Ronaldo Gogoni 34 semanas atrás
A SpaceX, a empresa aeroespacial de Elon Musk, anda bem ocupada. Recentemente, a companhia fechou um acordo com a NASA, em que ambas partes estudarão uma solução para estender a vida útil do Telescópio Espacial Hubble, que está perdendo altitude desde 2017.
Paralelo a isso, sua subsidiária e serviço de internet via satélites de órbita baixa (ELO) StarLink está operacional no Irã, após o relaxamento de sanções econômicas em prol de aproveitar o atual período turbulento do país.
Vamos dar uma olhada no que a SpaceX andou aprontando nas últimas semanas:
Não é segredo que o Hubble está no bico do corvo. Lançado originalmente em 1990, o telescópio espacial teve uma extensa cota de problemas ao longo de três décadas de operação, começando por nascer "míope", devido um desvio microscópico no espelho principal, o suficiente para fazer com que suas imagens ficassem borradas.
Em 2008, um defeito na Unidade de Comando/Formatadora de Dados Científicos (CU/SDF) levou a NASA a substituir por completo a Unidade de Comando de Instrumentos Científicos e Manipulação de Dados (SI C&DH) no ano seguinte; esta foi a última vez em que o Hubble passou por uma manutenção local, já que em 2010, o programa dos ônibus espaciais foi encerrado.
Sem a possibilidade de enviar equipes para realizar manutenções periódicas e substituir peças, o Hubble começou a acumular problemas, que em 2018, levaram o telescópio a apresentar um bug em seu giroscópio, corrigido com um reboot e uma série de manobras, feitas em terra e transmitidas remotamente.
Hubble visto do Ônibus Espacial Discovery, durante a segunda missão de manutenção ao telescópio espacial, em 1997 (Crédito: Divulgação/NASA)
Em junho de 2021, foi a vez da Unidade de Controle de Energia (PCU) do SI C&DH instalado em 2009 dar chabú. Tanto o computador principal, quanto o backup, acionado pela primeira vez, não funcionaram, e o problema só foi sanado quando o segundo computador passou a usar sua própria PCU, ao invés da do principal, esta a origem do bug.
Em outubro do mesmo ano, o Hubble de novo deu pau, desta vez uma série de falhas de sincronização, forçando novamente a NASA a desligar seus instrumentos por um tempo. E desde 2017 sua órbita está decaindo, dando indícios de que em algum momento, ele reentrará na atmosfera, para seu doloroso fim.
O fato é que a NASA já estava se preparando para o pior. Originalmente o Hubble deveria ser recuperado para exibição permanente em um museu, mas tal plano dependia dos shuttles, também responsáveis por prover acesso da equipe de manutenção ao satélite. Hoje, não temos nada capaz de mandar uma equipe até ele.
Por outro lado, a SpaceX parece ter uma solução para o problema da órbita do telescópio, no que a empresa de Elon Musk e a NASA estão trabalhando em uma solução alternativa, envolvendo a cápsula Crew Dragon.
No dia 22 de setembro de 2022, ambas as partes assinaram um acordo sem orçamento pré-definido, para estudar meios de levar o Hubble para uma órbita mais alta, e estender um pouco seu tempo de operação, pelo menos, enquanto outro bug não o inviabilizar por completo, já que a Dragon não possui os meios para viabilizar uma caminhada espacial; o Projeto Polaris, bancado pelo bilionário Jared Isaacman, também faz parte do acordo.
Ainda é cedo para dizer o que poderá sair da fase de estudos, que consumirá 6 meses no mínimo. Há a possibilidade de a Dragon funcionar como um rebocador, ou dar um simples empurrãozinho no Hubble até uma órbita mais alta, mas ao menos estão considerando opções.
O Irã está passando por um momento especialmente turbulento, com protestos massivos, principalmente da ala feminina, após a morte de uma cidadã que teria sido espancada pela Gašt-e Eršād, a "polícia da moralidade" do país, pelo "crime" de não usar o hijab direito. A repressão, como esperado, está sendo dura e violenta.
Governos autoritários odeiam disseminação de informação, tanto que a internet do país é fortemente vigiada e blindada. Vale lembrar também que como membro do "Eixo do Mal", o Irã está sob embargos pesados dos Estados Unidos, o que já rendeu problemas à ZTE.
Por outro lado, o estado atual de instabilidade no país é algo que os EUA não podem ignorar, e não é surpresa que no dia 23 de setembro, o Departamento de Estado tenha afrouxado restrições ao fornecimento de serviços de internet e telecomunicações ao Irã, de modo a contornar o controle de Teerã à informação buscada pelos cidadãos.
Dias antes, Elon Musk tuitou que a SpaceX negociaria um relaxamento nas sanções dos EUA contra o Irã, focando especificamente na ativação da rede StarLink sobre o país, da mesma forma que foi feito com a Ucrânia. Assim, qualquer um que tiver acesso a uma antena e terminal, poderá acessar a internet via satélite, sem filtro algum.
No dia 26 de setembro, a StarLink entrou oficialmente em operação no território iraniano, e tudo os que os aiatolás podem fazer é caçar as antenas em terra.
Segundo as novas regras do governo norte-americano, empresas de telecomunicações estão autorizadas a oferecerem serviços e implementarem suas plataformas no Irã, sem o risco de sofrerem com represálias ligadas às sanções; as exportações de equipamentos, como os terminais e antenas da StarLink, também estão liberadas.
No mais, Musk não deve parar com o Irã, e já tem outro país para levar a rede StarLink: Cuba.
Fonte: Digital Trends, Ars Technica