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Skull Island: Rise of Kong, o jogo que não deveria ter existido

Apontado como um dos piores jogos de 2023, Skull Island: Rise of Kong teve apenas um ano para ser produzido e não passou de uma tentativa de fazer dinheiro

26 semanas atrás

Imagine trabalhar num pequeno estúdio localizado em Santiago, Chile. Agora imagine que certo dia lhe foi oferecida a oportunidade de desenvolver um jogo baseado em uma poderosa franquia do entretenimento. Na teoria isso seria um sonho, não é mesmo? Pois para os criadores do Skull Island: Rise of Kong, tal situação ficou mais próxima de um pesadelo.

Skull Island: Rise of Kong

Crédito: Divulgação/IguanaBee

Desenvolvido pela IguanaBee e publicado pela GameMill Entertainment, Skull Island: Rise of Kong chegou ao mercado em 17 de outubro e rapidamente chamou a atenção das pessoas, mas não pelo melhor dos motivos. Para muitos, estava ali um fortíssimo candidato a pior jogo de 2023, título que já parecia ser do Senhor dos Anéis: Gollum.

Sem uma quantidade mínima de avaliações para formar média no Metacritic, a nota mais alta que o jogo do King Kong recebeu foi um terrível 30, com a percepção do público não sendo muito melhor do que isso. E ao olharmos para as críticas fica fácil entender por que o jogo foi tão mal-recebido.

Por ter se passado quase duas décadas desde o último jogo baseado no personagem, existia alguma expectativa em relação ao que essa nova adaptação nos traria, mas o que vimos foi um show de horrores. Uma jogabilidade rasa e bastante truncada, gráficos que seriam ruins mesmo há três gerações, com texturas e animações de baixíssima qualidade e bugs, muitos bugs!

Se um título com tantos problemas fosse lançado por um preço acessível, ele já seria alvo de muitas reclamações, mas aqui estamos falando de algo vendido por R$ 147 na sua versão para Xbox Series ou R$ 200 para quem quiser jogar no PlayStation 5. E repare, o preço bastante elevado não é exclusividade do nosso mercado, já que lá fora ele está saindo por US$ 40.

Mas o que explicaria um jogo tão ruim como o Skull Island: Rise of Kong? Qual a justificativa para um estúdio que nos deu o aclamado What Lies in the Multiverse produzir algo com um padrão de qualidade tão baixo? Pois a resposta é simples: tempo e dinheiro, ou melhor, a falta deles.

A revelação desses problemas foi feita ao The Verge, de forma anônima, por alguns profissionais que trabalham ou trabalharam na IguanaBee. Segundo um deles, o desenvolvimento teria começado em junho de 2022 e precisaria ser entregue até 2 de junho passado, mas essa seria apenas uma parte da dificuldade que os chilenos enfrentariam.

“Era bastante comum não recebermos todas as informações sobre um projeto, o que era bastante frustrante durante o trabalho, porque tínhamos que improvisar com as informações limitadas que tínhamos em mãos,” disse um ex-funcionário que, embora não tenha trabalhado na criação do Skull Island: Rise of Kong, participou de outros projetos tão problemáticos quanto.

Skull Island: Rise of Kong

Crédito: Divulgação/IguanaBee

Já outra pessoa lembrou de uma ocasião em que um colega foi demitido, mesmo estando trabalhando no estúdio há mais tempo do que ela, provavelmente porque a GameMill Entertainment não havia liberado um orçamento suficiente para manter um certo número de profissionais por mais tempo.

Some a isso a impossibilidade de os envolvidos mudarem aquilo que julgavam não estar bom, afinal eles não teriam tempo para refazer tais partes. Mesmo assim, muitas horas extras precisaram ser feitas, o que afetou diretamente a moral. “O crunch começou realmente em fevereiro,” disse um dos entrevistados. “Eu estava no piloto automático no fim de fevereiro, porque toda a esperança havia sido perdida.”

Caso você esteja se perguntando o que leva um estúdio a se submeter a uma situação assim, basta pensar no dinheiro. Embora exista na IguanaBee a vontade de produzir títulos autorais, de alguma forma a desenvolvedora precisa financiar esses projetos e a maneira encontrada por eles para fazer isso foi terceirizando a produção, especialmente para jogos licenciados.

Crédito: Divulgação/IguanaBee

Isso os levou a criar títulos como G.I. Joe: Operation Blackout, NERF Legends e Star Trek: Resurgence, sendo este aquele que teve o melhor desempenho perante a crítica, com uma média 71. “É uma relação de amor e ódio, porque são eles quem aceitam ou dão projetos e a Iguanabee não tem como desenvolver quase nada sozinha porque bem... dinheiro,” explicou um dos ouvidos.

No caso do Skull Island: Rise of Kong, talvez o que torne a situação ainda pior é lembrarmos que a última vez em que a Oitava Maravilha do Mundo apareceu em um videogame foi com o excelente Peter Jackson's King Kong: The Official Game of the Movie. Eu joguei aquele FPS no PlayStation 2 e mesmo com todas as limitações da plataforma, ele ainda parece bem mais bonito que esse novo jogo.

Diante das declarações feitas por pessoas ligadas a desenvolvedora chilena, entendo que eles tenham feito o melhor que podiam, um sacrifício necessário para poder pagar as contas. Mesmo assim, isso não apaga o fato de o título que eles criaram ser uma tremenda porcaria.

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