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Need for Speed Unbound — Velozes e... Animados (!?)

Misturando gráficos realistas com animações, visualmente o Need for Speed Unbound pode não agradar a todos, mas é um ótimo jogo de corrida

1 ano atrás

Quando uma série se estende por quase três décadas e entrega mais de duas dezenas de lançamentos, conseguir manter um ar de novidade acaba se tornando um dos maiores desafios para os desenvolvedores. Diante deste intimidador cenário, a Criterion Games tinha uma difícil missão pela frente, mas para o bem ou para o mal, com o Need for Speed Unbound o estúdio conseguiu sair do lugar-comum.

Need for Speed Unbound

Crédito: Divulgação/Criterion Games/EA

Primeiro capítulo desde o Most Wanted (2012) a ser desenvolvido de maneira independente pelo estúdio britânico, Unbound chega três anos após a última investida da franquia e o mais forte  sinal de que eles estavam apostando alto foi dado no anúncio das plataformas em que o título estaria disponível: apenas PC, PlayStation 5 e Xbox Series S|X.

Segundo os criadores, a escolha por focar na atual geração de consoles foi feita porque eles queriam aproveitar o maior poder de processamento. Assim, o Need for Speed Unbound poderia contar com maior resolução, maior taxa de atualização de frames, uma nova engine de física e até mesmo efeitos estilizados durante as corridas. Pois é aí que entra o principal ponto de controvérsia em relação ao jogo.

Caso você já tenha visto algum vídeo mostrando uma das suas corridas, certamente reparou nas animações mostradas dependendo de várias ações que os pilotos realizarem. Derrapagens, saltos, utilização do turbo... tudo isso gerará uma série de “rabiscos” na tela, dando a impressão de estarmos assistindo um desenho animado japonês.

Essa foi a maneira encontrada pelo pessoal da Criterion Games para dar alguma personalidade à sua criação, mas a direção artística não tem agradado a todos.  O problema é que enquanto essas "onomatopeias" ajudam a tornar as corridas mais, na falta de uma palavra melhor, animadas, o resto dos gráficos continuam mirando no fotorrealismo. Quer dizer, quase o resto.

Até por brincar com a ideia de um anime sobre corridas de carro em que um piloto surge do nada e se torna um grande campeão das ruas, em Need for Speed Unbound os personagens também parecerão desenhos. Agora, tente imaginar um bando de motoristas feitos em Cel shading a bordo de veículos ultrarrealistas (espere para vê-los sob a chuva), disputando corridas numa cidade que poderia passar como real para qualquer pessoa menos atenta?

Crédito: Divulgação/Criterion Games/EA

Para mim, essa mistura de estilos acaba comprometendo a imersão, com o resultado parecendo uma estranha mistura de Velozes & Furiosos, Uma Cilada para Roger Rabbit e Initial D First Stage. Particularmente acharia muito melhor se eles tivessem apostado num visual totalmente animado, como a Capcom fez com o Auto Modellista, mas entendo que a resistência do público poderia ser ainda maior.

Quanto aos efeitos que “emanam” dos carros, confesso que até os achei legais, com eles me incomodando muito menos do que imaginei antes de jogar. Porém, foi muito decepcionante descobrir que, ao contrário do que os criadores afirmaram anteriormente, não existe uma opção para removermos totalmente as animações.

Para quem não gostar de ver os desenhos pipocando sobre seu carro, uma saída é utilizar um efeito chamado Camuflado, que faz com que eles deixem de ser mostrados e reste apenas a fumaça estilizada dos pneus. Contudo, os outros veículos continuarão com seus respectivos efeitos.

No caso do PC, a comunidade já lançou uma modificação que trata de deixar o Need for Speed Unbound mais “limpo”, já para quem estiver jogando nos consoles, resta amenizar o problema com o efeito supracitado e torcer para que a Criterion lance uma atualização que nos dê a prometida opção.

Need for Speed Unbound

Crédito: Divulgação/Criterion Games/EA

Talvez a tentativa do estúdio tenha sido brincar com o fato que por mais realista que sejam os gráficos que a série alcançou ultimamente, sua jogabilidade nunca se aproximou de uma simulação (ok, tirando talvez o Need for Speed: Shift). De qualquer forma, em Unbound o estilo de corrida mais arcade retornou, o que significa realizarmos saltos absurdamente longos, entrar numa curva fechada a mais de 200 km/h ou ver nosso carro milagrosamente se recuperar dos amassados ao passarmos por um posto de gasolina.

Com uma física que raramente tenta recriar o que temos no mundo real, quem estiver acostumado com a série se sentirá em casa aqui, com nenhuma das maluquices que acabei de citar sendo uma surpresa. Eu gosto deste estilo e a lamentar, apenas a ausência de uma câmera que nos coloque no interior dos carros, assim como temos há muitos anos em várias outras séries.

Criado sobre as fundações do seu antecessor, o Need for Speed Heat, este novo capítulo aproveita muito do que já foi visto na série, com destaque para os policiais. Nele, a cada corrida disputada o nosso nível de perseguição aumentará e a única maneira de nos livrarmos disso será voltando para a oficina e avançarmos para o dia seguinte.

Essa é uma mecânica interessante, pois aumenta o risco de sermos presos e se isso acontecer, todo o dinheiro arrecadado durante o dia será perdido. Caberá então ao jogador escolher quais provas disputar e quando retornar para a base. Além disso, como as corridas disponíveis serão limitadas e o tempo passará, conseguir se preparar para as competições mais importantes nos finais de semana exige um bom planejamento da nossa parte.

Crédito: Divulgação/Criterion Games/EA

O que chega a ficar num certo limbo, sendo um tanto irrelevante, é a história que embala a campanha do Need for Speed Unbound. Contudo, mesmo com ela sendo um tanto clichê, funciona melhor do que na maioria dos jogos de corrida — sim, estou cansado daquele papo de festival-de-corrida-para-pessoas-descoladas. A novelinha em que se mete o protagonista pode não merecer um Oscar, mas pelo menos nos oferece um pouco de traição, vingança e superação.

No fundo, tudo não passa de uma desculpa para tornarmos nosso carro o mais rápido e bonito possível. Para quem gosta da cultura das ruas de customização e tuning, o título entrega uma quantidade imensa de conteúdo, com todos os veículos podendo ser bastante modificados — com eles podendo ser evoluídos entre as classes B, A, A+, S e S+. Aos saudosistas do Need for Speed: Underground, a comparação é inevitável e acredito que o capítulo mais recente não fique devendo em nada neste aspecto.

Porém, algo que deverá desagradar algumas pessoas é o fato que, ao contrário do que vemos na maioria dos títulos do gênero, no Unbound a aquisição de novos carros não será constante. Na verdade, eu passei várias horas apenas com o Subaru BRZ Premium 2014 que comprei após passar o prólogo, focando apenas em adquirir peças melhores para ele.

Mas se a maneira como a campanha é estruturada e consequentemente dificulta a compra de novos carros pode soar como um ponto negativo aos colecionistas, ela nos permite criar um maior apreço por eles. Gosto de pensar nesta abordagem que a série vem utilizando desde o Heat como aquilo que acontece num RPG ou jogo de ação em que temos que escolher um personagem e vê-lo evoluir com o tempo. Como inevitavelmente teremos que trocar para um carro mais possante, basta ter um pouco de paciência e aproveitar aquele que estiver na nossa garagem virtual.

Need for Speed Unbound

Crédito: Divulgação/Criterion Games/EA

Need for Speed Unbound está longe de ser um jogo perfeito. Sua salada visual não agradará a todos, os diálogos travados entre os personagens muitas vezes soam ridículos e a trilha sonora parece ter sido escolhida por um grupo de tiktokers. Aliás, me incomoda a maneira como os jogos de corrida arcade atualmente parecem tão voltados para um público mais novo, embora o mais provável é que sempre tenha sido assim e eu é que estou me tornando velho.

Enfim, as corridas presentes no jogo são quase sempre muito divertidas (tirando as provas de drift, que nunca gostei), com ele conseguindo entregar um nível de dificuldade mais alto que o normal. Também me agradou muito a sensação de velocidade passada, muito fruto da estável taxa de atualização de frames e Lakeshore City (que foi inspirada em Chicago) é uma cidade muito bacana, repleta de detalhes e com muitos eventos para serem realizados. Só é uma pena que o estúdio não tenha criado uma maior variedade deles, como corridas off-road, aquelas em que o último colocado é eliminando ou as de arrancada. Um editor de corridas também seria muito bem-vindo

Por tudo isso considero o título da Criterion Games como o melhor Need for Speed em muitos anos, um jogo que certamente revisitarei de tempos em tempos, sempre que sentir aquela “necessidade por velocidade” ou simplesmente quiser dar uma volta pelas ruas para exibir um carro esportivo todo modificado.

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