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Nintendo não concorre com outros consoles, segundo Microsoft e reguladores

Para Microsoft, mercado de consoles é dividido apenas entre ela e Sony; para reguladores, público-alvo da Nintendo é completamente diferente

1 ano atrás

A Nintendo está sendo usada como uma "inocente útil" pela Microsoft, em seus esforços para conseguir a aprovação da compra da Activision Blizzard, junto aos órgãos reguladores dos Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido.

Em uma audiência realizada na última terça-feira (21), a companhia se posicionou como a menor competidora, em que o mercado de games é dominado pela plataforma PlayStation, muito à frente do Xbox.

O Nintendo Switch ainda vende bastante (Crédito: Chona Kasinger/Bloomberg)

O Nintendo Switch ainda vende bastante (Crédito: Chona Kasinger/Bloomberg)

A jogada da Microsoft, que muitos apontam ser bizarra, é de "ignorar" a existência da Nintendo, não incluída na conta, mas reguladores como a FTC de fato não consideram a Big N como uma competidora direta. Este argumento inclusive foi crucial para o CADE, o órgão brasileiro, aprovar a compra.

Nintendo, Sony, Microsoft e o mercado

Durante a audiência realizada em Bruxelas, Brad Smith, presidente da Microsoft, apresentou seus argumentos aos reguladores da União Europeia, alegando que o mercado de games em consoles é dividido apenas entre ela e a Sony, com a divisão Xbox respondendo por apenas 30%, enquanto a PlayStation abocanha os 70% restantes.

Smith apontou que o quadro na Europa é ainda pior, com uma proporção de 80/20, e no Japão a situação é ridícula, com 96% do mercado nas mãos da Sony, e a Microsoft ficando com apenas 4%, embora neste caso, pesa o fato do notório bairrismo dos japoneses, que sempre darão preferência à prata da casa, ao invés de fecharem com uma companhia gaijin (estrangeira). A Apple furou o bloqueio, mas levou muito tempo até conseguir vender mais iPhones do que as marcas japonesas, como Sony, Sharp e Kyocera.

O executivo da Microsoft apontou que, embora a divisão Xbox venha fazendo por onde para mudar esse cenário, os números são basicamente os mesmos desde a 6.ª geração de consoles, quando ela entrou no mercado:

"Embora tenham havido algumas flutuações ao longo dos anos, esses números têm se mantido estáveis pelas últimas duas décadas. Mesmo no último ano (2022), quando a Sony sofreu restrições em sua cadeia de suprimento, e viu o número de vendas (de consoles) cair, a empresa voltou com força no 4.º trimestre fiscal, assim que conseguiu se recuperar.

Pelos nossos cálculos, a Sony superou a Microsoft em vendas no último trimestre em uma margem de 69% para 31%, números consistentes com a divisão do market share vista nos últimos 20 anos."

Brad Smith mostra gráfico durante audiência com reguladores da UE, em que a divisão PlayStation responde por 80% do market share europeu de consoles, contra 20% da Xbox (Crédito: Tom Warren/Twitter)

Brad Smith mostra gráfico durante audiência com reguladores da UE, em que a divisão PlayStation responde por 80% do market share europeu de consoles, contra 20% da Xbox (Crédito: Tom Warren/Twitter)

Se você prestou bastante atenção, verá que a Nintendo não é citada nos gráficos da Microsoft, como se ela não fosse uma concorrente direta no mercado de consoles. Redmond reconhece sua existência, tanto que após a audiência, um acordo foi fechado para levar títulos da Xbox Game Studios e da Activision Blizzard, incluindo a franquia Call of Duty, a consoles da companhia japonesa, por 10 anos, o mesmo valendo para a Nvidia e seu serviços de streaming de jogos GeForce Now.

Vale lembrar que a Microsoft fez a mesma oferta à Sony, que a recusou, se atendo a não deixar a aquisição da Activision Blizzard ser aprovada.

Voltando à Nintendo, a abordagem da Microsoft pode parecer estranha e injusta, visto que no cenário global, a casa do Mario está à frente de Redmond no market share (dados de 2021); no Japão chega a ser covardia, o Switch respondeu por 87% de todas as vendas de consoles em 2021 no país, foram 6 milhões de unidades contra 543 mil do PS4, e 255 mil do PS5.

O Nintendo Switch vende tanto ou mais que o Xbox Series X|S todos os anos, e possui a maior base instalada entre os três sistemas, principalmente por ter sido lançado em março de 2017, 3 anos e 8 meses antes dos rivais (novembro de 2020); são mais de 122 milhões de unidades ativas, fazendo dele o 3.º console mais vendido da história, atrás apenas do PS2 e do Nintendo DS. Proporcionalmente, há 3,8 Switches em uso para cada PS5 vendido, e 10 para cada Xbox Series X|S.

Então, por que diabos a Microsoft diz que o Switch não integra o market share de consoles? Devido a como a Nintendo o posiciona no mercado, e qual é seu público-alvo, uma noção que os reguladores, como a FTC dos Estados Unidos e o CADE, compartilham.

Por ser voltado para toda a família, o Switch não se enquadra como um concorrente direto do Xbox Series X|S e PS5 (Crédito: Reprodução/Merryweather Comics)

Por ser voltado para toda a família, o Switch não se enquadra como um concorrente direto do Xbox Series X|S e PS5 (Crédito: Reprodução/Merryweather Comics)

Família vs. gamers

No entendimento da Microsoft, defendido por Brad Smith, ambas plataformas Xbox e PlayStation visam primariamente o público gamer de consoles, consumidores que hoje estão na faixa produtiva, entre 17 e 35 anos, alguns mais velhos. Estes seriam similares ao Glorious PC Gamer Master Race, mas focados nos equipamentos de mesa, e todas as suas decisões de design, de jogos a acessórios, são voltados a quem já está inserido nesse meio.

A Nintendo, por sua vez, posiciona o Switch como um equipamento de entretenimento voltado para toda a família, algo que ela abraçou em 2006 ao lançar o Wii, e mantém desde então. Um hardware mais simples e barato, aliado a experiências divertidas e acessíveis, e baseado na força de suas franquias exclusivas, como Mario, Zelda, Pokémon, Metroid, Donkey Kong e cia., é mais atraente a crianças, jovens, adultos e idosos, incluindo quem nunca jogou videogame na vida antes de comprá-lo.

Mesmo os "istas" dos demais sistemas, em muitos casos, possuem um console Nintendo como segunda plataforma, seja para jogar os exclusivos da empresa, ou simplesmente porque ele não é tão caro, desconsiderando o mercado brasileiro, que não serve de parâmetro para nada.

Não obstante, a Microsoft usa a Nintendo como uma sólida demonstração que quebra um dos argumentos da Sony contra a aquisição da Activision Blizzard, de que "um console sem Call of Duty está fadado ao fracasso". O último título da franquia a ser lançado em um sistema da companhia japonesa foi CoD: Ghosts em 2013, para o Wii U.

De fato, o Switch nunca recebeu uma versão da série em seus 6 anos de estrada, e é um dos consoles mais vendidos da história, embora de novo, Mario e cia. tenham muito peso nisso. De qualquer forma, foi este argumento que convenceu o CADE a aprovar a compra da Activision Blizzard, e a FTC concorda com tal raciocínio, embora seja avessa a permitir que a aquisição prossiga, por outros motivos.

Basicamente, a Microsoft apresentou a realidade do mercado da mesma forma que os reguladores o enxergam: a Nintendo não é uma competidora direta, e a Sony possui quase que total hegemonia, na esperança de não só garantir a compra da Activision Blizzard, como para lembrar os órgãos sobre quem, na sua opinião, é a real vilã dessa novela, que ainda terá vários capítulos.

Fonte: GamesIndustry.biz

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