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PS5 Pro, preços, obsolescência, e espertalhões

Sony quer gamers pagando US$ 700 no PS5 Pro, e pode repetir estratégia do PS4 Pro; scalpers já estão zerando estoques do leitor de disco

12/09/2024 às 11:00

Nesta terça-feira (10), a Sony revelou finalmente o PS5 Pro, uma versão revista e mais poderosa de seu atual console. Ele conta com uma NPU (Unidade de Processamento Neural) com arquitetura XDNA 2 da AMD, para a tecnologia de upscaling usando Inteligência Artificial (IA) proprietária, chamada PlayStation Spectral Super Resolution (PSSR), além de GPU e RAM mais rápidas, e ray tracing avançado.

Só que este é o Meio Bit, e ao invés de publicar um press release, vamos analisar o lado feio do PS5 Pro, que não se resume ao preço sugerido de US$ 700.

PS5 Pro chega em novembro de 2024 em mercados selecionados (Crédito: Divulgação/Sony)

PS5 Pro chega em novembro de 2024 em mercados selecionados (Crédito: Divulgação/Sony)

PS5 Pro e preço vs. potencial

Primeiro vamos tirar o bode da sala, em partes. O PS5 Pro é uma insanidade, US$ 700 é a maior cifra pedida por um produto da categoria, empatando com o base do 3DO em 1994 (que foi vendido por diversos fabricantes, geralmente por menos que isso), mas proporcionalmente ele não é o console mais caro da história.

A coroa ainda pertence ao Neo Geo AES, lançado em 1991 por US$ 650, o que corrigido pela inflação, equivale a absolutamente insanos US$ 1,5 mil em valores atuais. Mesmo hoje comprar um usado requer bolsos muito fundos, é impossível por as mãos na versão doméstica da placa de Arcade Neo Geo MVS da SNK, sem desembolsar por volta de R$ 5 mil, no mínimo.

Voltando ao PS5 Pro, há uma série de motivos do porquê a Sony chutou o balde com o console, e eles não estão diretamente ligados ao hardware mais poderoso e rápido. Um deles é o cenário de consequências da pandemia da Covid, que desestruturou toda a cadeia de suprimentos de componentes, e até hoje as coisas não se normalizaram.

Outro motivo é a falta de concorrência: a Microsoft não deve apresentar uma versão revisada do Xbox Series X, a fim de se concentrar na próxima geração, que pode não demorar muito a aparecer, principalmente porque a atual vendeu menos que a anterior. Diferente do que aconteceu com a disputa PS4 Pro vs. Xbox One X, o PS5 Pro está sozinho como "console 2.0 de meio de geração".

De novo, a pandemia teve um fator revelante na queda de vendas, com ofertas de emprego diminuindo, escalada da inflação, e redução do poder aquisitivo, boa parte do público teve que rever suas prioridades, e investir em games não foi uma delas. Ao mesmo tempo, uma das grandes críticas à geração atual, é o pouco distanciamento técnico entre elas, ou em outras palavras, o PS5 e o Xbox Series X ainda não usaram todo o seu potencial.

Diferente do que aconteceu na transição da 7.ª para a 8.ª geração, desenvolvedoras first e third parties continuam lançando games para o PS4 e o Xbox One, quase quatro anos após a introdução dos consoles atuais, enquanto lá atrás, o PS3 e o Xbox 360 foram quase que completamente abandonados pelos estúdios entre 2014 e 2015.

De novo, a "esticada" na vida útil da 8.ª geração se deu principalmente devido à pandemia, mas como efeito colateral, games para ambas precisam ser nivelados por baixo; se o PS5 ainda não foi forçado ao máximo por um número suficiente de games, qual é o sentido em um PS5 Pro?

Sobre o preço em si, embora muito alto, seria justificado pela presença de uma NPU, porque tudo agora precisa ter recursos de IAs generativas, e sua inclusão encareceu o projeto, mas não seria o suficiente para chegar a tal marca. O que se deu aqui foi a Sony abandonando a estratégia de vender consoles no prejuízo, e preferindo proteger suas margens de lucro.

Com o PS5 Pro não tendo concorrência da Microsoft de um console revisado, e desconsiderando completamente o próximo lançamento da Nintendo, que não é vista como adversária, a Sony Interactive Entertainment (SIE), comandada pelo CEO Hiroki Totoki, pode se dar ao luxo de cobrar o quanto quiser pelo gadget, pois acredita, de forma correta, que há público para ele.

De fato, muitos se sentirão propensos a até mesmo substituir o PS5 pelo PS5 Pro, porque se lembram do que aconteceu na geração anterior.

Obsolescência programada, PS4 Pro e Xbox One X

Quando o PS4 Pro foi anunciado em 2017, não demorou muito para que minha principal preocupação se tornasse real: The Last Guardian e o remake de Shadow of the Colossus, rodavam não apenas com gráficos mais bonitos no console revisado, mas também com maior estabilidade. Estúdios internos da Sony passaram a priorizar o hardware mais novo, o que não demorou para ser estendido também às third parties.

Um dos games do "fim da geração" (só que não), o gacha Genshin Impact, lançado em setembro de 2020, é hoje o melhor exemplo disso. Desde o início, ele sofria para entregar uma taxa de quadros estável no PS4 Fat e PS4 Slim, enquanto fluia confortavelmente a 30 quadros por segundo (fps) no PS4 Pro.

Depreciar o PS5 original e o Slim em prol do PS5 Pro faz parte da estratégia de obsolescência programada, uma prática antiga que começou com lâmpadas. Aqui, quem comprou o modelo original no lançamento será estimulado a migrar para a versão mais potente, por puro medo de, em um futuro próximo, ficar limitado a experiências em games significativamente inferiores, em termos de gráficos e mesmo de estabilidade e/ou recursos.

Sim, eu disse que o PS5 não foi explorado em seu potencial completo, o Xbox Series X também não, mas de novo, veja o caso das lâmpadas. A experiência geral em um produto antigo pode muito bem ser intencionalmente deteriorada, como forma de forçar o consumidor a gastar mais pelo produto "melhor" e "mais capaz".

Vários usuários, eu incluso, notaram inclusive que tão logo o PS5 e o Xbox Series X|S foram lançados, todos os consoles das linhas PS4 e Xbox One ficaram consideravelmente mais lentos para executar diversas ações, principalmente carregar jogos, o que foi entendido como uma atualização OTA deliberada, para deteriorar a experiência das plataformas legadas.

Embora em menor escala quando comparado ao que aconteceu com o PS4 Pro, vários games do console de 8.ª geração da Microsoft também eram mais estáveis no Xbox One X, do que no Xbox One Fat/S.

Com desculpa de "mais poder", Sony e Microsoft (em menor grau) indiretamente influenciaram desenvolvedores a priorizarem o PS4 Pro e o Xbox One X (Crédito: Android Central)

Com desculpa de "mais poder", Sony e Microsoft (em menor grau) indiretamente influenciaram desenvolvedores a priorizarem o PS4 Pro e o Xbox One X (Crédito: Android Central)

Na época, eu vendi meu PS4 Fat e comprei o PS4 Pro, por pura preocupação, e não demorou para que a Sony fizesse exatamente o que eu temia que faria. Nada impede que ela tente fazer o mesmo com o PS5 Pro, que chegou custando bem mais; o revisado anterior teve preço sugerido inicial de US$ 400 nos Estados Unidos, e R$ 3 mil no Brasil.

Com uma etiqueta de US$ 700, é possível que o PS5 Pro desembarque por aqui custando entre R$ 6 mil e R$ 7 mil, até mesmo mais, se a Sony adotar no nosso mercado a estratégia praticada no exterior de não subsidiar o preço, e continuar priorizando as margens de lucro.

Sobre mídia física e scalpers

Além do PS5 Pro não se justificar como um upgrade necessário, o público tomou como ofensa pessoal a decisão da Sony de vender o console sem o leitor de disco, que com o lançamento do modelo Slim passou a ser destacável, e consequentemente um upgrade à parte por US$ 80, ou R$ 600 no Brasil (preços oficiais).

O entendimento é que por US$ 700, a fabricante japonesa tinha por obrigação incluir o drive E o suporte, que também é vendido separadamente (o Fat vinha com tudo na caixa, até porque o leitor era embutido no modelo mais caro), mas o movimento é um passo em uma tragédia mais do que anunciada, o fim das mídias físicas.

O leitor destacável está sendo encarado como uma transição para um formato de distribuição apenas digital já na próxima geração, com preços controlados pelos estúdios e fabricantes, e o fim de "saldões" e de promoções ditadas pelo varejo, e das vendas de games usados pelos usuários. A Microsoft também já sinalizou esse caminho, com um Xbox Series X sem leitor, sem falar no grande foco dado ao Xbox Game Pass e Xbox Cloud Gaming.

Por outro lado, quem migrar para o PS5 Pro do PS5 ou PS4, e ainda tiver mídias físicas, será obrigado a adquirir o leitor de disco e gastar ainda mais, e pensando nisso, os scalpers já se adiantaram.

Scalpers já estão zerando estoques do leitor de disco do PS5, e revendendo a preços altos; no Reino Unido, o oficial é £ 100 (Crédito: Reprodução/eBay)

Scalpers já estão zerando estoques do leitor de disco do PS5, e revendendo a preços altos; no Reino Unido, o oficial é £ 100 (Crédito: Reprodução/eBay)

Nas redes sociais, várias pessoas começaram a comentar que o leitor de disco do PS5 começou a sumir das prateleiras em diversos países, dos EUA e Canadá ao Reino Unido e países da União Europeia (UE). No início, parecia ser um movimento de consumidores interessados no PS5 Pro, já comprando o drive para se adiantar, mas o volume de compras não parecia ser orgânico, mas coordenado e voltado a zerar estoques.

Não demorou muito para Amazon, Best Buy, Target e outras redes reportarem que o produto esgotou, e logo começaram a surgir anúncios em sites de leilão, como o eBay, com "revendedores legítimos extraoficiais" (eles odeiam ser chamados de scalpers e picaretas digitais, que é exatamente o que são) oferecendo o acessório, cobrando valores de duas a até três vezes maiores.

Nos EUA, existem Projetos de Lei que propõem a criminalização da ação de scalpers de bens de consumo, parados há anos porque a ala republicana não vê problema nisso; representantes afirmam que "as relações de compra e venda seguem normais", onde entendem que qualquer um tem o direito de comprar um produto, mesmo chegando ponto de garantir todo o estoque para si, e revendê-lo pelo valor que quiser.

Por enquanto, o leitor de disco do PS5 segue disponível na rede varejista do Brasil, por valores em torno de R$ 540, mas não se sabe se isso vai durar por muito tempo mais.

Conclusão

Assim como toda novidade tecnológica, o PS5 Pro chegará custando caro, mas não deve permanecer assim por muito tempo. Tanto os early adopters quanto os que ficarem com medo (fundamentado) de uma depreciação do PS5 Fat/Slim, serão os responsáveis pela tração inicial das vendas, e por mais que muitos neguem, o console vai vender bem.

Provavelmente ele não alcançará a mesma marca dos modelos mais em conta, assim como aconteceu na geração passada, mas projeções indicam que ele pode vender por volta de 1,3 milhão de unidades só em 2024, e 13 milhões até 2029, quando o PS6 já deverá estar no mercado; dependendo de quanto custa à Sony fabricar cada unidade, estes parecem ser ótimos números para os executivos da gigante japonesa.

Pior para os gamers.

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