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Cérebro de passarinho? Corvos usam inferência estatística

Tidos como as aves mais inteligentes do Reino Animal, estudos mostram que corvos associam imagens às chances de receberem recompensas

31 semanas atrás

Os corvídeos (Corvidae) são as aves à qual pertencem os corvos, gralhas, pegas e gaios, entre outros. Esta família é conhecida pelo seu comportamento complexo, capaz de reproduzir padrões e costumes vistos apenas entre os primatas mais evoluídos, como chimpanzés, gorilas e o Homem.

Os corvos demonstram um nível de inteligência altíssimo para o tamanho do cérebro que possuem, e são as aves mais espertas do mundo natural. Por isso, não surpreende tanto que um estudo recente descobriu que corvos entendem e usam inferência estatística no seu dia a dia.

Corvos são capazes de atos únicos entre as aves, como a organização de ritos funerários (Crédito: Gary Henry)

Corvos são capazes de atos únicos entre as aves, como a organização de ritos funerários (Crédito: Gary Henry)

Corvos calculistas (literalmente)

Os corvos (vou usar o termo para me referir aos corvídeos em geral, ao invés de uma espécie específica) demonstram uma série de capacidades consideradas aplicáveis ao processo de pensar sobre o instinto, como a criação e uso de ferramentas, e o entendimento de si como indivíduo (self-awareness), demonstrado no teste do espelho, o único animal a passar (especificamente a pega-rabuda, Pica pica) que não é um mamífero.

A proporção entre o cérebro de um corvo e o restante de sua massa corporal é pouca coisa menor que a do ser humano, e igual à dos grandes primatas e golfinhos, o que pode explicar sua extensa lista de habilidades. Por exemplo, eles são capazes de demonstrar empatia e luto, no que grupos reconhecem quando um dos seus morre, e organizam ritos funerários para o "ente" querido.

Suas capacidades racionais e de resolução de problemas são igualmente avançadas. Corvos podem, por exemplo, colocar nozes em uma faixa de pedestres, para que carros as quebrem ao passarem por cima delas, e reconhecem o significado dos sinais de um semáforo, esperando que ele feche para veículos para só então, recuperar sua comida pronta para consumo.

Sim, tem vídeo da BBC, narrado por Sir David Attenborough:

Corvos também entendem Matemática, pois conhecem o conceito do zero, que lhes permite realizar operações simples, como somar e subtrair. Estamos falando de animais que divergiram dos humanos 320 milhões de anos atrás, e nem possuem um neocórtex, mas esta família de aves acabou desenvolvendo habilidades similares sem a necessidade de um cérebro especializado.

A Dra. Melissa Johnson, do departamento de Neurobiologia da Universidade de Tübingen, na Alemanha, é especializada em fisiologia animal e vem estudando o comportamento complexo dos corvos há algum tempo, e ela e sua equipe conduziram uma nova rodada de testes para determinar o quão hábeis com Cálculo esses animais, que não tem "cérebro de passarinho", são.

Para isso, dois corvos foram treinados para identificar diversas imagens em uma tela touch, e associá-las ao recebimento de recompensas. Nisso, a dificuldade foi aumentada ao introduzir o conceito de probabilidade, em que nem toda imagem "bicada" se reverteria em um agrado.

A equipe da Dra. Johnson notou, então, que os corvos começaram a selecionar quais imagens tinham mais probabilidades de se reverterem em recompensas ao serem bicadas, aplicando lógica estatística ao teste. Com isso, eles associaram cada uma das imagens exibidas a uma taxa diferente de sucesso.

Inferência estatística, o método usado pelos corvos para determinar quais imagens se revertiam em mais recompensas, é um processo que permite tirar conclusões de uma população de interesse de dados amostrais, permitindo a tomada de decisões com informações limitadas, envolvendo a memória e experiências anteriores.

De modo resumido, os corvos se lembram de quais imagens se revertem em mais recompensas, para garantir que eles teriam os melhores resultados a cada vez que duas imagens eram exibidas, visto que só poderiam bicar uma.

No experimento, os corvos sempre bicavam as imagens com mais chances de renderem recompensas (Crédito: Reprodução/University of Tübingen)

No experimento, os corvos sempre bicavam as imagens com mais chances de renderem recompensas (Crédito: Reprodução/University of Tübingen)

Ao fim de 10 dias, os dois corvos haviam sido submetido a 5 mil rodadas de seleção de imagens, no que eles otimizaram suas escolhas. A seguir, a equipe da Dra. Johnson esperou um mês para retomar o experimento, a fim de verificar se as aves ainda se lembrariam das escolhas feitas, o que foi comprovado sem nenhum tipo de queda no índice de sucesso; os corvos sempre escolhiam as imagens com mais chances de renderem recompensas.

Isso demonstra que o processo de inferência estatística não é exclusivo do ser humano, como se costumava pensar, ao mesmo tempo que demonstra a inteligência avançada dos corvos, que contam com a habilidade de abstrair, calcular e inferir probabilidades, em busca de uma maior taxa de atividades bem sucedidas.

Referências bibliográficas

JOHNSON, M., BRECHT, K. F., NIEDER, A. Crows flexibly apply statistical inferences based on previous experience. Current Biology, Volume 33, Edição N.º 15, 7 de agosto de 2023. Disponível aqui.

Fonte: Ars Technica

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