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Persona 3 Reload e os jogos que falham em nos fisgar

Persona 3 Reload renova um dos JRPGs mais adorados e pode ser uma ótima porta de entrada para quem não conhece a franquia — mas não foi o meu caso

05/02/2024 às 9:40

Eu sempre gostei muito de JRPGs, mas por algum motivo, a série Persona nunca chamou muito a minha atenção. Então, quando soube que a Atlus estava trabalhando num remake do terceiro capítulo da franquia, passei a enxergar nele uma ótima oportunidade para dar uma chance à principal marca da empresa e após fazer isso, estou convencido de que talvez ela não seja para mim.

Persona 3 Reload

Crédito: Divulgação/Atlus

Lançado originalmente para o PlayStation 2, em 2006, Persona 3 é apontado por algumas pessoas como o jogo mais importante da série. Foi ele que moldou certos elementos que se tornariam padrão na série, além de ter sido o responsável por fazer explodir a popularidade no ocidente.

Tamanho sucesso resultou em remasterizações e lançamentos para diversas plataformas, mas os fãs seguiam clamando por um remake. Por se tratar de um jogo lançado há quase duas décadas, as pessoas acreditavam que ele poderia ser modernizado e pensando nisso, a desenvolvedora japonesa apostou no Persona 3 Reload.

Disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series S|X, esta nova versão conta a história de um garoto que perdeu os pais em um acidente de carro e por isso foi morar em Tatsumi Port Island. Já no primeiro dia, enquanto se dirige para o dormitório da Gekkoukan High School, o protagonista encontra uma estação de trens deserta, com caixões espalhados para todos os lados.

Apesar de estranhar a situação, ele segue seu caminho naturalmente e ao adentrar o lugar que será sua nova moradia, encontra um misterioso garoto que mais parece uma assombração. A partir daquele momento passaremos por uma longa sequência de diálogos, onde descobriremos que o nosso personagem é alguém capaz de enxergar o mundo durante a Hora Sombria.

Mistérios da meia-noite...  

Crédito: Divulgação/Atlus

Ocorrendo sempre entre um dia e o outro, o período conhecido como Hora Sombria faz com que todas as pessoas sejam transformadas nos caixões que vimos ao chegar na ilha. Também é neste momento que seres conhecidos como Sombras passam a vagar pelo mundo, além da escola em que estudamos ser transformada num labiríntico lugar conhecido como Tártaro.

Porém, o maior problema da mudança para esta nova dimensão é que os monstros se aproveitam para se alimentar da mente dos seres humanos, fazendo com que eventualmente as pessoas entrem num estado catatônico, uma condição conhecida como Síndrome da Apatia.

Mas enquanto a maior parte da população não tem a menor ideia do que as está deixando doente, aqueles que conseguem permanecer acordados durante a Hora Sombria se organizam para revidar, dando origem ao Specialized Extracurricular Execution Squad (S.E.E.S.). Formado basicamente por alunos do Ensino Médio, o grupo conta com uma vantagem, as Personas.

Invocadas após o portador disparar um objeto parecido com uma arma contra a própria cabeça, esses poderosos seres são baseados em elementos e possuem um papel fundamental na jogabilidade. Será com eles que faremos os ataques mais fortes, já que os inimigos possuem fraqueza e resistência a certos elementos e após detectarmos esses pontos fracos, os combates poderão se tornar muito mais fáceis.

Persona 3 Reload

Crédito: Divulgação/Atlus

Isso se deve ao fato que, ao atingirmos uma Sombra com um elemento que é seu ponto fraco, poderemos realizar um segundo ataque. Assim, podemos encadear sucessivos ataques que enfraqueçam os monstros e muitas vezes passaremos pelas lutas sem nem sermos atingidos. Esse elemento estratégico faz com que as batalhas sejam muito divertidas e como existe a possibilidade de encontrarmos novas Personas durante as lutas, a caça por seres variados (e mais fortes) será constante.

O problema aqui é que os combates só acontecem quando estivermos no Tártaro, uma torre cuja dificuldade vai aumentando conforme a escalamos e que infelizmente não entrega muita variedade visual. Desta forma, não demorará até aparecer a sensação de que não estamos avançando, algo que os próprios personagens comentam entre si.

Isso me leva a outro aspecto do Persona 3 Reload que me desagradou: a baixa velocidade da progressão. No jogo, tudo parece se desenrolar muito lentamente, com o enredo demorando para chegar a pontos importantes (e interessantes) e a repetição no Tártaro prejudicando a parte da jogabilidade que considero a mais divertida.

A vida como ela é (nos animes)

Crédito: Divulgação/Atlus

E quando falo que as batalhas são uma parte da jogabilidade, digo isso porque a outra foca no aspecto social. Ou seja, durante grande parte do jogo estaremos vivendo na pele de um adolescente, o que inclui ir para a escola, estudar, encontrar um emprego de meio período para levantar uma graninha ou simplesmente curtir o tempo livre com amigos.

Além de um típico JRPG, Persona 3 Reload é também um simulador de vida, onde o vínculo social será muito importante para evoluirmos como invocadores dos seres que nos ajudarão nas batalhas. Por isso teremos que gerenciar da melhor maneira possível o nosso tempo, pois assim como na vida real, as 24 horas do dia não serão suficientes para fazermos tudo o que quisermos — mesmo com a adição da tal Hora Sombria.

Eu gostei dessa camada que o título nos entrega, principalmente por não ser comum um RPG que se passa nos dias atuais, onde podemos pegar o metrô, visitar um café ou levar o protagonista para se divertir em um fliperama. Porém, a maneira como o jogo entrega esse pacote acabou me afastando.

Por mais que corra o risco de ser atacado por isso, a verdade é que nunca fui um grande admirador de animes. Para mim, é estranho a maneira como essas animações entregam boa parte dos personagens, quase sempre com uma abordagem caricata e muito estereotipada. E a aproximação do Persona 3 Reload com esse tipo de desenho é bastante evidente.

Um protagonista que se torna popular na escola apenas por chegar no primeiro dia de aula acompanhado por uma garota bonita; um irritante amigo que está sempre fazendo comentários (que deveriam ser) engraçados; uma estudante apenas um ano mais velha que a gente, mas que parece uma sexy mulher acima dos 30; um companheiro experiente e idolatrado, mas que não é mais forte que o nosso personagem... Enfim, tudo isso pode ser natural naquele universo, mas, para mim, acaba quebrando a imersão.

Talvez seja um certo preconceito da minha parte, talvez me falte uma pitada de bom humor, mas o exagero na construção dos personagens é algo que também me afastou de outra franquia japonesa que muitos adoram, a Yakuza. Verdade seja dita, em Persona a dose é muito menor.

Uma pescaria fracassada e a hora de parar

Persona 3 Reload

Crédito: Divulgação/Atlus

Ao apontar aquilo que me levou a não ser fisgado pelo Persona 3 Reload, pode parecer que eu tenha achado o jogo horrível ou que não reconheço suas qualidades, mas juro que não foi essa a intenção.

Talvez eu o tenha dado uma oportunidade num momento em que não estou tão aberto a uma experiência como a que ele se propõe. Pode ser que em outro momento ele acabe me conquistando ou quem sabe, essa maneira japonesa de contar histórias de adolescentes simplesmente não faça meu estilo — suspeita que cada vez mais acredito ser a correta.

Persona 3 Reload é um jogo muito bonito, que rodou bem mesmo no meu Xbox One X e que possui um sistema de batalhas que achei fascinante. Sua trilha sonora está tranquilamente entre algumas das melhores que já ouvi em um game e acredito que a ideia de colecionar Personas poderia me manter entretido por um bom tempo.

Mesmo assim, após algumas horas conhecendo suas mecânicas e encarando incursões na misteriosa torre que serve de campo de batalha, as perguntas que não saiam da minha cabeça eram: por que continuo me dedicando a esse jogo? Não seria melhor aproveitar meu tempo jogando algo que me agradasse mais?

Eu sempre acreditarei na ideia de que, para considerarmos um jogo como bom, ele precisa nos deixar com vontade de voltar a todo momento, nos fazer contar os minutos para podermos sentar diante da TV e continuar a progressão. Pois o Persona 3 Reload nunca ativou esse gatilho em mim.

Crédito: Divulgação/Atlus

E repito, tenho plena consciência de que o problema aqui não está no ótimo trabalho realizado pela Atlus. Como não cheguei a jogar o original, não posso confirmar isso, mas acredito nas pessoas que estão tratando esse como um remake que beira a perfeição.

Porém, depois de tantos anos dedicados aos videogames e gostando de praticamente todos os gêneros, cheguei à conclusão de que nem todos os jogos conseguirão me agradar — e tudo bem. Neste caso, talvez o melhor seja admitir que, mesmo com todas as qualidades e entendendo por que as pessoas podem gostam do Persona 3 Reload ou da série como um todo, talvez ela simplesmente não tenha sido feita para mim — e tudo bem.

Pode ser que um dia eu volte a esse capítulo, pode ser que no futuro eu acabe dando uma chance ao Persona 5, que sempre ouvi muitos elogios. Até lá, acredito que o melhor seja me aventurar por outros universos e deixar que os fãs aproveitem essa que é uma das franquias mais idolatradas do mundo.

Eu sempre acabo me sentindo mal quando falho em encontrar diversão num título que muitos adoram. Porém, a verdade é que Persona não é a única série idolatrada que não conseguiu me conquistar — e preciso acreditar que está tudo bem.

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