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Telescópio James Webb ganha nova data de lançamento. Agora vai?

O Telescópio Espacial James Webb, a mais notória "obra de igreja" da NASA, será finalmente lançado em dezembro de 2021... se nada mais der errado

2 anos e meio atrás

O Telescópio Espacial James Webb (JWST), o equipamento de observação do espaço profundo desenvolvido para ser o sucessor do Hubble, está completando 25 anos e nem sequer saiu do chão. Os planos originais previam uma data de lançamento para 2007 e um custo razoável de US$ 500 milhões, mas ele sofreu tantos atrasos que se tornou uma das mais notórias "obras de igreja" da exploração espacial, à frente do SLS, e hoje já teria custado quase US$ 10 bilhões.

Projeto conjunto das agências espaciais norte-americana (NASA), Europeia (ESA) e canadense (CSA), ao que tudo indica o JWST finalmente está pronto para ser lançado: ele passou pela última bateria de testes e deverá decolar da Guiana Francesa, a bordo de um foguete Ariane-5, no dia 18 de dezembro de 2021. Isto é, se Murphy colaborar.

Telescópio Espacial James Webb completamente montado, com as estruturas que serão abertas após o lançamento (Crédito: NASA)

Telescópio Espacial James Webb completamente montado, com as estruturas que serão abertas após o lançamento (Crédito: NASA)

O anúncio para uma data "final" de lançamento do telescópio foi confirmado pela NASA, ESA e Arianespace. A agência europeia será a responsável pelo procedimento de colocar o JWST em órbita, em troca de tempo de uso da plataforma. Com uma maior resolução no espectro infravermelho que o Hubble, ele foi projetado para localizar e observar alguns dos corpos celestes mais distantes e antigos do universo. Ele foi especialmente voltado para identificar as primeiras galáxias do Cosmos.

As dimensões do bicho impressionam: embora ele possua mais de metade da massa do Hubble (6.500 contra 11.110 kg), o JWST é dotado de um espelho focal composto de 18 hexágonos, compostos de uma liga de ouro e berílio, com um diâmetro de 6,5 metros. O corpo possui 20 metros de comprimento e 14 m de largura na área mais longa.

O processo de desenvolvimento do Telescópio Espacial James Webb é fruto da era "mais rápido, melhor e mais barato" que regeu a NASA durante os dois mandatos de Bill Clinton, de 1993 a 2000. Na época, a agência estimulou diversas missões de exploração ao espaço, incluindo os lançamentos das sondas marcianas Sojourner (1997), Spirit e Opportunity, que mesmo tendo sido enviadas em 2003, foram projetadas nos anos 1990.

Originalmente chamado NGST (Next-Gen Space Telescope, ou Telescópio Espacial da Próxima Geração), o James Webb originalmente foi projetado com um orçamento bem mais modesto (mínimo de US$ 500 milhões e máximo de US$ 1,6 bilhão) e tecnologias de ponta da época, garantido a obrigação dele ter uma visão ainda mais apurado do que a do Hubble. Embora sua missão a longo prazo fosse substituir o velho telescópio, a NASA esperava (e ainda espera) usar os dois em conjunto.

Modelo em escala do JWST e equipe responsável pelo telescópio, em foto de 2005. Sim, o bicho é enorme (Crédito: Pat Izzo/Goddard Space Flight Center/NASA)

Modelo em escala do JWST e equipe responsável pelo telescópio, em foto de 2005. Sim, o bicho é enorme (Crédito: Pat Izzo/Goddard Space Flight Center/NASA)

O tempo passou, Clinton saiu, e como a NASA sendo uma agência governamental, e o então presidente George W. Bush tendo problemas mais urgentes a tratar (aka Guerra ao Terror), o orçamento disponível era bem limitado e a plataforma ia ficando defasada, já que uma empresa para a construção do telescópio, a TRW, só foi selecionada em 2003. Na época, o preço já havia escalado para US$ 824,8 milhões.

Em 2005, já tendo aceito que a janela original estava mais do que perdida, o time do Goddard Space Flight Center, responsável pelo desenvolvimento do JWST, decidiu fazer o que àquela altura era inevitável, que era atualizar toda a plataforma, a um custo total de US$ 4,5 bilhões. A conta seria dividida entre a NASA, que pagaria a maior parte, a ESA, que entrou com € 300 milhões e a plataforma de lançamento via Arianespace, e a CSA, com 37 milhões de dólares canadenses e equipamentos.

A construção do James Webb, após todos esses percalços, só foi concluída em 2016, mas essa foi apenas a primeira etapa. Com uma nova data de lançamento marcada para 2018, ela seria adiada inúmeras vezes, após uma série de problemas descobertos ainda em terra, durante a extensa fase de testes ao qual o telescópio foi submetido, sem falar em problemas externos envolvendo janelas de lançamento da ESA.

Em 2011, a Câmara dos Representantes cogitou inclusive cancelar o projeto inteiro, sob a justificativa de que o JWST estava ficando caro demais (na época, ele bateu a marca dos US$ 6,5 bilhões). A NASA defendeu o telescópio, argumentando que com o fim do programa dos shuttles, caso o Hubble deixasse de funcionar em uma situação que não pudesse ser reparado remotamente, o governo dos EUA não teria mais nenhum instrumento de observação do espaço profundo à disposição.

Hoje, com quase US$ 10 bilhões gastos e aparentemente todos os problemas resolvidos, o James Webb virou uma questão de honra para o governo dos EUA: assim como o foguete SLS, ele precisa entrar em operação de qualquer jeito, de modo a justificar o dinheiro dos contribuintes colocado nele, a fim de trazer retorno concreto à nação.

JWST devidamente selado, registrado, carimbado e embalado para voar (Crédito: Chris Gunn/NASA)

JWST devidamente selado, registrado, carimbado e embalado para voar (Crédito: Chris Gunn/NASA)

Os americanos não serão os únicos beneficiados, claro. Além do Canadá e dos países da União Europeia, o JWST também poderá ser usado pela agência espacial britânica, já que os acordos precedem o Brexit. Quando for colocado em operação, o telescópio terá quatro missões principais:

  1. Rastrear e identificar luz provenientes das primeiras estrelas e galáxias do Universo, formadas logo após o Big Bang;
  2. Estudar a formação e evolução das galáxias;
  3. Estudar a formação das estrelas e de sistemas planetários;
  4. Estudar sistemas planetários e identificar e estudar as condições para a origem da vida nesses sistemas.

Para quem passou as últimas mais de duas décadas acompanhando a novela do Telescópio Espacial James Webb, é bom saber que tudo está caminhando para o fim de uma fase e o início de outra, quando ele finalmente entrará em operação, depois de todos os rolos pelos quais passou. Ou melhor, ainda passa.

Fonte: NASA

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