Meio Bit » Games » Os jogos exclusivos estão com os dias contados?

Os jogos exclusivos estão com os dias contados?

Para ex-chefe da Sony Interactive, o preço do desenvolvimento dos jogos fez com que os exclusivos se tornassem o calcanhar de Aquiles das empresas

14/03/2024 às 11:05

Quando a Microsoft anunciou, há alguns anos, que todos os jogos publicados por ela seriam disponibilizados também no PC, alguns donos de Xbox ficaram revoltados. Recentemente a grita se tornou ainda maior, com a confirmação de que alguns títulos da empresa também apareceriam no Nintendo Switch e PlayStation. Egos a parte, para Shawn Layden, jogos exclusivos são o ponto fraco das produtoras.

O fim dos Jogos Exclusivos

Crédito: Reprodução/Freepik

Ao conceder uma entrevista ao site VentureBeat, o ex-presidente e CEO da Sony Interactive Entertainment America explicou porque acredita que a exclusividade é algo que se tornará cada vez mais rara. Spoiler: tem a ver com dinheiro, é claro!

“Quando o seu jogo excede os US$ 200 milhões [para ser produzido], a exclusividade é o seu calcanhar de Aquiles,” disse Layden. “Isso reduz o mercado que pode atingir, particularmente em um mundo de jogos como serviço ou free-to-play.”

“Outra plataforma é apenas uma nova forma de alargar o funil, atraindo mais pessoas [para o jogo],” defendeu o executivo. “Em um mundo free-to-play, como sabemos, 95% daquelas pessoas nunca gastarão um centavo. O negócio é todo sobre conversão. Você tem que melhorar suas chances abrindo esse funil.”

Layden então citou o caso do Helldivers 2, jogo lançado simultaneamente para PC e PlayStation 5, e que se tornou um enorme sucesso, mostrando à Sony que alcançar o maior público possível pode ser vantajoso. Ele também afirmou que a estratégia pode funcionar para jogos além do multiplayer ou como serviço.

Jogos Exclusivos

Crédito: Divulgação/PlayStation Studios

“Para os jogos single-player não é a mesma exigência, mas se você gasta US$ 250 milhões [num jogo], quer poder vendê-lo para o máximo possível de pessoas, mesmo que isso seja apenas 10% mais,” explicou. Segundo Layden, um dos problemas é que se pegarmos desde a época do primeiro PlayStation, o acumulado de consoles vendidos nunca passou de 250 milhões de unidades por geração, logo, a indústria estaria apenas tentando tirar mais dinheiro das mesmas pessoas.

“Não estamos fazendo o suficiente para atrair as pessoas que até então não usavam consoles,” disse. “Nós não iremos atrair elas fazendo mais da mer** que estamos fazendo agora. Se 95% do mundo não quer jogar Call of Duty, Fortnite e Grand Theft Auto, será que a indústria vai produzir mais Call of Duty, Fortnite e Grand Theft Auto? Isso não te levará a mais ninguém.”

Contudo, Shawn Layden não acredita que os jogos exclusivos sejam irrelevantes, ao menos num primeiro momento e deixou isso claro ao conversar com o pessoal do podcast What’s Up PlayStation. Durante a gravação, ele disse.

“A exclusividade sempre será importante, pois ajuda a focar e destacar as funcionalidades da sua plataforma. O que você pode fazer aqui tecnicamente que não pode fazer em nenhum outro lugar.

Mas, à medida que a sua plataforma se estabelece e o mercado reconhece onde você está sentado neste panteão de opções de jogos, acho que a necessidade de exclusividade diminuiu um pouco.”

Crédito: Divulgação/Bungie

Atualmente atuando como consultor para empresas como Tencent, Streamline Media Group e Readygg, Shawn Layden não está sozinho ao defender que as empresas precisam repensar a maneira como sempre trataram os jogos exclusivos.

Recentemente, o ex-chefe da divisão Xbox, Peter Moore, afirmou que a Microsoft estaria cogitando levar a franquia Halo para o PlayStatiom, situação que se fosse citada há alguns anos, provavelmente renderia uma chuva de ataques a ele.

“Se a Microsoft disser, ‘espere, estamos faturando US$ 250 milhões nas nossas plataformas, mas se considerarmos o Halo como, vamos chamá-lo de third-party, podemos fazer um bilhão,’” declarou. “Você tem que pensar muito sobre, certo? Quero dizer, você só precisa ir, a exclusividade deveria ser mantida? É uma peça de propriedade intelectual, é maior do que apenas um jogo e como você aproveita isso?”

Moore ainda chegou a afirmar que conversas em relação a como melhor aproveitar uma franquia acontecem a todo momento e que tem certeza de que em se tratando de Halo, elas estariam ocorrendo atualmente. Se elas resultarão na liberação da franquia Halo para outros consoles, aí só o tempo poderá nos dizer.

Crédito: Reprodução/vectorjuice/Freepik

O fato é que o custo de desenvolvimento de jogos aumentou muito na atual geração e com um risco tão alto envolvido, aquele antigo orgulho por um jogo só estar disponível numa plataforma é algo que só continuará pelo lado dos fanboys. Tanto Microsoft quanto Sony já perceberam que mais importante do que vender consoles é vender jogos e se uma produção pode alcançar a maior quantidade possível de pessoas, melhor deixar as “crianças” brigarem por qual videogame tem mais e melhores exclusivos.

Confesso que, para mim, os exclusivos continuam sendo o fiel da balança na hora de escolher qual aparelho comprar, principalmente numa época em que eles são tão parecidos. Contudo, é ótimo saber que terei acesso a uma franquia criada pela empresa que fabricou o console que não tenho e não me incomodo por as pessoas poderem conhecer algo que, a princípio, só deveria estar disponível no videogame que possuo.

Esse tipo de segregação deveria ser coisa do passado e por mais utópico que possa parecer a ideia de uma “plataforma única”, a impressão é que estamos caminhando justamente para isso. Exceto pela Nintendo. Quanto a essa, pode ignorar tudo o que eu disse, pois a empresa vive na sua própria realidade.

relacionados


Comentários