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Embracer: e se cobrarmos mais caro pelos jogos?

Para CEO do Embracer Group, se os lançamentos custassem mais que US$ 70, mercado receberia mais jogos e o risco das editoras seria menor

03/06/2024 às 10:35

Do fechamento de estúdios como o Volition, Free Radical Design e Saber Interactive, ao cancelamento de 29 projetos que nem tinham sido anunciados, além das demissões em massa, nos últimos meses o Embracer Group fez diversos movimentos que ajudaram a empresa a se tornar alvo de duras críticas. Mesmo assim, o CEO da editora não pareceu preocupado em defender a polêmica opinião de que os jogos deveriam custar mais caros.

Embracer Group

Crédito: Divulgação/ Embracer Group

Embora os consumidores tenham odiado o aumento de US$ 10 que os lançamentos receberam na atual geração, em conversa com o site GamesIndustry Lars Wingefors declarou acreditar que talvez só precise que uma empresa volte a aumentar o preço para que outras sigam seu caminho.

“A realidade é que ninguém tentou isso,” afirmou. “É algo que estamos discutindo, mas atualmente aderimos à prática do setor. Será aquela [a empresa] que um dia tentará aumentar os preços? Ainda veremos.”

Para Wingefors, “a indústria está encarando o mesmo problema de todas as outras indústrias, com inflação e o aumento no custo do desenvolvimento de jogos.” Ele então admitiu que é difícil fazer esse aumento no preço e que por isso o valor se manteve igual por muitos anos, “o que significa que a margem de sucesso é menor e acima de tudo, há um custo de capital elevado.”

Segundo o executivo, os consumidores são muito inclinados a adquirir continuações para franquias que já conhecem, “o que dificulta fazer com que tentem novas coisas ou propriedades intelectuais,” preferência que o Embracer Group tentou se adaptar no ano passado.

Wingefors então usou outro argumento para justificar lançamentos sendo vendidos acima da já lamentável faixa de US$ 70: o tamanho dos jogos. “Se você criar um enorme RPG, por exemplo, com 100 ou 150 horas de jogabilidade, muito polido e com uma experiência única, o consumidor estaria disposto a pagar mais?”

Embracer Group

Alone in the Dark dura menos de 10 horas e saiu por mais de R$ 300 nos consoles (Crédito: Divulgação/ Embracer Group)

Pois para o CEO, uma resposta positiva para essa pergunta levanta outra dúvida, que é a possibilidade de os jogos custando mais caro permitirem que mais produtos cheguem ao mercado. Para mim isso é contraditório, pois jogos maiores inevitavelmente elevariam o custo de produção, o que consequentemente voltaria a ser usado como desculpa para que um lançamento fique mais caro.

De qualquer forma, Wingefors insistiu na ideia de que desde que um título entregue mais conteúdo, as pessoas abrirão suas carteiras, algo que vai ao encontro do que defendeu Doug Bowser em relação ao preço mais alto cobrado pelo The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom.

“Eu simplesmente acredito que há consumidores dispostos a se envolverem com esses incríveis RPGs e outros jogos single-player e em última análise, que eles estão dispostos a gastar dinheiro com eles,” disse o CEO da Embrace. “Você aumenta os preços ou torna os jogos mais curtos? Acho que há maneiras. Acho que seria muito triste se tudo se tornasse grandes títulos multijogador e com monetização in-game. Há milhões de consumidores dispostos a se envolver mais com jogos clássicos.”

Concordo que exista espaço para todo tipo de jogo e jogador, mas será que sou a único a ficar incomodado com a ideia de que ou a indústria eleva o preço cobrado por um lançamento, ou reduz o tamanho das aventuras que nos são entregues? Isso me parece o conceito da reduflação, em que pagamos o mesmo por algo com menos conteúdo.

Crédito: Divulgação/Arrowhead Game Studios

Enfim, que o custo de produção dos jogos vem aumentando consideravelmente geração após geração, não é surpresa para ninguém, mas basta olharmos para alguns exemplos que conseguiremos notar títulos que entregaram muito e foram vendidos por preço até abaixo do “novo normal” da indústria. O Helldivers II é um deles.

Tendo se tornado o sétimo jogo da divisão PlayStation em termos de vendas e arrecadação, com mais de oito milhões de cópias vendidas apenas nos dois primeiros meses de vida, obviamente isso tem muito a ver com a qualidade do produto entregue pela Arrowhead Game Studios. Porém, alguém duvida que o preço de US$ 40 cobrado por ele não tem influência nesse sucesso comercial?

Com milhões de pessoas investindo dezenas, centenas, de horas no Helldivers II e considerando as muitas vendas que ele já fez, seria justo sua desenvolvedora aumentar o valor cobrado? E no caso de títulos que duram dez, às vezes até menos horas? Por que as empresas insistem em vendê-los por US$ 70?

Crédito: Divulgação/Rockstar Games

Pois esse é um debate que parece interminável, mas sou inclinado a concordar com o CEO da Take-Two quando ele afirmou que no campo do entretenimento, os videogames possuem um custo x benefício imbatível.

“Acho que a indústria como um todo oferece uma excelente oportunidade para os consumidores [...],” disse Strauss Zelnick. “Há muito valor oferecido e é a nossa estratégia entregar muito mais valor do que aquilo que cobramos dos consumidores.”

Esse aumento fatalmente acontecerá e a julgar pela declaração de Lars Wingefors, o Embracer Group estaria apenas aguardando o movimento realizado por outra editora para também elevar o preço pedido pelos seus lançamentos e sou capaz de apostar que nesse momento há muitas outras empresas na mesma situação. A dúvida, portanto, passa a ser: quem será o primeiro que se colocará na mira da indignação dos consumidores?

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