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EA Sports WRC — É tipo corrida, só que rally

Com gráficos lindos, muita variedade de ambientes e uma jogabilidade acessível, mas também desafiadora, EA Sports WRC é um jogo de rally obrigatório

24 semanas atrás

Era um domingo pela manhã, fazia frio na cidade onde moro e mesmo assim, acordei cedo e empolgado. O motivo para isso foi um desafio que me propus no dia anterior, com ele envolvendo escolher um carro, uma das maiores etapas e experimentar como seria (possivelmente) sofrer em uma prova tão longa do FIA World Rally Championship.

Mas isso não aconteceria na vida real, afinal, para chegar a elite do principal campeonato mundial de rally é preciso anos de treinamento e uma habilidade que poucos pilotos no mundo possuem. A minha experiência aconteceria no conforto da minha sala, com o jogo EA Sports WRC rodando no meu PlayStation 5. O que eu não podia imaginar é que de confortável aquele estágio  não teria nada.

EA Sports WRC

Crédito: Divulgação/Codemasters

Mas antes de falar sobre o impacto que a corrida teve no meu corpo e na minha mente, me deixe explicar como tudo começou. Primeiro escolhi a opção de criar uma competição e após uma breve pesquisa, encontrei a etapa de Baião, localizada em Portugal. Com 30,3 km de extensão e sua superfície formada por 82% de cascalho, 16% de asfalto e outros 2% de pedras, ela parecia perfeita para testar minhas habilidades.

Com o EA Sports WRC nos oferecendo 78 carros divididos por 18 classes, eu sabia que essa seria uma escolha importante, pois quanto mais rápido o veículo, mas difícil se tornaria a corrida. Pois foi aí que cometi o grande erro do meu experimento, quando optei pelo Volkswagen Golf IV Kit Car, da classe F2 Kit Cars.

Mesmo estando longe do desempenho dos carros mais poderosos da categoria, ele já se mostraria uma fera difícil de ser domada e isso ficaria claro já nas primeiras curvas. Com o carro escorregando quase que incontrolavelmente de um lado para o outro, quando passei na primeira checagem — e vi que estava 17 segundos atrás do líder da classe — ficou claro que o meu objetivo não seria lutar pelas primeiras colocações, mas simplesmente conseguir cruzar a linha de chegada.

Crédito: Divulgação/Codemasters

Porém, antes eu precisaria passar por campos, vielas apertadas, ameaçadoras encostas e riachos. Precisaria encarar subidas, não me empolgar nas descidas e tentar a todo custo não arrebentar meu carro em alguma árvore ou muro que não deveria estar no caminho. Apesar da tentação de ficar admirando as deslumbrantes vistas, sabia que precisava focar nas instruções passadas pelo meu copiloto, voz que depois de um tempo passamos a absorver instintivamente, quase como se estivéssemos ouvindo uma caótica música.

Mas mesmo com muito sacrifício, eventualmente recebi o aviso que a linha de chegada estava logo a frente. Foram precisos intermináveis 27 minutos, 19 segundos e 818 centésimos para “vencer” aquela batalha, completando a corrida numa honrosa 15ª colocação (de 32 competidores). Parece pouco? Pois provavelmente é mesmo, mas foi o máximo que consegui e só de não ter partido aquele Golf no meio, já fiquei bastante satisfeito.

Contudo, foi só após a “poeira baixar” que pude me dar conta de como aquela prova foi exigente. Mesmo com a temperatura por aqui girando na casa dos 10°C, eu estava suando. Minhas mãos estavam molhadas, os olhos ardendo porque mal conseguia piscar e a musculatura dos ombros enrijecida. Até mesmo meu maxilar estava doendo, tamanha força que a tensão me obrigou a inconscientemente fazer.

Aqui vale citar dois detalhes importantes, um que poderia ter ajudado a tornar a corrida mais fácil e outro que poderia ter contribuído para aumentar o desgaste físico. O primeiro é que sempre jogo com a câmera interna, como se estivesse no cockpit do carro, o que torna a pilotagem mais desafiadora, mas muito mais imersiva. Já o segundo diz respeito ao sistema de controle, pois como o meu Logitech G920 não é compatível com o PlayStation 5, tenho que jogar o EA Sports WRC com o DualSense, só podendo imaginar como seria encarar quase 30 minutos de corrida com um volante.

O rally de forma mais acessível

Crédito: Divulgação/Codemasters

Desenvolvido pelo Codemasters, estúdio cujo nome está diretamente associado aos jogos de rally, o EA Sports WRC vinha despertando a curiosidade em todos que gostam da categoria, principalmente por ser construído sobre a sólida base da série Dirt Rally. Como agora ele passaria a contar com o aval da entidade que cuida da modalidade, a expectativa era de um título mais profundo e mais completo.

E isso se confirmou. Ao todo, teremos 17 locais para competir, sendo os 13 presentes na temporada 2023 do FIA World Rally Championship — com o Rally da Europa Central prometido para ser adicionado em breve, de forma gratuita. Indo do Chile a Suécia, passando pela Oceania, Japão e muitos outros países, isso nos colocará para correr por mais de 200 estágios, com eles variando bastante em aparência, superfície e dificuldade.

Some a isso a possibilidade de escolher o horário em que as provas acontecerão ou como estará o clima e as opções aumentarão bastante. Até mesmo a estação do ano poderá ser definida previamente, o que mudará a paisagem e traz um pouco mais de variedade para as corridas.

Esse investimento em conteúdo também pode ser visto na grande variedade de carros, o que inclui algumas lendas do rally, como o Audi Quattro S1, o Lancia 037 Evo 2 (ou o Stratos), o Mitsubishi Lancer Evolution X, o Ford RS200 ou o Subaru Impreza 555 pilotado por Colin McRae. Eu só senti falta do carro japonês mais vitorioso do WRC, o lindo Toyota Celica GT-Four.

EA Sports WRC

Crédito: Divulgação/Codemasters

Mas se todos esses nomes, números e detalhes não dizem muito para você, algo que deverá agradar quem não entende muito da modalidade é o esforço feito pela Codemaster para fazer desse um jogo de rally muito mais acessível que o normal. E com isso não me refiro a ajuda na hora de frear, ao controle de tração ou qualquer outro tipo de assistência que pode ser ativado ou desativado quando bem entendermos.

Logo no início, o EA Sports WRC nos apresentará a um bom tutorial que nos passará informações importantes sobre como melhor guiar os carros. Com ele aprenderemos técnicas para contornar as curvas, o melhor momento para usar o freio ao mesmo tempo que o acelerador — sim, pilotos de rally freiam com o pé esquerdo! — ou mesmo como balancear o peso do carro numa curva usando apenas o acelerador.

Já uma novidade que considero extremamente válida é o sistema simplificado de instruções passadas pelo copiloto. Quando se trata de jogos que tentam simular a realidade de um rally, o normal é que as informações passadas em relação aos obstáculos a frente sigam o padrão das corridas, o que significa uma sequência de direções e números ininteligíveis para a maioria das pessoas.

Com essa opção, se antes o copiloto informava a complexidade de uma curva usando números, com seis para as mais abertas e um para as mais fechadas, agora ele dirá um simples “Easy Left”, como tínhamos no clássico Sega Rally. Embora essa configuração facilite muito a vida daqueles que não estão habituados a esse tipo de corrida, ela ainda exigirá um nível de concentração bem maior que em outras modalidades, com a atenção às instruções que nos são passadas fazendo a diferença no tempo final e só é uma pena que o título não esteja localizado na nossa língua, algo que o antecessor já oferecia.

O jogo da adaptação

EA Sports WRC

Crédito: Divulgação/Codemasters

Entre as características do EA Sports WRC, aquela que mais me impressionou foi a maneira como o jogo está a todo momento nos forçando a ter que nos adaptar. Isso fica claro já no início, quando podemos escolher sobre qual tipo de piso encararemos cada lição do tutorial. A diferença entre correr no cascalho, no asfalto ou na neve é absurda, fazendo com que pareça estarmos diante de três jogos diferentes.

Agora, imagine encarar um estágio que conte com dois ou até mais variedades de superfície, com o carro passando a se comportar de maneira bem diferente dependendo de onde ele estiver. Conseguir se habituar a esses cenários é algo difícil e por isso será fundamental treinarmos na maior quantidade de provas possíveis.

Pode parecer algo óbvio, mas outro aspecto que terá um grande impacto na maneira como pilotaremos, é o carro escolhido. Ao contrário do que vejo em muitos jogos, aqui faz muita diferença se o veículo tem tração dianteira, traseira ou nas quatro rodas e assim como acontece com o piso, a única forma de nos aproximarmos do domínio será correndo, correndo e correndo.

Construindo uma carreira

Crédito: Divulgação/Codemasters

Assim como em outros jogos de corrida, o EA Sports WRC também conta com um robusto modo carreira, onde teremos que gerenciar uma equipe, contratar profissionais e investir no desenvolvimento do carro, com a fonte da renda vindo de um mecenas chamado Max Lucre. E para que o misterioso endinheirado não perca o interesse na nossa equipe, será fundamental batermos algumas metas, como não estourar o orçamento e nos mantermos entre os primeiros colocados nos campeonatos.

Com os eventos acontecendo de maneira não-linear, a cada semana teremos que escolher entre procurar novos membros para a equipe, descansá-la ou de qual competição participar. Quanto as corridas, elas podem ser parte do calendário da WRC ou mesmo desafios tendo carros históricos como tema. O grande problema dessa liberdade é que muitas vezes cairemos em corridas muito mais difíceis do que aquelas que participávamos até então, fazendo com que os picos de dificuldade pesem contra a diversão.

Já um ponto positivo é não sermos obrigados a começar a carreira pela categoria inferior, conhecida como WRC Junior. Caso o jogador prefira, ele poderá partir logo para a classe WRC2 ou mesmo o topo da modalidade, a Rally1, mas esteja avisado, só faça isso se tiver muita familiaridade com jogos do gênero.

No entanto, o ponto principal do modo carreira está mesmo na possibilidade de construirmos nossos próprios carros. Assim, os aspirantes a pilotos/managers poderão escolher cada detalhe dos veículos: motor, tipo de tração, caixa de marcha, diferencial... Grande parte da mecânica poderá ser configurada da maneira como quisermos, com as peças contando com um tempo de duração e desempenho condizentes com o preço a ser pago.

Crédito: Divulgação/Codemasters

Porém, isso não chega a ser uma novidade, muitos jogos de corrida já oferecem algo parecido. O grande diferencial do EA Sports WRC está em podermos personalizar também a parte a visual e não estou me referindo a pintura ou decalques a serem aplicados. Nele poderemos escolher a carroceria do carro, cabendo ao jogador definir como será a parte da frente, a traseira e outros detalhes, como retrovisor, aerofólio ou aparência dos faróis, lanternas ou até mesmo o símbolo do carro.

Esse é o tipo de recurso que talvez só seja possível em um jogo de rally, já que temos um chassi, a gaiola de proteção e a parte de construção acontecendo por blocos. De qualquer forma, ele foi muito bem implementado, tornando muito satisfatório ver correndo pelos estágios um carro que montamos e decoramos da maneira que queríamos.

Já no interior, até mesmo o tipo de volante, do câmbio e o freio de mão poderão ser personalizados, com o jogo permitindo ainda trocarmos o painel ou o indicador luminoso de troca de marchas.

Mas o EA Sports WRC não se resume a um modo carreira. No jogo ainda teremos acesso a montar campeonatos definindo desde os carros que participarão até o clima em que as corridas acontecerão, além da quantidade de etapas. Também vale citar que essas competições poderão ser disputadas online.

Outro modo interessante é o Moments, em que poderemos reviver algumas situações que marcaram os 50 anos de história do WRC. Já o Clubs será uma disputa entre plataformas, sem que as corridas aconteçam com hora marcada, com cada competidor podendo fazer seu tempo quando achar melhor e um placar geral mostrando em que lugar ele ficou.

Simply the best ♪

EA Sports WRC

Crédito: Divulgação/Codemasters

Em relação ao Dirt Rally 2.0, eu diria que o EA Sports WRC é um jogo se não mais fácil, certamente bem mais acessível. Eu me diverti mais jogando a mais recente criação da Codemasters por achar as corridas menos punitivas e a direção mais suave. Isso não quer dizer que com ele você dará um passeio pelo parque, muito menos que não sentirá um frio na espinha sempre que alcançar uma velocidade estonteante numa reta, com o seu subconsciente lhe avisando que qualquer deslize poderá resultar num grave acidente.

Esse é um jogo lindo, com cenários de tirar o fôlego e bastante variados, mesmo com alguns problemas de Screen tearing e queda na taxa de frames (o que só notei em algumas pistas). Também me impressionou o trabalho realizado pelo departamento de áudio da desenvolvedora, com o som dos motores parecendo muito realistas, especialmente quando apreciado com um home theater.

Eu ainda destaco a maneira como o DualSense foi aproveitado pela equipe da Codemasters. Embora um controle nunca consiga passar a imersão entregue por um bom volante, o do PlayStation 5 reage brilhantemente a tudo o que está acontecendo na pista, dos solavancos aos próprios terrenos. Numa das primeiras corridas que disputei bati com a traseira do carro numa árvore e após voltar a acelerar, soube que o pneu havia furado, só pela vibração diferente entregue pelo controle. Simplesmente sensacional!

Desde o lançamento do EA Sports WRC tenho visto algumas pessoas afirmando que esse é o melhor jogo de rally já feito e mesmo reconhecendo que esse tipo de afirmação é perigoso, não lhes tiro a razão. Porém, mesmo que existam motivos para alguém discordar desse elogio, o que posso dizer, com toda segurança, é que esse foi o jogo de rally que mais gostei de jogar.   

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