Mas e o Thanos?

É explicado no filme que os Eternos só lidam com problemas de celestiais, mas isso também não faz sentido. Thanos não é um problema humano, Thanos dizimou metade do Universo. Os Avengeiros precisaram de ajuda de basicamente todo mundo, do T’Challa ao Howard The Duck.

A mesma Marvel que retconeou a Feiticeira Suprema para combater Chitauris na Batalha de New York agora varreu os Eternos para debaixo do tapete durante a maior crise da história do Universo.

Thanos é bem casca-grossa (Crédito: Marvel)

Há quem reclame do ritmo de Eternos. O ritmo é bom, as coisas acontecem, não é como as séries da Marvelflix onde o Luke Cage passa dez episódios para atravessar o bairro e dar uma traulitada em alguém. O problema é que as coisas que acontecem, não são importantes.

Depois das duas ou três cenas de ação em flashback, já sabemos que os Eternos viveram no passado da Terra, uma cena inteira num bar na Babilônia pra mostrar que o Ikaris estava de olho na Sersi? Sério, Chloé?

Individualmente os personagens em geral são legais.

Kumail Nanjiani faz Kingo, um Eterno indiano que entrou em modo Full Connor McLeod e criou uma dinastia de astros de Bollywood, “morrendo” de tempos em tempos e voltando como seu próprio filho. Claro, ele é um estereótipo total, e a Disvel só não foi cancelada por causa da imunidade diplomática da diretora chinesa.

Don Lee é Gilgamesh, e embora lembre um Wong de 1,99 m ele está muito bem no papel, com humor, leveza e drama, quando se torna acompanhante e cuidador de Thena.

Lauren Ridloff é Makkari, uma Eterna que é surda mas ao mesmo tempo seus super-poderes permitem que ela sinta as menores vibrações no ambiente. Qualquer dia alguém tem que explicar pra Marvel o que é som. Ela é uma velocista, e na lista dos corredores Marvel/DC fica na frente do Flash, ela não faz caca como Barry Allen.

Ikaris, interpretado por Richard Madden, é assumidamente inspirado no Super-Homem de Zack Snyder, o que não ficou legal. Seres hyper-poderosos flertam com a vilania muito fácil, mesmo antes de ficar do lado dos Celestiais, Ikaris tinha uma vibe meio Homelander.

Há uma penca de outros personagens, mesmo sem sair dos Eternos, e você já percebeu que introduzir (epa!) toda essa gente em um filme só não é tarefa fácil. Tarefa essa que Chloé não conseguiu cumprir.

Filmes de grupos são complicados. As estratégias mais comuns são sair matando todo mundo menos os principais, como Deadpool e a maioria dos filmes de guerra, ou focar em clichês, fulano é o caladão, o outro é o francês... o Comando do Steve Trevor em Mulher-Maravilha funcionou por isso, rapidamente apresentaram os personagens, dentro de seus clichês, mas de forma simpática.

Eternos tem uma fotografia ótima, ótimo elenco, locações maravilhosas e uma premissa que poderia virar o Universo de pernas pro ar, mas não decola. A diretora poderia conduzir o filme para incríveis discussões filosóficas, bem acima de qualquer filme-pipoca da Marvel, o que seria ousado e inédito, mas preferiu ficar no rasteiro.

Os personagens agem como crianças mimadas, ninguém ali parece ter milhares de anos de idade. Mesmo o tema de criaturas se revoltando contra o criador... é uma decisão tomada em uma mesa de jantar, ninguém parece entender a grandiosidade, as implicações.

Dizem que todo filme pode ser salvo na Edição, e a Liga da Justiça do Zack Snyder provou que isso é verdade, mas Eternos precisaria ser reescrito do zero.

Está claro que Chloé Zhao ama seus personagens, ama a história que escreveu, mas ela esqueceu que seu papel como diretora era despertar esse amor junto ao público. Como uma boa mãe-coruja ela mostra como seus filhos são lindos e maravilhosos, e sua protagonista, é perfeita. Sersi salva o filme, Sersi salva todo mundo, Sersi atinge 8,9 na Escala Rey Skywalker.

No final temos um grupo de personagens que mal conhecemos, afetados por uma morte que não nos afetou em nada (Ajak who?) salvando um mundo estranhamente ausente de Vingadores, Aranhas, Feiticeiros Supremos, Mestres do Kung-Fu e excelentes advogados.

O pior de tudo? Eternos não é um filme ruim, não há nada especificamente horrendo sobre o filme. Não dá nem pra dizer que é carne de soja. Também não é sem sal. Eternos é uma história fraca contada por um bom contador de histórias.

É uma receita comum e esquecível, com bons ingredientes, nenhum cozinheiro faz mágica.

Eternos é o primeiro filme da Marvel que digo com segurança: Pode pular, você não vai perder nada. Não acrescenta nada à Mitologia, nenhum dos personagens é marcante, não há nenhum grande momento, nenhum. Eternos é tão frustrante que nem consegui fazer metade das piadas que pensei pra esta resenha.

Cotação:

1/5 Egos

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