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A convincente metamorfose de Yakuza: Like a Dragon

Trazendo uma mecânica bem diferente dos anteriores e funcionando como um RPG, entenda por que o Like a Dragon foi o primeiro Yakuza que me conquistou

3 anos atrás

Um dos ditados mais conhecidos do futebol diz que “em time que está ganhando, não se mexe.” E deve ter sido pensando nisso que muitos fãs ficaram desconfiados quando a Sega anunciou que o oitavo capítulo de uma das suas principais franquia daria uma guinada radical no estilo, mas como alguém que nunca deu muita bola para a série Yakuza, foram justamente as mudanças que chamaram a minha atenção no Like a Dragon.

Yakuza: Like a Dragon

Crédito: Divulgação/Sega

Apontada por muitos como uma sucessora espiritual dos dois primeiros Shenmue, este talvez tenha sido um dos motivos que me levaram a ignorar a série Yakuza por tanto tempo. Mesmo que inconscientemente, sempre achei que encarar a criação de Toshihiro Nagoshi resultaria em decepção, com os jogos sendo incapazes de superar aqueles que considero entre os melhores já feitos.

Mesmo assim, recentemente resolvi dar uma chance à franquia através do Yakuza Kiwami e embora tenha gostado de alguns aspectos, não cheguei a avançar muito em sua campanha. Uma das coisas que me incomodou foram as batalhas um tanto simplórias, mas também não gostei muito do exagero na ambientação, com os personagens e suas atitudes parecendo muito terem saído de um anime.

E por mais que tentasse gostar de um jogo que era tão adorado por várias pessoas, eu havia chegado à conclusão de que talvez ele não fosse para mim e acabei o deixando de lado. Porém, aquela resistência continuaria me assombrando pelos meses seguintes, me perseguindo como um assustador fantasma, afinal, como eu poderia ousar não gostar da tão aclamada franquia Yakuza?

Crédito: Divulgação/Sega

O nascimento de um dragão

O tempo foi passando e vez ou outra eu lembrava que precisava dar uma nova chance àquele remake. O problema é que com tantos jogos que me pareciam mais interessantes, aquele título sempre acabava sendo jogado mais para o final da fila, até que surpreendentemente a série voltaria a entrar no meu radar por um por detalhe que considero inesperado: batalhas por turnos.

Embora eu adore RPGs, de uns anos para cá percebi que consigo me divertir muito mais com os jogos do gênero que nos colocam para lutar em tempo real. Sim, eu passei por toda a era de role-playing games focados em lutas onde os personagens se alternavam para desferir golpes, mas hoje esse tipo de batalha tende a me deixar entediado e querer desistir do jogo mais rapidamente.

Contudo, a ideia de um Yakuza que funcionasse desta maneira me pareceu fascinante. Eu queria ver se o diretor Ryōsuke Horii havia conseguido fazer um bom trabalho ao mudar tanto a estrutura de uma série que estava por aí há mais de uma década e que tinha entregado diversos capítulos. Aquela parecia uma aposta um tanto arriscada, mas não seria a única que ele e sua equipe faria.

Acontece que Yakuza: Like a Dragon também gira em torno de um novo protagonista, Ichiban Kasuga. Depois de nos colocar na pele de Kazuma “o Dragão de Dojima” Kiryu por tanto tempo, desta vez conheceríamos a história de um novato que faz parte da Família Arakawa, do Clã Tojo. Tendo sido salvo pelo patriarca do grupo quando era bem jovem, o protagonista passou a dedicar sua vida à máfia japonesa, realizando tudo o que os seus superiores exigem.

Como não quero estragar a surpresa de quem for jogar, me limitarei a dizer que a subserviência de Ichiban resulta numa história de traição e vingança, fazendo crescer a nossa empatia por ele e a curiosidade em saber o que o levou a ter que recomeçar em uma nova cidade. Aliás, apesar do início do jogo se passar na tão conhecida fictícia região de Kamurocho, Tóquio, a maior parte da história se passará em Yokohoma, outra das mudanças empregadas pelo título.

Yakuza: Like a Dragon

Crédito: Divulgação/Sega

Um cadenciado RPG nos dias atuais

Algo que as pessoas precisam saber antes de iniciar o Yakuza: Like a Dragon é que elas serão bombardeadas por uma quantidade imensa de textos. Com cenas não interativas que podem durar vários minutos, esta é uma aventura onde a progressão acontecerá bem lentamente. Para quem gosta de jogos mais movimentados, o ritmo deverá incomodar, com tantos diálogos fazendo com que ele mais pareça um filme.

O que poderá ajudar a contornar este possível problema é a própria narrativa, com os diálogos sendo quase sempre muito interessantes e por vezes carregados de humor. Também ajuda termos personagens tão bem construídos e que não são jogados gratuitamente na vida de Ichiban, com suas variadas personalidades casando perfeitamente com a história.

Porém, o que mais tem me encantado no jogo é a maneira como ele faz com que um RPG funcione sem ser numa ambientação medieval ou futurista. Poder explorar um Japão do século XXI é uma experiência fantástica e as soluções encontradas pelos desenvolvedores para manter as bases do gênero são geniais e muitas vezes hilárias.

Por Ichiban ser um declarado fã da série Dragon Quest, aqui as tradicionais magias darão lugar a golpes especiais como jogar milho no inimigo para que pombos os ataquem ou cuspir cachaça em um alvo e depois atear fogo nele. Nós também poderemos visitar uma agência de empregos para assim definir uma classe para os membros do grupo, mas ao contrário de termos um ninja, um mago ou um guerreiro, teremos a companhia desde um detetive até um músico, passando por chefe de cozinha, guarda-costas e muitos outros.

Mas além de nos colocar para realizar as mais variadas tarefas para conseguir um pouco mais de dinheiro e até nos permitir administrar uma loja que está a beira da falência, Yakuza: Like a Dragon brilha por tentar reproduzir o cotidiano de um jovem japonês que gosta de passar o tempo cantando em karaokês ou visitando fliperamas para — mediante um pequeno pagamento — poder jogar uma partida de Out Run, Space Harrier, Super Hang-On ou mesmo Virtua Fighter 2.

Sendo claramente uma homenagem ao mestre Yu Suzuki, mente que nos deu todos estes clássicos e o espetacular Shenmue, essa tentativa de simular a vida normal não pode ser considerada novidade, mas continua sendo bastante divertida e ajuda muito a nos fazer imergir no mundo do jogo. Eu só acho estranho a falta de carros pelas ruas da cidade, mas não chega a ser algo que pode ser considerado um grande defeito.

Yakuza: Like a Dragon

Crédito: Divulgação/Sega

Iniciando uma nova era de heróis (e de fãs)

Por ser alguém com pouco conhecimento da série, tenho achado muito legal conhecer os detalhes sobre o seu fantástico universo, mas principalmente por poder ver tudo através dos olhos de um novo personagem. De certa forma, Yakuza: Like a Dragon tem servido para mim como o primeiro jogo da franquia e mesmo não sabendo se os responsáveis pela sua criação tiveram a intenção de com ele conquistar um novo público, é justamente o que tem feito comigo.

Para os brasileiros, algo que também deverá ajudar a atrair novos jogadores é o fato deste ser o primeiro capítulo da série a ter sido localizado (e muito bem localizado) para o nosso idioma. Até por se tratar de um título com tantas conversas, é muito bom ver que a Sega investiu nesta área e fica a torcida para que pelo menos os futuros lançamentos recebam o mesmo tratamento.

Por se tratar de um jogo imenso, com muitas coisas para serem feitas e contando até como uma mecânica no melhor estilo Pokémon, onde poderemos “capturar” algumas figuras perigosas da cidade, eu ainda tenho um longo caminho pela frente com ele.

E sendo sincero, ainda não sei se me aventurarei pelos outros jogos da franquia no futuro, mas quanto mais avanço pelo Yakuza: Like a Dragon, mais este sentimento vem aumentando. Pode ser então que eu também me transforme em mais um dos fãs da série, mas mesmo se isso não acontecer, pelo menos tenho conseguido me divertir absurdamente com Ichiban Kasuga, muito mais do que eu poderia imaginar.

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