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James Webb ganhará "cubesat" parceiro para observar o Espaço

"Cubesat" de US$ 8,5 milhões vai complementar funções do James Webb, observando o Cosmos na faixa ultravioleta

40 semanas atrás

O Telescópio Espacial James Webb (JWST) está perto de completar seu primeiro ano de operação; lançado no dia de Natal de 2021, ele foi ativado em 12 de julho de 2022, e desde então, tem entregue as imagens mais fantásticas do passado do Universo.

Mesmo enxergando mais longe e entregando imagens mais nítidas que o Hubble, até o JWST pode se valer de uma ajudinha extra, que chegará na forma de uma nova missão acessória. Estamos falando do MANTIS, um "cubesat" desenvolvido para prescrutar o Cosmos em toda a faixa ultravioleta.

Representação artística do "cubesat" MANTIS (Crédito: Dana Chafetz/University of Colorado Boulder)

Representação artística do "cubesat" MANTIS (Crédito: Dana Chafetz/University of Colorado Boulder)

O James Webb pode ter ganho a pecha de "obra de igreja", ao multiplicar o orçamento original em mais de 20 vezes (de US$ 500 milhões, custou mais de US$ 10 bilhões), e tendo levado 25 anos para ser lançado, mas cada centavo e segundo a mais consumidos em seu desenvolvimento compensou.

O telescópio já captou galáxias a 4 BILHÕES de anos-luz, indo muito mais longe que o Hubble, que ele foi projetado para substituir, mas por enquanto ambos trabalham juntos. A missão principal do James Webb é observar regiões distantes e captar imagens com mais nitidez que o telescópio veterano, identificar galáxias, estrelas e corpos celestes, e seus elementos.

E, embora não tenha sido projetado para isso, o JWST também é capaz de auxiliar pesquisas de observatórios voltados a regiões mais próximas, como o TESS, especializado em localizar e identificar exoplanetas, o que ele fez muito bem. Embora tenha o app Visão Além do Alcance instalado, nada impede o James Webb de espiar elementos menos distantes, conforme a necessidade e disponibilidade.

Só que mesmo equipamentos estado da arte, ainda que possuam cérebros não tão potentes (para ser sincero, ele não precisa de muito poder de processamento, o que é ainda mais impressionante), podem contar com auxílio, para suprir supostas deficiências. Diferente do Hubble, que opera nas faixas de luz ultravioleta, infravermelha e luz visível, o James Webb "só" enxerga a infravermelha.

Pensando nisso, a NASA comissionou em 2019 um projeto acessório, na forma de um satélite "sidekick", desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Física Atmosférica e Espacial (LASP) da Universidade do Colorado em Boulder.

O Telescópio Espacial James Webb vai ganhar um reforço (Crédito: dima_zel/Getty Images)

O Telescópio Espacial James Webb vai ganhar um reforço (Crédito: dima_zel/Getty Images)

O MANTIS, acrônimo de Monitoring Activity from Nearby sTars with uv Imaging and Spectroscopy, ou Monitor de Atividade em Estrelas Próximas com Imagens em Ultravioleta e Espectroscopia em português, é um equipamento do tamanho de um forno de micro-ondas, que os pesquisadores o classificam como um "cubesat", embora não seja.

Por definição, um cubesat é um satélite pequeno e, na maioria das vezes, de baixo custo, ainda que o Brasil tenha conseguido queimar R$ 400 mil em um que não funcionou. O MANTIS por sua vez é um projeto grande, orçado em US$ 8,5 milhões.

Este satélite, que está na fase de construção, foi pensado desde o início como um parceiro do JWST, para suprir sua deficiência em enxergar ultravioleta. O MANTIS é capaz de cobrir todo o espectro, incluindo a faixa de EUV, ultravioleta extremo ou de alta energia, radiação usada principalmente na litografia de semicondutores.

O nome "mantis" não vem do louva-a-deus, mas sim do camarão-louva-a-deus-palhaço (Odontodactylus scyllarus), ou mantis shrimp em inglês, um membro da ordem de crustáceos marinhos conhecidos popularmente como tamarutacas, ou lacraias-do-mar.

Esse bichinho é o famoso detentor do "soco" mais potente do Reino Animal, com uma aceleração maior do que um tiro de calibre 22, capaz de quebrar carapaças, corais, conhas, e aquários reforçados. Isso lhe rendeu seu outro nome popular em português, lagosta-boxeadora.

Porém, a inspiração para o MANTIS não veio das capacidades de luta desse crustáceo, e sim de sua visão. Os olhos compostos dele e de outros membros da ordem captam do ultravioleta profundo (300 nm) até o vermelho extremo (720 nm), além de luz polarizada.

O camarão-louva-a-deus-palhaço enxerga luz ultravioleta, daí o nome do projeto (Crédito: Getty Images)

O camarão-louva-a-deus-palhaço enxerga luz ultravioleta, daí o nome do projeto (Crédito: Getty Images)

Voltando ao MANTIS, ele está sendo projetado para captar radiação emitida por estrelas distantes, e ajudar o James Webb a identificar a composição atmosférica de exoplanetas. Ao ser capaz de detectar emissões em EUV, que podem ser bem nocivas, ele é capaz de determinar se um mundo é habitável ou não, caso a estrela próxima esteja bombardeando o planeta com emanações prejudiciais à vida.

De acordo com David Wilson, líder do projeto MANTIS, parte da radiação EUV escapa de um exoplaneta antes de ser absorvida pela atmosfera, se presente, e essa "sobra" pode ser captada pelo satélite. Caso este fluxo seja identificado como regular, ele pode com o tempo detonar a atmosfera, tornando o mundo observado inabitável.

O MANTIS está projetado para entrar em ação em 2026, em uma missão de coleta de dados que deverá durar pelo menos um ano. Além da NASA, a Universidade da Pensilvânia e a Agência Espacial Italiana (ASI) são parceiras do projeto.

Fonte: University of Colorado Boulder

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