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XBAND: disputando partidas online no SNES e Mega Drive

Conheça o XBAND, um acessório que levava partidas online ao Mega Drive e ao Super Nintendo — e que graças ao esforço dos fãs, ainda pode ser utilizado

42 semanas atrás

Para muitas pessoas que sempre foram mais próximas dos consoles, disputar partidas online é algo que elas só puderam experimentar lá pela época do PlayStation 3/Xbox 360. Com sorte essa experiência pode ter ocorrido na geração anterior, mas a verdade é que o multiplayer online já estava disponível bem antes, graças a um acessório chamado XBAND.

XBAND

Crédito: Reprodução/Sega-16

Sim, estamos falando de quase 30 anos atrás, quando a internet ainda era um privilégio para poucos e quando o que imperava era o bom e velho multiplayer local. Contudo, mesmo neste cenário inóspito, em 17 de novembro de 1994 uma empresa de Cupertino, Califórnia, lançou um modem que se tornou o sonho de muitos donos de um Mega Drive — ou Sega Genesis, como era conhecido nos Estados Unidos.

Com a sua divulgação acontecendo basicamente em revistas especializadas e estando disponível nas lojas da rede de locadoras Blocksbuster, a criação da Catapult Entertainment era vendida por US$ 19,99, o que atualmente seria o equivalente a US$ 40. Além disso, quem adquirisse o XBAND ainda precisaria pagar uma mensalidade, com dois pacotes estando disponíveis.

No primeiro deles o usuário pagava US$ 4,95, podendo se conectar 50 vezes durante um mês. No caso de haver conexões adicionais, ele seria cobrado US$ 0,15 por cada uma delas. Já na segunda opção, mediante um pagamento de US$ 9,95 não haveria limite para essas conexões. Além disso, ainda existia uma taxa de US$ 3,95/hora caso as partidas ocorressem contra opoentes fora da nossa área de chamada. Ou seja, jogar online naquela época não era muito barato.

Mas além do multiplayer online, o XBAND ainda contava com serviços interessantes, como acesso a emails (que a rede tratava como XMAIL) e a baixar dois boletins informativos que eram disparados diariamente. Num deles tínhamos notícias genéricas, enquanto no outro o foco estava em novidades específicas da plataforma, como placares de pontuações dos jogadores ou anúncios de torneios.

O acessório até contava com suporte a registrarmos até quatro nomes de usuários e a uma lista de amigos, onde podíamos armazenar os codinomes de até dez pessoas. Já a caixa de emails guardava as dez últimas mensagens recebidas e enviadas de cada usuário, assim como os rankings, o recorde de vitórias e derrotas, e um pequeno perfil, onde era mostrado o avatar escolhido.

XBAND

Lendária propaganda do XBAND numa revista da época (Crédito: Reprodução/@VGArtAndTidbits)

As mensagens por sua vez podiam ser digitadas usando um teclado virtual que era mostrado na tela e aqueles que não tinham muita paciência para isso podiam adquirir um teclado físico, que era vendido por US$ 29,95. Porém, esse acessório só foi surgir mais tarde, quando a rede já estava perdendo relevância.

Mas se dizer que o XBAND foi uma febre talvez seja um pouco exagerado, não há como negar que ele tenha conseguido conquistar muitos fãs. No auge a rede chegou a ter 15 mil assinantes, com ela estando disponível também nas versões americanas e japonesas do Super Nintendo. O maior responsável por isso foi o fato da rede ter levado as partidas online para jogos extremamente populares, como a trilogia Mortal Kombat, as séries Madden e NBA Live ou o Super Street Fighter II.

O detalhe aqui é que ao manipular a memória dos jogos de maneira parecida com o que acontecia com o Game Genie — famoso cartucho desenvolvido pela Codemasters e que nos permitia usar as mais variadas trapaças —, o pessoal da Catapult Entertainment conseguiu praticamente acabar com o lag, fazendo com que o sistema interpretasse as partidas como se estivessem ocorrendo localmente.

Aquele foi um feito e tanto, já que a Sega do Japão vinha oferecendo algo parecido há anos com o Mega Modem. O problema é que com ele o tempo de resposta variava, em média, entre um e três segundo, fazendo com que apenas certos gêneros fossem viáveis, como puzzles, jogos de tabuleiro e estratégia.

Tela de confronto do Meganet 2 (Crédito: Divulgação/Tec Toy)

Por aqui o XBAND só foi aparecer em 1996, quando a Tec Toy fez uma parceria com a Catapult e disponibilizou o cartucho/modem com o nome de Meganet 2. Divulgado como uma evolução de um serviço que a empresa brasileira fornecia até então, a diferença estava justamente nas partidas online, já que o antecessor só nos permitia ler e enviar emails, acessar salas de chat e fóruns, e ler notícias.

Os preços praticados no Brasil eram ainda mais salgados que aqueles vistos nos Estados Unidos, com o acessório saindo por R$ 119,90 (o que segundo o IBGE, custaria hoje R$ 591,28!). As assinaturas por sua vez custavam R$ 6,99 para 30 conexões, R$ 9,99 (R$ 49,27 atualmente) para conexões ilimitadas. Para piorar, ao contrário do que acontecia nos Estados Unidos, aqui os pulsos telefônicos precisavam ser pagos a parte.

Outra desvantagem da versão brasileira do XBAND é que ela era compatível com apenas cinco jogos: FIFA Soccer 95, Mortal Kombat II, Mortal Kombat 3, NBA Jam e Super Street Fighter II. Enquanto isso, nos Estados Unidos a lista de jogos que podiam ser aproveitados online era bem mais ampla, abrangendo 14 títulos para o Mega Drive e outros 14 para o Super Nintendo.

It's Alive!

O bom e velho trash talk antes da partida (Crédito: Reprodução/Youtube)

Mas se a ideia de termos partidas online nos consoles de 16-bit da Sega e da Nintendo naquela época parece algo surreal, qual seria a sua reação se lhe dissesse que isso ainda pode ser feito e até mais impressionante, com o próprio XBAND?

Pode ser difícil de acreditar, mas apesar dos servidores daquela rede terem sido desligados nos Estados Unidos em 1997, a dedicação de uma fã conhecida como Natalie tem permitido que ainda seja possível jogarmos online.

Isso porque, ao usar todo o seu conhecimento ela lançou em 2020 o Retrocomputing.Network XBAND Server, uma solução que utiliza VoIP ou uma linha fixa de telefone para realizar as partidas. O problema é que como o serviço foi criado para as redes telefônicas dos anos 90, onde a latência era menor, o desempenho hoje pode não ser tão bom.

Ainda assim, os testes e aperfeiçoamentos que estão sendo feitos desde esse renascimento do XBAND já permitem que seis jogos do Mega Drive sejam compatíveis e outros três do Super Nintendo também possam ser aproveitados. São eles:

  • Mega Drive: Madden 95 (USA)
  • Mega Drive: Mortal Kombat II (USA)
  • Mega Drive: NBA JAM (USA, experimental)
  • Mega Drive: NHL 95 (USA, experimental)
  • Mega Drive: Road Rash 3 (USA, muito experimental)
  • SNES/SFC: Doom (USA)
  • SNES/SFC: Super Mario Kart (USA, espere problemas gráficos)
  • SNES/SFC: Super Street Fighter II (Japão)

Talvez o grande destaque nesta lista seja o Doom, já que ele só ganhou suporte em 2022 e graças a colaboração de Randy Linden, game designer responsável pela adaptação do jogo para o console da Nintendo.

Enfim, mesmo com os problemas que algumas pessoas têm enfrentado para disputar partidas usando o XBAND e da fluidez não ser das melhores, considero muito legal saber que ainda há quem se disponha a isso. Se eu passaria muito tempo encarando partidas assim? Certamente não, mas que eu adoraria poder dizer que joguei online no Mega Drive ou Super Nintendo hoje em dia, como adoraria!

Fonte: Time Extension

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