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Apple: acordo com Google Search dispensa buscador próprio

Depoimento de Eddy Cue no processo antitruste do Google Search, sugere que acordo rende à Apple o bastante para dispensar buscador próprio

29 semanas atrás

Como previsto, a Apple saiu em defesa do Google no processo do Departamento de Justiça (DoJ) dos Estados Unidos, que acusa o Google Search de ser um monopólio no setor de buscas na internet. Em seu depoimento, Eddy Cue, vice-presidente sênior de Serviços da maçã, disse que o acordo para fazer do serviço de Mountain View o padrão no Safari era "a única escolha possível", por este ser o melhor que existe.

Claro, há alguns fatores a serem levados em conta aqui, desde a manutenção do acordo entre as partes render muita grana para ambas companhias, como a deixa que Cue deu de que a Apple tem os meios para criar seu próprio motor de busca, e só não o fez ainda por pura conveniência.

Acordo beneficia ambas as partes: Google garante domínio das buscas, e Apple ganha muita grana (Crédito: Sebastian Herrmann/Unsplash/Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Acordo beneficia ambas as partes: Google garante domínio das buscas, e Apple ganha muita grana (Crédito: Sebastian Herrmann/Unsplash/Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

O processo antitruste aberto pelo DoJ contra o Google se apoia no fato conhecido que, ao pagar para Apple, Samsung e outros fabricantes de dispositivos móveis, e até mesmo para companhias diretamente concorrentes em serviços de internet, como a Mozilla, para que o Google Search seja o motor padrão de busca no Safari, Firefox e outros navegadores, a gigante das buscas estabelece um monopólio no setor, estrangulando assim a concorrência.

Enquanto soluções de concorrentes de grande porte, como a Microsoft, têm dificuldades em agregar um maior público, iniciativas menores, como DuckDuckGo e similares, não conseguem pegar tração frente à hegemonia (segundo o governo, artificial) do Google Search, assegurada via acordos comerciais. O Google se defende, dizendo que seu motor é o mais usado por ser "o melhor que existe", e que não prejudica a competição, desculpa essa que a União Europeia não engoliu.

Eddy Cue, sendo o responsável por tudo dentro da Apple referente a serviços, era o depoimento a ser tomado mais esperado pelo judiciário e a mídia em geral, mas maquinações da maçã e do Google garantiram sigilo parcial na oitiva, com metade dela feita sob sigilo. A parte tornada pública, entretanto, trouxe algumas informações interessantes.

A mensagem que Cue trouxe ao DoJ era clara: a Apple defende com unhas e dentes a proteção à privacidade de seus usuários, mas, ao mesmo tempo, não abre mão do acordo estabelecido com o Google, que lhe rende alguns bilhões de dólares todos os anos, que Mountain View paga religiosamente, visto que o retorno justifica o investimento.

Dados os problemas notórios que o Google tem com privacidade desde sempre, esta parece uma mensagem ambígua, e mesmo assim, Eddy Cue apontou como a Apple vê a parceria como vantajosa.

Eddy Cue, SVP de Serviços da Apple, chega para depoimento ao Departamento de Justiça dos EUA, no caso antitruste contra o Google Search, em 26 de setembro de 2023 (Crédito: AFP)

Eddy Cue, SVP de Serviços da Apple, chega para depoimento ao Departamento de Justiça dos EUA, no caso antitruste contra o Google Search, em 26 de setembro de 2023 (Crédito: AFP)

O que sabemos: o acordo que estabeleceu o Google Search como o motor de busca padrão no Safari para iPhone e iPad é bem antigo, e inicialmente Mountain View pagava cerca de US$ 1 bilhão por ano. Com o tempo, Cupertino foi reajustando a taxa, quando ficou claro que o grosso das buscas do motor vinham de seus próprios dispositivos.

Hoje, calcula-se que a gigante das buscas desembolsa a absurda quantia de US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões por ano para manter seu motor de busca como padrão nos iGadgets, e ela o paga sem questionar, por indiretamente ter sido feita de refém: se a Apple quebrar o contrato, digamos, ao desenvolver um buscador próprio, Mountain View perderia bilhões ao deixar de exibir anúncios e coletar dados.

A Apple deixaria de ganhar uma grana forte sem esforço, mas, por outro lado, um "Apple Search" seria a realização de um antigo desejo de Steve Jobs, de iniciar uma "guerra termonuclear" contra o Google e o Android, produto esse que ele considerava uma cópia do iPhone/iOS, principalmente por seu então CEO, Eric Schmidt, ter feito parte do conselho da maçã, e assim, teve acesso a informações sigilosas.

Voltando ao depoimento ao DoJ, Eddy Cue defendeu o Google, dizendo que "não havia outra alternativa válida" no que tange a garantir a Experiência de Uso™️ que a Apple defende como prioridade em seus produtos. O executivo disse que "tanto na época quanto hoje em dia, não há ninguém melhor que o Google em buscas, e ninguém chega sequer perto dele".

Nesse ponto, Cue disse que não havia nenhum outro motor, seja Bing ou qualquer outro, que chegasse perto do que a Apple queria para que o padrão alto de experiência de uso em buscas no iPhone fosse satisfeito, o que inclui a criação de um buscador próprio. Isso não quer dizer que a companhia não considere esta uma opção, apenas que ela não merece prioridade, por não ser vantajosa financeiramente.

No depoimento, o SVP de Serviços da Apple deu a entender que a gigante busca o equilíbrio entre a qualidade das buscas e o retorno financeiro a ambas companhias; quanto mais dinheiro o Google gerar em buscas no iPhone, mais a maçã ganhará em troca, ao revisar os valores do acordo todos os anos. Assim, mesmo que a Microsoft ofereça um acordo melhor para uso do Bing, este jamais retornaria o mesmo montante que o Google Search gera.

iPhone com Busca do Google aberta no navegador Safari (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

iPhone com Busca do Google aberta no navegador Safari (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

O que a Apple não conseguiu convencer os membros do Departamento de Justiça, é como a preocupação com a privacidade dos usuários se encaixa nesse cenário. O Google coleta uma infinidade de dados para retornar na forma de anúncios, e o acordo estabelece a possibilidade de realizar buscas sem estar logado em uma conta, sem prejudicar resultados. A política de privacidade, que bloqueia o rastreio entre apps, também "nerfou" as habilidades de coleta de Mountain View em iGadgets.

Cue disse no depoimento que a Apple está ciente disso, e que sua companhia "é melhor em privacidade" do que o Google, mas mesmo assim, o Search é o navegador padrão ao tirar o iPhone da caixa, ao invés do que os membros do DoJ consideram ser o melhor cenário, que é permitir ao usuário escolher o motor na primeira execução do Safari.

O executivo não escondeu que a decisão pelo acordo é primariamente mercadológica, visando receita, mas defende o direito à privacidade como escolha do usuário, no que Cue afirmou que se um dono de iPhone ou iPad "sabe trocar de rede Wi-Fi, então ele também sabe trocar o buscador padrão", mesmo que a opção só tenha se tornado mais simples agora, com a introdução do iOS 17/iPadOS 17.

Apple e Google não comentaram sobre a porção pública do depoimento de Eddy Cue.

Fonte: Big Tech on Trial, Ars Technica

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