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E se o NES tivesse recebido um leitor de CDs?

Você sabia que em 1990 a Codemasters planejou lançar um leitor de CDs para o NES? Pois essa é uma história que nem o co-fundador do estúdio lembrava

31 semanas atrás

Uma das histórias mais fascinantes dos videogames foi quando a Sony se uniu a Nintendo para desenvolver um leitor de CDs para o Super Nintendo. Mesmo sem a parceria ter dado frutos, ela acabou mudando a indústria para sempre, mas o que poucas pessoas sabem é que um acessório assim poderia ter aparecido bem antes, para o Nintendinho (NES).

NES

Crédito: Reprodução/Tomasz Filipek/Pexels

Por mais surreal que possa ser imaginar um NES com jogos em CDs, essa possibilidade foi levantada pela revista GamePro em sua oitava edição, que chegou às bancas em março de 1990. Conforme notado por Kara Jane Adams no Threads, na página 74 do periódico há uma nota falando sobre o leitor, cujo lançamento nos Estados Unidos estava previsto para acontecer em julho daquele ano. Ela diz:

CDs para o Nintendo?

Isso mesmo! Uma companhia do Reino Unido, Codemaster [sic], desenvolveu um CD player para ser usado pelo sistema Nintendo. A Samsung está fabricando o hardware para essa incomum unidade e a Camerica planeja distribuir o produto nos Estados Unidos começando no verão.

Se você comprar o CD player e a interface [de conexão] juntos, o custo será de US$ 159,95. Um CD contendo dois jogos estará incluído com a unidade. Os jogadores também poderão comprar a interface para o Nintendo separadamente por US$ 44,95. Isso deverá permitir qualquer um que tenha um CD player ligá-lo a seu Nintendo.

As vantagens desse sistema incluem o custo do jogo — um CD contendo dois ou três jogos terá o mesmo preço que um cartucho de jogo tradicional e um jogo de três a cinco mega custará menos que um jogo equivalente em cartucho.

A Camerica planeja ter seis CDs disponíveis em julho quando a unidade for lançada — três CDs com dois jogos em cada e três CDS, cada um com um jogo de três a cinco mega nele. Ainda não há nenhuma palavra sobre quais jogos serão e lembre-se, eles provavelmente não serão compatíveis com qualquer outro CD-ROM player de jogos.

Como a Nintendo ainda não anunciou planos para um CD player de áudio ou para um CD-ROM para o seu sistema, acompanharemos o desenvolvimento deste produto com grande interesse.”

NES

Crédito: Reprodução/Reno Laithienne/Unplash

Tendo ficado famosa pelos jogos que produziu, especialmente os de corrida, pode parecer estranho pensar na Codemasters trabalhando num dispositivo como esse, mas naquela época o estúdio britânico estava bastante interessado em explorar o mercado de hardware.

Caso não saiba, foram eles os responsáveis pelo Game Genie, um dispositivo lançado em 1990 e cujo objetivo ia além de nos dar acesso a trapaças nos jogos de NES, permitindo também que o videogame rodasse títulos que não foram licenciados pela fabricante japonesa. Depois ele ganhou versões para outros consoles, como o SNES, Game Boy e Mega Drive.

Já outra investida da empresa além da criação de jogos aconteceu justamente no tal leitor de CDs. Isso porque, embora tal aparelho nunca tenha dado as caras no Nintendinho, ele acabou sendo produzido para o ZX Spectrum e Commodore 64, com o nome de Codemasters CD. Seu funcionamento era parecido com o descrito pela GamePro, com um cabo servindo para conectar um CD player na entrada de joysticks daquelas máquinas e um programa fazendo com que a parafernália funcionasse.

Crédito: Reprodução/Nocash/CPCWiki

No caso da versão para o NES, o que torna tudo mais interessante é o fato da sua suposta produção ser tão pouco conhecida, mesmo décadas após a publicação daquela revista. Até dentro da Codemasters o assunto teria ficado perdido no passado, como sugere o cofundador do estúdio, David Darling:

“Eu realmente não lembro disso, exceto por uma vaga memória de que talvez a Camerica o tenha anunciado, mas nós não desenvolvemos nada. Falei com alguns caras bem-informados da Codie e nenhum de nós desenvolveu isso, mas talvez tenha sido discutido na época. Achamos que um protótipo ou produto nunca tenha sido desenvolvido, mas que a Camerica o anunciou cedo demais.”

Responsável pela distribuição dos jogos da Codemasters nos Estados Unidos, a Camerica não era uma editora licenciada pela Nintendo e para que os jogos dos britânicos pudessem rodar no NES, eles passaram a usar o Game Genie como uma espécie de destrava. Isso resultou numa briga na justiça e somada a algumas decisões comerciais equivocadas, o imbróglio acabaria levando a Camerica à falência em 1993.

Crédito: Reprodução/Wesley Tingey/Unplash

Portanto, é difícil acreditar que tal leitor de CDs pudesse salvar a empresa e mais complicado ainda é tentar imaginar o impacto que algo assim poderia ter causado na indústria. O primeiro pensamento pode ser de que a influência do NES teria se tornado ainda mais forte, mas não podemos esquecer que tanto o PC Engine quanto o Mega Drive receberam upgrades para rodar esse tipo de mídia. Mesmo assim, nenhum deles fez um grande sucesso, com a Nintendo tendo se mantido a frente da geração 16-bit com larga vantagem.

Talvez eu esteja enganado, mas a impressão que tenho é de que caso tivesse mesmo sido lançado, um leitor de CDs para o NES não passaria de uma curiosidade, algo a que poucos teriam acesso e que receberia uma quantidade muito pequena de jogos. Não sei, talvez o Sega CD tenha me deixado traumatizado, pois mesmo com ele tendo recebido alguns bons títulos, sempre achei que seu potencial nunca foi devidamente explorado.

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