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Nightdive Studios e a restauração não-oficial de jogos

Sem conseguir os diretos para trabalhar com alguns clássicos, o Nightdive Studios quer criar um Patreon para financiar a restauração não-oficial de jogos

24 semanas atrás

Fundada em 2012, a Nightdive Studios nasceu com uma proposta muito legal, resgatar jogos antigos e lançá-los digitalmente para as plataformas modernas. Porém, um problema que a desenvolvedora sempre precisou encarar foi a obtenção dos direitos autorais dos clássicos, mas agora eles podem ter encontrado uma maneira de contornar essa dificuldade.

Crédito: Divulgação/Monolith

Mas antes de explicar a proposta feita recentemente pelo fundador do estúdio, vale contar o que motivou Stephen Kick a deixar seu emprego na Sony Online Entertainment e se dedicar à preservação de jogos. Tudo começou em 2012, quando ao lado de sua então noiva, Alix, o sujeito iniciou uma viagem de nove meses até a América Central. Foi naquela ocasião em que ele levou consigo um notebook e vários jogos antigos, para passar o tempo nos momentos de ócio.

Certo dia, enquanto estava num albergue na Guatemala, Stephen sentiu vontade de jogar o System Shock 2 e ficou frustrado ao constatar que o CD não estava funcionando. Sua primeira reação foi correr até o GOG, com o intuito de adquirir uma versão melhorada do FPS, mas ele descobriu que não havia uma maneira legal para comprar o jogo.

Após alguma pesquisa, o game designer chegou a Star Insurance Company, empresa que havia adquirido os direitos da franquia no fechamento da Looking Glass Studios e comprado a marca registrada da empresa que havia publicado o jogo, a Electronic Arts. Kick enviou alguns e-mails para os responsáveis pelo System Shock 2 e alguns dias depois, recebeu uma reposta, com o advogado da companhia questionando o que ele pretendia fazer com o jogo.

System Shock 2 - Nightdive Studios

System Shock 2, onde tudo começou (Crédito: Divulgação/Nightdive Studios)

Eles entraram em negociação, até que o rapaz conseguisse convencer a Star Insurance Company que valeria a pena não refazer o clássico, mas atualizá-lo e garantir que funcionasse em sistemas operacionais atuais. Restava o dinheiro necessário para o licenciamento, o que ele conseguiu com a ajuda de parentes e amigos, e em 7 de novembro de 2012, com a parceira que se tornaria sua esposa, ele fundou a Nightdive Studios.

Desde então, a desenvolvedora foi responsável por relançar diversos jogos que marcaram a década de 90, como Forsaken, Turok, Shadow Man, Blade Runner, Star Wars: Dark Forces e a própria série System Shock. Contudo, muitos outros permanecem inalcançáveis e é aí que poderá entrar uma bela sacada de Stephen Kick.   

Financiamento coletivo e os upgrades não-oficiais

The Operative: No One Lives Forever (Crédito: Reprodução/Alan Chan/MobyGames)

Usando sua conta no (X)witter, recentemente o CEO da Nightdive Studios lançou sua ideia aos seguidores e explicou como poderia ajudar a preservar alguns jogos cujos direitos autorais são difíceis de se obter. Ele disse:

“Você doaria a um Patreon ou algo similar para um estúdio fazer a remasterização/edição melhorada de um jogo? Teríamos que levantar consistentemente o suficiente para pagar os desenvolvedores, mas aqui estão algumas vantagens potenciais:

  • Acesso a um canal especial no Discord;
  • Votar no jogo que você quer ver remasterizado;
  • Acesso antecipado às versões;
  • Jogos não-jogáveis passariam a ser jogáveis e preservados;
  • Entrevistas com os desenvolvedores originais;
  • Lançamento de conteúdo cortado e não utilizado.

Cada jogo poderia levar um ano ou mais para ser entregue. A versão final do produto não poderia ser vendida, então não haveria lucro. Você precisaria ter uma cópia do jogo, pois o software não pode conter qualquer arquivo original devido a direitos autoriais.

O objetivo final é garantir que alguns jogos mais difíceis de licenciar recebam o amor que merecem e sejam preservados da melhor maneira possível.”

Stephen Kick ainda lançou uma enquete perguntando sobre o interesse das pessoas sobre algo nesses moldes e o resultado foi bem claro. Dos mais de 4,2 mil votos, 84,8% disseram que sim, que doariam para uma causa dessas, contra os 15,2% daqueles que responderam negativamente.

Como explicado pelo game designer na discussão que iniciou depois, um projeto assim só poderia atender os jogadores de PC. O problema é que para lançar nos consoles os jogos que eventualmente forem restaurados, a Nightdive Studios precisaria ter os direitos autorais, mas como dito anteriormente, essa iniciativa não-oficial miraria justamente nos títulos em que se tornou complicado obter essa permissão.

E entre os jogos que poderiam se beneficiar de um financiamento coletivo assim estaria um sonho antigo de Kick, a série No One Lives Forever. Em 2014 seu estúdio até fez o registro da marca, o que deu alguma esperança aos fãs, mas como ninguém sabe exatamente quem detêm os seus direitos, a franquia acabou caindo num limbo do qual nunca conseguiu sair.

No One Lives Forever - Nightdive Studios

Arte criada pelo Nightdive Studios em 2015 (Crédito: Reprodução/Plok/MobyGames)

Protagonizados pela agente Cate Archer, os dois jogos foram criados pela Monolith Productions, que anos depois seria comprada pela Warner Bros. Interactive. Já a sua publicação ficou sob a responsabilidade da Fox Interactive, que foi posteriormente adquirida pela Vivendi e então absorvida pela Activision. E nessa bagunça toda, ninguém parece ter muito interesse em resgatar dois ótimos FPSs.

Ainda segundo Stephen Kick, outros títulos que poderiam se beneficiar da sua proposta seriam os da série Unreal, assim como os dois primeiros Grand Theft Auto. Contudo, dependeria da votação com os possíveis colaboradores e o tamanho do projeto teria que levar em consideração a quantia doada por essas pessoas.

Porém, se no papel a ideia parece muito interessante, confesso ficar na dúvida sobre como alguns executivos poderão reagir à sua execução. Se hoje a Nightdive Studios tem dificuldade em encontrar aqueles que detêm os direitos sobre alguns jogos, não duvido que eles surjam de todos os cantos assim que descobrirem que alguém está mantendo um Patreon para revitalizar esses clássicos.

Se isso acontecer, como a desenvolvedora, que hoje pertence à Atari SA, lidará com a situação? Além disso, como se sentirão aqueles que contribuíram com o financiamento coletivo e viram um determinado projeto ser interrompido após alguns meses de trabalho?

Eu estou curioso para ver como essa ideia se desenrolará, pois mesmo reconhecendo não ser a melhor saída, ao menos ela surge como uma possibilidade de resgatar vários títulos que se perderam com o tempo.

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