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EUA: Japão protege domínio da Sony no mercado de games

Governo do Japão seria leniente com domínio do PlayStation, em detrimento da linha Xbox; Nintendo é ignorada, de novo

51 semanas atrás

O domínio da Sony no mercado de games no Japão está sendo contestado pelo Congresso dos Estados Unidos. Na última quinta-feira (23), a senadora Maria Cantwell (DEM-Washington) alegou que o governo local faz pouco para estimular a concorrência no país, no que a participação da Microsoft com seus consoles é, e sempre foi, irrisória.

Adicionalmente, 10 membros da Câmera dos Representantes, democratas e republicanos, enviaram cartas endereçadas à Secretaria do Comércio, dizendo que a Sony se aproveita da boa-vontade dos legisladores de Tóquio, para garantir total controle do market share japonês, desconsiderando (outra vez) a Nintendo.

Japão: consumidor retira PS5 em loja após reserva do console, no 1.º dia de vendas oficiais, em novembro de 2020 (Crédito: Kei Higuchi/Nikkei Asia)

Japão: consumidor retira PS5 em loja após reserva do console, no 1.º dia de vendas oficiais, em novembro de 2020 (Crédito: Kei Higuchi/Nikkei Asia)

A onda de ataques dos congressistas norte-americanos à Sony é consequência direta das declarações de Brad Smith, presidente e VP do Conselho de Administração da Microsoft, durante audiência com os reguladores da União Europeia em 21 de fevereiro de 2023, no que o executivo apresentou argumentos para, principalmente, conseguir que a compra da Activision Blizzard seja aprovada.

Na ocasião, Smith apresentou uma noção, compartilha pelo CADE, o órgão regulador brasileiro, de que o mercado de games em consoles é dividido unicamente por Sony e Microsoft, no que a divisão PlayStation ficaria com 70% do mercado global, contra 30% de Redmond.

O argumento usado a favor da Microsoft, para justificar a compra da desenvolvedora de Call of Duty como não sendo uma ameaça à competição, foi demonstrar que localmente, a divisão do mercado entre as duas empresas é ainda mais desigual. Na Europa, por exemplo, os consoles da Sony abocanham 80% do market share, enquanto a linha Xbox ficaria com os 20% restantes.

Já no Japão, a Microsoft é massacrada. De acordo com Smith, os consoles da linha PlayStation respondem por avassaladores 96% do mercado, contra ridículos 4% de participação da Microsoft no arquipélago. Desde o Xbox original, a família de consoles da caixa verde nunca foi mais do que quase nada no mercado, sendo o principal motivo a preferência à prata da casa.

Por mais que muitos neguem, o japonês é bairrista ao extremo. Entre fechar a compra de um produto local, e um concorrente de uma companhia estrangeira, o consumidor sempre dará preferência a prestigiar as empresas nacionais. Desde 2002, a Microsoft é vista como a companhia gaijin (estrangeira, num sentido BEM pejorativo) que ousa concorrer com Sony e Nintendo.

A Apple também passou por isso, ao introduzir o iPhone; a gigante de Cupertino só conseguiu dominar o mercado japonês de smartphones em 2014, passando à frente das preferências locais, sem surpresa, aparelhos das companhias japonesas Sony (óbvio), Kyocera e Sharp. Samsung? Quem são os coreanos na fila do pão?

A linha Xbox sempre deu ponto de audiência no Japão, principalmente por puro bairrismo (Crédito: @Genki_JPN/Twitter)

A linha Xbox sempre deu ponto de audiência no Japão, principalmente por puro bairrismo (Crédito: @Genki_JPN/Twitter)

Na opinião da senadora Maria Cantwell, se deve não apenas por razões culturais (bairrismo), mas principalmente por protecionismo por parte do governo japonês, que não move uma palha para incentivar uma competição saudável entre Sony e Microsoft, visto que uma companhia considerada patrimônio nacional é a força dominante do setor.

Durante audiência do Comitê de Finanças do Congresso, a senadora declarou ter sido informada de que "a Sony controla um monopólio de 98% do mercado de games no Japão (alguém adicionou mais 2 pontos percentuais ali, mas divago), com o governo tendo permitido à empresa usar de práticas anticompetitivas, através de contratos de exclusividade, e pagamentos a distribuidoras".

A congressista acrescentou, dizendo que a Comissão de Livre Mercado do Japão "fracassou (leia-se, foi leniente) ao investigar tais condutas". A citação de contratos para lançamentos de games exclusivos é oportuna, visto o lançamento de Final Fantasy XVI em junho de 2023, apenas para PS5.

Simultaneamente, as bancadas democrata e republicana da Câmara de Representantes enviaram, cada uma, cartas à Secretaria de Comércio e sua presidente, Gina Raimondo, onde expressam preocupações semelhantes.

Uma delas diz que "a política do governo japonês de não conduzir investigações (por abuso do poder de mercado) no que tange à Sony, revela-se uma barreira às exportações dos Estados Unidos, causando impacto real à Microsoft, desenvolvedoras e distribuidoras norte-americanas, que vendem seus títulos globalmente, mas têm seu alcance minado no Japão, devido tais práticas".

O Nintendo Switch não foi levado em conta, provavelmente por não ser um competidor direto do PS5 e Xbox Series X|S (Crédito: guayo110/Reddit)

O Nintendo Switch não foi levado em conta, provavelmente por não ser um competidor direto do PS5 e Xbox Series X|S (Crédito: guayo110/Reddit)

De novo, as declarações de congressistas dos EUA contra o domínio da Sony no mercado de games do Japão excluem o terceiro elemento, a igualmente local Nintendo. Como citado anteriormente, reguladores e políticos não consideram a companhia como competidora direta, devido a como o Switch foi posicionado, um produto voltado para toda a família e não aos gamers, uma estratégia praticada desde o Wii.

No geral, os consoles da Nintendo são vistos como dispositivos de entretenimento familiar, ao invés de plataformas para games AAA, não importando que o atual console da Big N seja o terceiro mais vendido da história (+122 milhões de unidades), possuindo uma base instalada quase três vezes maior do que a do PS5 e Xbox Series X|S, somados (48,5 milhões).

Todos os anos, o Switch vende mais do que a linha Xbox, e no Japão, compete de igual para igual com a Sony, muitas vezes, passando à frente do PS5. No entanto, ele é visto como um produto divergente, que muitos consideram como o "segundo console" por ser barato (não no Brasil), e ter inúmeras franquias exclusivas, assim, não é considerado um competidor direto

Isso deixa a Sony em uma posição de domínio do setor, argumento este usado pela Microsoft para convencer reguladores, a fim de aprovar a compra da Activision Blizzard. Funcionou com o CADE, inclusive. Recentemente, a compra também recebeu sinal verde dos reguladores japoneses, embora o ato talvez não alivie a situação.

Segundo questões sobre o suposto favorecimento do governo do Japão à Sony, no que tange ao mercado de games no país, serão levadas à próxima reunião da Cooperação Econômica Indo-Pacífica para a Prosperidade, um recente acordo de cooperação lançado em 2022, que reúne EUA, Japão, Índia e países insulares do Pacífico Sul.

Fonte: Politico, Axios

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