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A casualidade que preparou a Nightdive Studios para a pandemia

Enquanto diversas empresas sofrem com a queda de produção devido ao trabalho remoto, sem querer a Nightdive Studios vinha se preparando para esse problema

3 anos e meio atrás

Ao contrário do que muitos romantizam, trabalhar remotamente não é algo tão simples. É preciso disciplina, paciência para lidar com familiares que podem estar o tempo todo com a gente e tomar cuidado para não se distrair. Devido as recomendações de isolamento por causa do coronavírus, vários profissionais tiveram que aprender isso a força, mas enquanto a pandemia mudou a dinâmica de muitas empresas ao redor do mundo, ela não atingiu a Nightdive Studios.

Nightdive Studios

Crédito: Divulgação/Nightdive Studios

Fundada em 2012 por Stephen Kick, quando ele adquiriu os direitos sobre o jogo System Shock 2, a desenvolvedora tem se especializado em remasterizar alguns clássicos para PC e ao contrário de boa parte dos estúdios, não possui uma sede onde dezenas de pessoas passam o dia trabalhando. Com funcionários espalhados por diversos países, esta foi uma opção feita pelos executivos da empresa e que mesmo sem querer, acabou lhes ajudando muito durante este período complicado que vivemos.

No entanto, Kick admite que não previu o que estava por vir quando criou a Nightdive, já que estava apenas pensando em tornar o estúdio mais atraente para profissionais, mas que se hoje este modelo é aceito por quase todos, até o planeta parar por causa da Covid-19 a história era bem diferente. Tal opinião é compartilhada pelo diretor de negócios Larry Kuperman, que falou como essa política tem influenciado nas decisões:

Nós éramos um tipo de ponto fora da curva e tínhamos que dizer às pessoas o tempo todo, ‘não, não, nós não estamos buscando nos mudar para uma sede; esta é maneira como queremos operar.’ Há alguns anos fomos abordados por uma companhia que nos ofereceu uma oportunidade de parceria — acho que na verdade uma aquisição. E não foi uma oferta trivial que estava sendo feita, mas uma das exigências era de que teríamos que abrir um escritório, então recusamos aquela oferta e pensando bem, acho que estamos muito felizes por termos feito isso.

A vantagem em permitir que as pessoas trabalhem de suas casas é óbvia, já que desta forma eles eliminam a necessidade de profissionais terem que se mudar sempre que forem contratados. Um exemplo citado por Kuperman é o de dois funcionários que trabalham num mesmo projeto, mas um mora na Nova Zelândia, enquanto o outro vive na Suécia. Apesar da diferença de fuso horário, isso não os impede de tocar o projeto.

Para isso a Nightdive sempre recorreu a serviços com os quais algumas pessoas só vieram tomar conhecimento após serem obrigadas a trabalhar remotamente, como o Discord ou o Slack. Outro segredo foi garantir que os funcionários não caíssem num dos maiores problemas da indústria, que são as jornadas de trabalho desumanas, o famoso crunch.

De acordo com Kuperman, é preciso que a empresa utilize sistemas para controlar o tempo que as pessoas tem passado trabalhando, para que assim elas não acabem prejudicando suas saúdes. Só esse cuidado já serve para mostrar que o estúdio é diferente da maioria do que vemos por aí, pois ao contrário do que muitos imaginam, na maior parte das vezes trabalhar na criação de games passa longe de ser algo divertido e/ou prazeroso.

No entanto, o próprio diretor reconhece que se hoje a Nightdive pode atuar desta maneira, muito se deve ao fato de eles não serem imensos. Contando com cerca de apenas 40 funcionários, isso lhes permite uma interação com todos os profissionais numa frequência quase diária, mas ele acredita que mesmo numa companhia maior essa adoção do trabalho remoto seria possível.

Game Dev Tycoon (Crédito: Divulgação/Greenheart Games)

O problema é que para muitos essa mudança no ambiente de trabalho se deu de maneira drástica e o resultado disso pode ser visto numa pesquisa realizada pela Game Developers Conference com 2.500 profissionais da área. Nela foi descoberto que 70% das pessoas passaram a trabalhar de casa, o que fez com que quase a metade afirmasse que a produtividade caiu durante o período de isolamento social e um terço apontasse queda na criatividade.

Entre os principais motivos para isso ter acontecido, os entrevistados citaram a má comunicação entre os profissionais envolvidos no desenvolvimento; a falta de acesso a ferramentas essenciais ao trabalho e o isolamento por si só. Contudo, boa parte dos entrevistados afirmou que os negócios não foram afetados pelo coronavírus ou até melhoraram, enquanto 62% não viu seus faturamentos mudaram nos últimos meses.

Eu confesso estar bastante curioso em relação a como o mundo lidará com essa forçada adesão ao trabalho remoto, pois ao mesmo tempo em que tenho visto amigos dizendo que suas empresas já cogitam manter esse modelo, é fácil encontrar pessoas criticando aqueles que estão realizando suas obrigações sem precisarem sair de casa.

Já para a Nightdive, hoje Larry Kuperman reflete sobre como a política adotada por eles saltou de algo fora do comum para motivo de serem procurados por outros estúdios para lhes darem conselhos de como administrar uma equipe que não está presente localmente. E se antes eu já era fã deles pelo esforço que fazem para manter viva a história dos games, agora os admirarei ainda mais.

Fonte: PCGamer

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