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87% dos donos de iPhone barraram rastreamento de apps

Tática do Facebook para atacar estratégia da Apple não funcionou: só 13% dos usuários de iPhone permitem rastreamento de apps

3 anos atrás

A nova política de privacidade do iPhone, implementada no iOS 14.5, se revelou mais devastadora do que qualquer um poderia imaginar, para desespero de desenvolvedores e companhias que dependem de rastreamento de dados dos usuários, em especial o Facebook, que tentou depreciar a medida apelando para o FUD.

Segundo a companhia de análise de dados Flurry Analytics, que pertence à operadora Verizon, 87% dos usuários globais dos sistemas da Apple que já atualizaram para a nova versão no iPhone, iPad e Apple TV, optaram por não permitir que aplicativos rastreiem seus dados em sites e/ou outros apps. Olhando apenas os Estados Unidos a porcentagem é ainda maior, 95%.

Mark Zuckerberg tentou convencer usuários de iPhone a permitirem rastreamento no Facebook e Instagram. Não colou (Crédito: Andrew Harrer/Bloomberg/Getty Images)

Mark Zuckerberg tentou convencer usuários de iPhone a permitirem rastreamento no Facebook e Instagram. Não colou (Crédito: Andrew Harrer/Bloomberg/Getty Images)

O relatório da Flurry Analytics, publicado originalmente no dia 29 de abril de 2021, vem sendo atualizado constantemente com dados diários baseando-se na adoção das versões 14.5 do iOS, iPadOS e tvOS, respectivamente para iPhones, iPads e Apple TVs compatíveis, lançados três dias antes (26).

O update trouxe consigo a aterradora (para Facebook e cia.) nova política de privacidade dos sistemas móveis da maçã, em que o usuário deve autorizar manualmente se um app pode ou não rastrear seus dados entre outras aplicações, ou em sites durante o uso de navegadores. Todas as aplicações, independente de sua aplicação, que vierem a usar o recurso em qualquer  que seja o contexto,  deve exibir uma notificação solicitando a autorização, quando for executado após o update.

Caso o usuário opte por não conceder a permissão, o app fica impedido de coletar informações de outros aplicativos e dados de navegação, que poderia usar para fins diversos. Em geral, este modo de operação é usado por companhias que dependem de anúncios para fazer caixa, se baseando nos hábitos do usuário, como Google e Facebook.

Apps com função de rastreio passaram a pedir permissão ao usuário a partir do iOS 14.5 (Crédito: Reprodução/Apple)

Apps com função de rastreio passaram a pedir permissão ao usuário a partir do iOS 14.5 (Crédito: Reprodução/Apple)

O Google preferiu se adequar às diversas normas estabelecidas pela Apple, de modo a não perder um mercado valiosíssimo para a empresa, que responde por mais da metade da  receita de seu mecanismo de busca (acordo pelo qual ela paga alguns bilhões de dólares por ano, e o valor só aumenta). O Facebook, por sua vez, entrou em atrito com Cupertino ao  não concordar com as mudanças, ao afirmar (corretamente) que a medida afetaria a renda com anúncios.

O motivo é bem simples, na verdade. Uma vez que o usuário é notificado de que um determinado app coleta seus dados em segundo plano, mesmo que ele já saiba disso, o comportamento natural é de que o mesmo bloqueie a função, já que a opção lhe foi oferecida de forma explícita. Muitos não se dão ao trabalho de fuçar nas configurações de privacidade do iOS ou do Android, e acabam deixando as coisas como estão por pura preguiça.

Com a nova política de transparência da Apple, o Facebook sabia de antemão que a maioria esmagadora de seus usuários optaria por não permitir a coleta, e como o diálogo com a maçã estava fora de questão, a estratégia foi partir para o FUD (Fear, Uncertainty and Doubt, ou Medo, Incerteza e Dúvida em português) e enfiar minhocas na cabeça de seus usuários no iPhone, sugerindo que a interrupção do rastreamento, caso o público adotasse a medida em massa, poderia levar à uma futura cobrança pelo uso dos apps do Facebook e Instagram.

No passado, a companhia de Mark Zuckerberg jurava que "o Facebook é  e continuará sendo gratuito", mas nos últimos tempos mudou o discurso, com o CEO afirmando, durante a audiência ao comitê antitruste no Congresso dos EUA, que "sempre haverá 'uma versão' do app que continuará grátis", sugerindo a implementação de versões premium de seus serviços, como medida para evitar a perda de receita.

Notificações do Facebook e Instagram no iOS 14.5, alertando o usuário de que o rastreio permite que ambos "continuem gratuitos" (Crédito: Reprodução/Facebook)

Notificações do Facebook e Instagram no iOS 14.5, alertando o usuário de que o rastreio permite que ambos "continuem gratuitos" (Crédito: Reprodução/Facebook)

Os temores do Facebook, que refletem o pensamento de outras desenvolvedoras  grandes e pequenas, independentes ou de corporações, se concretizaram tão logo os dados de uso do iOS 14.5, iPadOS 14.5 e tvOS 14.5 começaram a aparecer, considerando a adoção rápida das atualizações da Apple, algo que o Android nunca conseguiu replicar. Para desespero de todo mundo, o estrago foi muito maior do que qualquer um poderia prever, menos a Apple, provavelmente.

De acordo com o relatório da Flurry, apenas 13% dos usuários globais do iOS 14.5 optaram por permitir que apps continuem a coletar dados no iPhone, contra 87% que barraram o recurso (dados de 08 de maio de 2021). Considerando apenas os Estados Unidos a proporção é ainda maior, 5% contra esmagadores 95%.

De maneira geral, o público não gosta de ter seus dados coletados e dada a opção simplificada de barrar a prática, o mesmo o fará. Algo que tanto a Apple quanto o Facebook sabiam que aconteceria, mas poucos previam que a adoção seria tão massiva já na primeira semana.

Porcentagem global de usuários do iOS 14.5 que permitem rastreamento entre apps (Crédito: Divulgação/Flurry Analytics)

Porcentagem global de usuários do iOS 14.5 que permitem rastreamento entre apps (Crédito: Divulgação/Flurry Analytics)

Em contrapartida, a adoção da opção de restringir por padrão a coleta de dados, em que os aplicativos do iPhone sequer são permitidos solicitarem ao usuário o desbloqueio, não é tão usada, com uma adoção de 5% globalmente e apenas 3% somente nos EUA. Ao que tudo indica, o público prefere ter o controle fino do que pode e não pode ter acesso às suas informações, mesmo que acabem não autorizando nada, talvez pelo simples prazer de barrar manualmente, o que dá uma certa sensação de poder, que até então era negado aos donos de iGadgets.

Vale lembrar que o Google vai implementar um sistema de rótulos no Android no terceiro trimestre de 2021, que embora funcione de maneira diferente da política de privacidade da Apple (a empresa vive de anúncios, afinal), também exigirá que desenvolvedoras deixem claro quais tipos de dados são coletados.

Já para o Facebook e outras empresas e desenvolvedoras, resta se acostumarem com o fato de que passarão a fazer bem menos dinheiro com anúncios no iPhone, de agora em diante.

Fonte: Ars Technica

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