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Resenha: Andor — Star Wars (quase) sem pewpewpew

Andor tem texto maduro e foco no mundano, longe de combates espaciais, fazendo dela a mais diferente série baseada em Star Wars

1 ano atrás

Andor é a quarta série live-action baseada no universo de Star Wars, e uma obra completamente diferente de The Mandalorian, O Livro de Boba Fett e Obi-Wan Kenobi. Enquanto as primeiras focam em personagens clássicos e procuram fechar buracos na cronologia, esta volta os olhos para o lado menos abordado da franquia: o povão, os Rebeldes menos glamourosos, e o lado burocrático do Império.

A série revela como Cassian Andor (Diego Luna), visto em Rogue One: Uma História Star Wars, evoluiu de um ladrãozinho comum para um Rebelde idealista, mas esta era mesmo uma história que merecia ser contada?

Andor (Crédito: Divulgação/Lucasfilm/Disney)

Andor (Crédito: Divulgação/Lucasfilm/Disney)

Andor: Star Wars pela HBO, sem sexo

Andor se passa cinco anos antes dos eventos de Rogue One, e consequentemente, de Star Wars: Uma Nova Esperança. Já no primeiro episódio, a série mostra que é bem mais pé-no-chão e menos fantástica, com Cassian se envolvendo em uma briga com dois funcionários de uma cooperativa, e acaba matando ambos em um beco.

O que ficamos sabendo dos episódios iniciais: Andor é um ladrão, que vive de pequenos golpes para se manter vivo, enquanto vasculha a periferia da galáxia em busca da irmã, da qual foi separado quando criança. No entanto, ao despachar os dois seguranças, ele acaba chamando a atenção de um jovem suboficial da cooperativa, Syril Karn (Kyle Soller), que é obcecado em subir de posto e mostrar serviço.

Isso faz com que ele seja notado por Luthen Rael (Stellan Skarsgård), um mercador de arte de Coruscant de fachada, na verdade, um financiador e organizador de pequenos bolsões de uma Resistência ainda embrionária, algo que não avançou muito desde A Vingança dos Sith, em uma cena deletada do corte final.

Luthen contrata Andor para um trabalho que vai deixar muita gente no Império fula nas calças, e, simultaneamente, financiará os esforços mais coordenados da Rebelião, mas nosso protagonista só se preocupa com sair vivo e ser pago, e poder continuar procurando sua irmã.

Cassian Andor (Diego Luna) e Luthen Rael (Stellan Skarsgård) fugindo de seus perseguidores (Crédito: Divulgação/Lucasfilm/Disney)

Cassian Andor (Diego Luna) e Luthen Rael (Stellan Skarsgård) fugindo de seus perseguidores (Crédito: Divulgação/Lucasfilm/Disney)

A ideia principal é explorar algo que eu havia dito antes: Star Wars éum universo enorme e muito rico, e dentro dele, cabem todos os tipos de histórias, mas Andor expôs algo que os fãs nunca haviam se dado conta: por mais que seja possível explorar outras narrativas, nós sempre vamos querer mais dos núcleos principais: os Jedi, os Sith, os caçadores de recompensas...

Ninguém que saiu de Rogue One estava interessado em aprender mais sobre o passado de Andor, Chirrut Îmwe, K-2SO ou mesmo de Jyn Erso, a protagonista; tudo o que precisávamos saber foi abordado no filme. Andor é como se Coppola lançasse uma série prequel de O Poderoso Chefão, mas focada na vida de Paulie Gatto.

Ações e consequências

Por outro lado, não é segredo que Star Wars sempre foi tratada como entretenimento infanto-juvenil, com uma trama rasa como um pires: os heróis são bons, os vilões são maus, os Jedi, os Rebeldes e a República estão do lado da justiça, e o destino dos Sith, do Império e da Primeira Ordem é a ruína.

Andor é uma abordagem mais adulta desse universo, e para que a história de Tony Gilroy, co-roteirista de Rogue One, funcionasse, seria preciso sair do núcleo glamouroso e enfiar o pé na lama, até o joelho. Os núcleos principais envolvem os setores mais pobres e devastados da galáxia, e do lado dos antagonistas, saem os stormtroopers e entram guarnições nos cafundós da galáxia, com soldados comuns, e seguranças de cooperativas ainda mais provincianos.

Claro, há um outro TIE Fighter para criar uma tensão adicional.

Genevieve O'Reilly volta como Mon Mothma (Crédito: Reprodução/Lucasfilm/Disney)

Genevieve O'Reilly volta como Mon Mothma (Crédito: Reprodução/Lucasfilm/Disney)

Curiosamente, a trama passada em Coruscant e centrada em Mon Mothma (Genevieve O'Reilly), a futura líder da Aliança Rebelde, parece ser o núcleo mais deslocado da série, embora continue sendo importante. A senadora é aqui uma versão de Dâmocles, com a espada do Império permanentemente pendurada por um fio de cabelo sob sua cabeça.

Enquanto mantém uma fachada de fidelidade à situação, mesmo dentro de casa para seu marido e filha, Mothma secretamente organiza ataques descentralizados a guarnições imperiais, em que Luthen Rael é seu intermediário e confidente. O Império já desconfia de suas ações, e ela está vigiada o tempo inteiro.

Em outro núcleo, oficiais do Departamento de Segurança do Império batem cabeça sobre as ações e ataques de ladrões em diversos setores da galáxia, em que alguns começam a perceber que há uma intenção de ocultá-los como randômicos, quando há um padrão de organização nos eventos.

Quem assistiu à série animada Star Wars Rebels viu como os vários grupos separados de oposicionistas se organizaram como uma Aliança, com Mothma no comando. Andor está mostrando eventos que ocorreram alguns anos antes disso.

Dedra Meero (Denise Dough) é uma das poucas agentes internas do Império que desconfia do surgimento iminente de uma Rebelião organizada (Crédito: Divulgação/Lucasfilm/Disney)

Dedra Meero (Denise Dough) é uma das poucas agentes internas do Império que desconfia do surgimento iminente de uma Rebelião organizada (Crédito: Divulgação/Lucasfilm/Disney)

Aliás, o núcleo de Andor justificaria inclusive a interação de Cassian com alguns membros da tripulação da Ghost, como Kanan Jarrus e Hera Syndulla; Sabine Wren e Ezra Bridger, por outro lado, vão aparecer em Ahsoka, que deve estrear em 2023.

Plot à parte, Andor vem incomodando o público por ser demasiadamente lenta, ao menos para o padrão Star Wars. Dos 6 episódios (de um total de 12) exibidos até a publicação desta resenha, só houve sequências de ação, navinha e pewpewpew em dois. Há inclusive uma organização em subplots: dois episódios de conversa, um de combate, mais dois de conversa e assim vai.

Na parte técnica, a série segue o padrão Lucasfilm e Disney de qualidade, mas desta vez sem o uso do StageCraft, e apelando para locações abertas, filmadas nos arredores rurais e no centro urbano de Londres, além de cidades cenográficas e cenas de estúdio. Esta foi uma decisão pessoal de Gilroy, para aproximar o estilo da produção de Rogue One, rodado de forma bem diferente dos demais filmes da franquia.

No elenco, além de Diego Luna, Genevieve O'Reilly e Stellan Skarsgård, temos Fiona Shaw (a tia Petúnia de Harry Potter) como a mãe adotiva de Cassian, Adria Arjona (Círculo de Fogo: A Revolta) como a mecânica Bix Caleen, e Forest Whitaker (Oscar de Melhor Ator por O Último Rei da Escócia, Pantera Negra) de volta como o rebelde radical Saw Gerrera, um personagem que surgiu na série Star Wars: The Clone Wars.

Conclusão

Andor definitivamente não é uma série para todo mundo. Eu não a classifico como ruim, mas é um produto muito, MUITO diferente do que eu esperava para algo com a grife Star Wars. Eu reconheço que mordi a língua, ao defender que a galáxia muito, muito distante comporta todos os tipos de histórias, apenas para torcer o nariz a algo fora da minha zona de conforto.

É como se os produtores da HBO pegassem o conceito original da franquia e tivessem bolado uma história no seu estilo, com violência, cinismo e foco no mundano, às vezes até demais; só para dar uma ideia, pela primeira vez em Star Wars, há uma cena com alguém tirando água do joelho.

Contudo, Andor ainda é uma obra da Disney, logo, não espere pelo padrão HBO.

Não se apegue a ninguém (Crédito: Reprodução/Lucasfilm/Disney)

Não se apegue a ninguém (Crédito: Reprodução/Lucasfilm/Disney)

No mais, Andor está sendo um exercício e tanto para lidar com os episódios mais parados, o que, em outros tempos, renderia uma paródia do Casseta & Planeta chamada "Conversandor". E todas as piadas com andores e santos com pés de barro já foram feitas.

Eu não sou fã da ideia de assistir com baixas expectativas. Eu prefiro anotar que Andor é uma abordagem mais adulta, suja e provinciana do universo de Star Wars, centrada em um personagem que poucos queriam ver sendo mais explorado.

Ainda assim, é bom ver que a Lucasfilm está variando a fórmula.

Nota:

Crédito: LucasFilm/Disney

3,5/5 B2MOs.

Andor — onde assistir:

Andor está disponível no Disney+.

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