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Quando o Sea of Thieves magoou Ron Gilbert

Ron Gilbert afirma que não sabia do crossover entre Sea of Thieves e Monkey Island, e deixa a questão: as empresas devem satisfação aos criadores de jogos?

45 semanas atrás

Algumas franquias acabam se tornando tão ligadas a seus criadores, que muitas vezes nos esquecemos que eles não possuem sua propriedade intelectual. Esse é o caso da Monkey Island e Ron Gilbert, mas o anúncio de uma parceria com o jogo Sea of Thieves nos fez lembrar que as empresas não estão muito preocupadas em massagear os egos dos autores.

Sea of Thieves - The Legend of Monkey Island

Crédito: Divulgação/Rare

Tudo começou no último domingo (11), quando durante uma apresentação que a Microsoft fez para mostrar o que está por vir para seus consoles e PC, um trailer revelou que o jogo de piratas criado pela Rare receberá um conteúdo especial. Embora a chegada de novidades ao Sea of Thieves seja comum, o que chamou a atenção foi o fato da atualização The Legend of Monkey Island ser focada na série criada por Gilbert, Tim Schafer e Dave Grossman.

Dividido em três episódios, o crossover nos permitirá navegar até Mêlée Island, onde encontraremos um barbudo Guybrush Threepwood, com a história se passando logo após o final do terceiro jogo, quando ele finalmente conseguiu se casar com o amor da sua vida, Elaine.

Segundo o anúncio feito pela Rare, com essa expansão teremos a oportunidade de “solucionar quebra-cabeças, lutar com adversários e enfrentar provações inesperadas enquanto nos esforçamos para corrigir situações que deram bizarramente erradas, enfrentando um perigo iminente nascido dos poderes de ambos os mundos.”

Com a promessa de que o novo conteúdo poderá ser aproveitado tanto solo quanto na companhia de amigos, a previsão é de que The Legend of Monkey Island chegue ao Sea of Thieves no dia 20 de julho.  

Embora faça muito tempo que não encaro o jogo de piratas da Rare, assim que vi este anúncio senti uma tremenda vontade de voltar a ele. Essa é uma fusão de universos que faz todo o sentido e como sempre gostei muito de The Secret of Monkey Island, poder experimentar essa história, mesmo com ela não fazendo parte da série principal, me pareceu uma boa pedida.

O que eu não sabia naquele momento era que Ron Gilbert não estava envolvido nesta criação. Na verdade, o game designer afirma que nem sabia que esse crossover estava sendo produzido, situação que ele disse em uma conversa pelo Mastodon que teria acontecido pelas suas costas.

Hoje a franquia Monkey Island pertence à Disney e embora a empresa não tenha feito algo ilegal ao não avisar seu criador sobre a utilização da propriedade intelectual em outro universo, os fãs não gostaram da maneira como Gilbert foi tratado. Para muitos, seria uma questão de cavalheirismo fazer isso, com a imagem de uma megacorporação maléfica sendo novamente pintada.

Isso se deve muito também a maneira como Ron Gilbert sempre se referiu a franquia. Por diversas vezes ele declarou interesse em adquirir os direitos sobre ela, investidas que, pelo menos publicamente, foram ignoradas pelos executivos da Disney. Além disso, recentemente ele teve a oportunidade de voltar a trabalhar com a marca, o que resultou no Return to Monkey Island, título que foi adorado por uns e odiado por outros.

Sea of Thieves - The Legend of Monkey Island

Crédito: Divulgação/Rare

Sendo assim, faz sentido imaginar que o pessoal da Disney, ou até mesmo da Rare, pudesse ter entrado em contato com Gilbert. O que torna essa história um pouco estranha é que, ao contrário do que o game designer defendeu pela rede social, esse comunicado teria chegado a acontecer.

Respondendo a uma publicação feita pelo site Eurogamer sobre o assunto, um representante da Terrible Toybox disse que “a Disney lhe deu um aviso sobre o projeto como cortesia, mas o jogo estava em desenvolvimento avançado naquele momento e ele não teve oportunidade de se envolver de forma significativa.” Por fim, a nota afirma que “[Gilbert] se preocupa muito com o Monkey Island e deseja boa sorte à equipe da Rare com o desenvolvimento.”

Esse foi um comunicado emitido pelo estúdio fundado por Ron Gilbert, então, será que ele teria apenas se expressado mal ao dizer que não sabia que esse crossover com o Sea of Thieves estava em produção? Será que o game designer “jogou para a galera”, fazendo questão de deixar claro que no caso de uma utilização ruim da marca, ele não teve nada a ver com isso?

O fato é que essa não será a primeira vez que ele não participa do desenvolvimento de um jogo baseado no universo que idealizou. A diferença é que quando se falamos do The Curse of Monkey Island, do Escape from Monkey Island e do Tales of Monkey Island, ele tomou conhecimento prévio do que estava sendo feito.

Crédito: Divulgação/Rare

Quanto ao posicionamento feito pela Terrible Toybox, a impressão que tive foi que Gilbert aproveitou para reforçar seu descontentamento, deixando nas entrelinhas o quanto ficou magoado por não ter participado ativamente da criação do The Legend of Monkey Island. Eu não sei até que ponto ele está certo ao tornar isso público, mas consigo me colocar no seu lugar e entender a frustração.

Por outro lado, não consigo ver a Disney como uma grande vilã nessa história. No lugar daqueles que cuidam das marcas da empresa, eu teria tido o maior cuidado antes de dar o sinal verde para essa parceria, avisando Ron Gilbert previamente e até lhe oferecendo algum cargo no projeto, nem que fosse apenas como consultor. Contudo, tudo se resume a negócios e se aquelas pessoas acharam que não deviam satisfação a ninguém, estão no seu direito.

Posturas assim podem ser consideradas desrespeitosas e até imorais, mas esse não foi o primeiro e nem será o último caso em que os envolvidos na criação de uma série foram sumariamente ignoradas em novos projetos. Para aqueles que comandam as propriedades intelectuais, desde que essas decisões não resultem em brigas jurídicas, pouco importa se os autores ficarão chateados ou se os fãs se revoltarão. Porque no fim, a preocupação é apenas uma: vender a maior quantidade possível de cópias, doa a quem doer.

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