Ronaldo Gogoni 3 anos atrás
Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa é o mais novo filme do universo compartilhado da DC, quase uma aventura solo da Arlequina (Margot Robbie) acompanhada de outras mulheres p... da vida com o mundo, que buscam tomarem o rumo de suas vidas.
A palhaça lunática e pessoa horrível, como ela mesma diz, que muita gente tomou como heroína volta para mostrar que definitivamente, não é um exemplo a ser seguido por ninguém.
Afinal, o filme estrelado pela vilã mais doida de Gotham City e um bando de mulheres em busca de independência, respeito e vingança mandou bem? Confira na resenha sem spoilers a seguir.
As Aves de Rapina surgiram pela primeira vez na revista Showcase '96 Vol.1 #3, em uma história que envolvia Lois Lane e a Canário Negro, mas que sem a dona do Pulizter que mal consegue descobrir a identidade de um cara que se disfarça com um óculos soubesse, Dinah estava trabalhando junto com a Oráculo (Barbara Gordon, ex-Batgirl, que ganhou +20 de proeminência em computadores depois de ficar paraplégica), sendo as duas as fundadoras do grupo.
A formação clássica inclui também a Caçadora, mas com o passar dos anos o grupo incluiu membros dos mais diversos, como Mulher-Gato, Lady Falcão Negro, Mulher-Gavião (não confunda as duas), Rapina, Columba (Dawn Granger), Katana, Lady Shiva e até J'onn J'onzz, o Caçador de Marte.
Após Os Novos 52, Barbara voltou a ser Batgirl e a formação das Aves de Rapina se resume às três originais, com Mulher-Gato e Hera Venenosa servindo como reservas. Katana e Starling, entre outras já passaram pelo grupo, mas não ficaram. O grupo é uma extensão da Bat-família com agenda própria, tanto que no universo Pós-Crise nas Infinitas Terras (pré Os Novos 52), era financiado pelo Batman.
Para o filme, a Warner fez algumas modificações na formação, principalmente removendo a Batgirl/Oráculo e adicionando Cassandra Cain, uma pós-adolescente que nas HQs já foi uma das Batgirls, e Renee Montoya, uma detetive do GCPD linha dura, que surgiu na série animada do Batman e depois migrou para os quadrinhos.
Outra que fez o mesmo caminho que Montoya foi a Arlequina. A popularidade da vilã piradinha explodiu graças à ótima performance de Margot Robbie em Esquadrão Suicida, mesmo o filme não sendo lá muito bom. Curiosamente, Aves de Rapina é quase uma aventura solo da ex do Coringa com outras garotas a tira-colo, mas a trama foi muito bem conduzida.
O filme ocorre algum tempo depois de Esquadrão Suicida, que termina com a fuga de Arlequina da prisão, cortesia do Coringa. No entanto, o palhaço se enche de vez dela e lhe dá o pé na bunda definitivo (ela diz que foi mútuo), mas Quinzel fica de boca fechada por um motivo: por ser a namorada do maior vilão de Gotham, Arlequina goza de imunidade e ninguém, nem a polícia nem outros vilões, se metem com ela.
As coisas mudam quando a despirocada, completamente bêbada detona a Ace Chemical, a fábrica onde ela "nasceu", o que é prontamente entendido por todos como "Arlequina e Coringa terminaram". Assim, ela consegue colocar um alvo enorme na própria testa, com todo mundo que ela ferrou no passado tentando mata-la, além da polícia, especialmente Montoya (a atriz e ativista porto-riquenha Rosie Perez, de Faça a Coisa Certa e Homens Brancos Não Sabem Enterrar) cortando um dobrado para enjaula-la de vez.
A fábrica pertencia à família de Roman Sionis (Ewan "Obi-wan" McGregor), o vilão também conhecido como Máscara Negra, que manda em boa parte dos bandidos de Gotham. Ele está a procura de um diamante que contém a chave para uma fortuna incalculável. O problema é que a joia acaba nas mãos da trombadinha Cassandra Cain (Ella Jay Basco), que se torna a garota mais procurada de Gotham da noite para o dia.
Sionis tem uma boate, onde Dinah Lance, a Canário Negro (Jurnee Smollett-Bell) trabalha como cantora, se recusando a usar seus poderes para judar os outros e que depois trabalha como sua motorista, enquanto é uma informante de Montoya. Para completar o rolo temos Helena Bertinelli, a Caçadora (Mary Elizabeth Winstead, nossa Ramona favorita), que está fazendo a limpa em criminosos que mataram sua família, o que irrita Sionis ainda mais, sem falar que ela também possui ligações com o tal diamante.
Basicamente, as cinco mulheres têm algo em comum (Sionis as quer mortas) e acabam se unindo para saírem vivas da situação. No entanto, o filme corrige uma falha não intencional de Esquadrão Suicida, onde muita gente via a Arlequina como uma "boa moça", uma vítima do Coringa e alguém buscando redenção. Teve quem a tomou como heroína, mesmo ela dizendo com todas as letras:
Arlequina não é uma heroína, tampouco uma anti-heroína. Ela é uma vilã (piroquinha das ideias) e uma pessoa horrível, sabe o que está fazendo e poderia dar um rumo diferente à sua vida, mas não quer.
Assim como na excelente animação da Arlequina (ambas obras são bem similares), Quinzel deixa claro que ela sempre foi uma garota-problema desde a infância, que escolheu ser má e ficar ao lado do Coringa, até o eventual fim do relacionamento. De qualquer forma, ela está de saco cheio de ser vista como um acessório, dependente ou submissa a um homem ou a quem quer que seja (como todas as demais) e está em busca de respeito, embora isso signifique construir sua própria carreira de vilã. Como na sua série solo animada.
Harleen está além de redenção e não quer nem saber de fazer o bem, só está interessada em salvar a própria pele, e se para isso ela tiver que ferrar com a vida inclusive de suas parceiras, ela o fará sem pensar duas vezes. Ela não é um exemplo e desta vez, desenhou isso muito bem.
O filme dirigido por Cathy Yan (Dead Pigs) e produzido por Margot Robbie fugiu da colcha de retalhos de Esquadrão Suicida, que começou sério, foi reeditado para ficar mais engraçado e acabou não sendo nenhum dos dois, e enfia os dois pés no estilo de Deadpool: Arlequina narra toda a história em off mas como ela é da pá virada, muitas vezes vai e volta para mostrar eventos passados e encaixa-los melhor na trama, conta coisas diferentes do que ocorrem na tela (como o fora do Coringa e sua "recuperação"), e faz até uma pausa para narrar a história de origem da Caçadora.
Ainda assim, Quinzel continua sendo inteligente a beça, seu doutorado em psiquiatria a permite analisar a psique de qualquer um em 30 segundos (ela quebra as mentiras da Cain só de bater o olho nela) e é uma excelente lutadora, suas sequências de ação são muito boas. Todas as demais (com exceção de Cain), especialmente a Canário batem muito bem também.
E os antagonistas... Ewan McGregor está perfeito como Roman Sionis, um homem mimado que caiu em desgraça após ser deserdado, e que resolve ser vilão para recuperar o respeito que perdeu. Ele é desequilibrado, detesta ser contrariado, é cruel mas nunca resolve nada com as próprias mãos, preferindo recorrer a seus capangas, que são muitos.
Seu braço direito é Victor Zsasz (Chris Messina, o Reese Lansing de The Newsroom), um assassino serial que adora esfolar suas vítimas e que tem um hábito bizarro: ele possui inúmeras cicatrizes pelo corpo, uma para cada pessoa que matou, sempre feita imediatamente após o ato e com a mesma arma que usou no crime.
Messina é competente, mas não consegue passar o terror que Zsasz inspirava nos quadrinhos, um lunático completo e talvez o mais perigoso assassino de Gotham, até mais do que o Coringa.
Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa possui uma história muito bem contada, um ritmo certo sem barrigas, explora bem cada um dos personagens (protagonistas e vilões) e diverte o espectador, não depende de figurões como Batman ou Coringa e é uma aventura compacta, com início, meio e fim, que deixa a porta aberta para mais tramas de todas as personagens.
Talvez a Warner e DC tenham achado um rumo: produções fechadas sem complicações que podem, ou não levar a continuações ou derivados, e não focar tanto em um universo compartilhado. Funcionou para Aquaman e Shazam!, funcionou muito bem com Coringa, funciona aqui e esperamos que funcione também em Mulher-Maravilha 1984.
5/5 sanduíches de ovo.