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Apple embolsa 36% da receita anual em ads do Google no Safari

Google paga uma fortuna à Apple todos os anos, para manter Search como a busca padrão no Safari; ambas empresas tentaram ocultar informação

21 semanas atrás

Todo mundo sabe que o Google paga uma quantia astronômica à Apple, todos os anos, para que o Google Search permaneça como o motor de busca padrão do Safari em dispositivos da maçã. O acordo entre as duas gigantes, que data do início dos anos 2010, é considerado por legisladores dos Estados Unidos uma peça-chave na acusação de que a companhia de Mountain View estabeleceu um monopólio no setor.

O que ninguém tinha conhecimento era quanto exatamente o Google pagava; sabia-se que o valor inicial foi de US$ 1 bilhão por ano, mas a Apple reajusta a fatura periodicamente.

Grana que o Google paga anualmente à Apple para que o Search seja a busca padrão no iPhone pode ser maior do que todo mundo pensava (Crédito: The Walt Disney Company/Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Grana que o Google paga anualmente à Apple para que o Search seja a busca padrão no iPhone pode ser maior do que todo mundo pensava (Crédito: The Walt Disney Company/Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Agora, durante o processo movido pelo Departamento de Justiça (DoJ), em um clássico momento "ops", a verdade apareceu: a Apple fica com 36% da receita anual do Google Ads em buscas no Safari, um dado que ambas companhias fizeram de tudo para que não viesse a público.

Apple para Google: "quem quer rir..."

O processo antitrute do DoJ contra o Google usa os acordos que a companhia mantém com Apple, Samsung, Mozilla e outras para que o Search seja sempre o motor de buscas padrão, quando seus produtos saem da caixa, ou navegadores como o Firefox são instalados e executados pela primeira vez.

Ao ocultar a opção de escolha em uma primeira execução (que é padrão imposto na Europa pela Comissão Europeia), e considerando que o público leigo nunca altera o motor, o Google estabeleceu um monopólio ao estrangular a concorrência, se apoiando na preguiça e desconhecimento do usuário leigo, principalmente em dispositivos móveis.

Claro que a Microsoft não é nenhuma santa nessa história, o Edge e ferramentas do Windows usam o Bing como buscador padrão, e a empresa de Satya Nadella também é um alvo de legisladores por isso, mas nada se compara ao alcance do Google, que abocanha mais de 91% do market share (dados de outubro de 2023). Bing? Pouco mais de 3%. Os demais? QUÁ!

O Google usa a defesa "o Search é o melhor motor de busca que existe" para explicar a hegemonia assegurada no setor, desculpa essa que não colou na UE, e ela também não está convencendo o DoJ. Eddy Cue, SVP de Serviços da Apple, bateu nessa mesma tecla, ao defender em depoimento a Experiência de Uso™️ como prioridade, e que nenhum produto concorrente, nem mesmo o Bing, chega perto do Search.

Cue não negou que o acordo da maçã com o Google também visa receita, e que ambas as partes trabalham para "manter o equilíbrio" entre a qualidade das buscas, e o retorno financeiro. Em resumo, quanto mais dinheiro Mountain View fizer com anúncios relacionados às buscas, mais a Apple receberá graças ao acordo.

Ao mesmo tempo, Cue não conseguiu convencer o Departamento de Justiça quanto à relação dicotômica do acordo; a Apple é paranoica com segurança e coleta de dados, enquanto o Google vive de reunir informações dos usuários, não importa como. O executivo se limitou a dizer que Cupertino é melhor em segurança que a parceira, e que "se um usuário de iPhone ou iPad sabe como trocar de rede Wi-Fi, então ele também sabe como trocar o buscador padrão".

Claro, a informação mais crucial do processo, que o DoJ queria saber, era quanto exatamente o Google paga à Apple todos os anos. Estimativas apontavam para um valor próximo de US$ 20 bilhões, e de fato esses dados foram inclusos. As duas gigantes não queriam que a informação viesse à tona de jeito nenhum, e ela foi incluída na parcela das oitivas consideradas confidenciais.

Porém, durante um depoimento dado na parcela pública do julgamento, Kevin Murphy, um dos sêniores do departamento de Finanças do Google, disse sem cerimônia que o acordo estabelece o pagamento de 36% da receita que a gigante das buscas arrecada com anúncios exibidos através das buscas.

De acordo com testemunhas, John Schmidtlein, advogado do Google, "fechou a cara" quando Murphy soltou a informação, que não deveria ter se tornado pública dob nenhuma hipótese; ao que parece o economista falou mais do que devia, mas agora é tarde, Inês é morta.

iPhone com Busca do Google aberta no navegador Safari (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

iPhone com Busca do Google aberta no navegador Safari (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Em depoimento, Satya Nadella disse que o Google paga muito a seus parceiros para que o Search seja a busca padrão em dispositivos e softwares, de modo a garantir, de forma artificial, a dominância, barrando a competição, e prendendo os usuários em seus serviços, disfarçando-os de "a melhor escolha". Os números envolvendo a Apple agora ilustram o quão Mountain View leva isso a sério.

Tomemos como exemplo a receita com anúncios que o Google fez em 2022, em todos os formatos, de US$ 224,47 bilhões. Dados recentes indicam que o Search responde por aproximadamente 38% desse montante, e em cima disso, cerca de 70% seriam buscas em iGadgets, segundo analistas.

Com base no depoimento de Murphy, e tendo como base os números acima, a maçã pode embolsar um valor próximo a US$ 22 bilhões/ano, alinhado com as estimativas. É muita grana e o Google paga mesmo assim, por dois motivos:

Primeiro, o acordo estabelecido com a Apple garante que a maçã não vai desenvolver um motor de busca próprio, embora este fosse uma das alternativas aventadas por Steve Jobs, que queria aniquilar a rival, por considerar o Android um produto roubado, copiado do iOS. Hoje a Apple não pretende investir nisso, tanto para manter a Experiência de Uso™️ a mais alta possível, quanto pelo fato que embolsa uma grana forte sem esforço, todos os anos.

Segundo, o Google é hoje refém da Apple, se os 70% em média dos resultados de busca entregues pelo Search de fato forem solicitações em iPhones e iPads. Na remota possibilidade de Cupertino fechar com outro parceiro como buscador padrão, o prejuízo será muito mais sentido do lado da gigante das buscas, por perder acesso a bilhões de usuários em potencial em todo o mundo.

Claro que isso não vai acontecer, o Bing jamais retornaria à Apple o mesmo montante anual que o Google, mas este está hoje em uma situação de total dependência dos usuários da maçã para fazer dinheiro, daí o interesse da Apple em manter alta a qualidade dos resultados.

Enquanto o processo continua, o Google continua fazendo dinheiro, a receita com anúncios aumentou em US$ 5 bilhões entre 2022 e 2023, o que se reverterá em mais grana para a Apple. Um veredito só deverá sair em 2024, e não há garantias de que Mountain View acabe condenada, nem quais seriam as consequências nesse caso.

Fonte: Ars Technica

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