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Índia no espaço: Lua em 2040, estação espacial e Vênus

Índia quer missão lunar tripulada até 2040, estação espacial e missão na órbita de Vênus; ousado, mas para quem chegou a Marte de primeira...

20 semanas atrás

A Índia é hoje uma das grandes potências tecnológicas, disso não há dúvidas. De país essencialmente agrícola, ele foi imensamente beneficiado com a Revolução Verde de Norman Borlaug, que tirou milhões do mapa da fome, permitindo ao governo investir pesado em P&D, em diversos setores. Hoje a Índia tem o 5.º maior PIB do mundo, quase o dobro do Brasil, que ocupa a 9.ª posição.

Representação artística da sonda MOM na órbita de Marte (Crédito: Kevin M. Gill/Wikimedia Commons)

Representação artística da sonda MOM na órbita de Marte (Crédito: Kevin M. Gill/Wikimedia Commons)

Os indianos se tornaram líderes no espaço, ao terem um programa espacial de verdade, com foguetes próprios. Isso lhe permitiu grandes ousadias, como ser o primeiro país a chegar a Marte na primeira tentativa, com um satélite que consumiu um orçamento ridículo, de menos de US$ 19 milhões (o projeto inteiro gastou US$ 57 milhões).

Projetada para durar 6 meses, a sonda Mangalyaan ("veículo marciano" em sânscrito) ou MOM (Mars Orbiter Mission) operou por mais de 8 anos, e só morreu quando seu combustível acabou, impedindo que manobrasse para fora das áreas de sombra criadas por eclipses, o que ela não foi projetada para lidar. Isso exauriu sua bateria, que era alimentada com energia solar captada pelos painéis.

Mais recentemente, a Índia estabeceleu m novo recorde ao pousar a sonda lunar Chandrayaan-3 ("veículo lunar") próximo do polo sul lunar no fim de agosto de 2023, o primeiro país a fazê-lo, o que fez da Índia a quarta nação a pousar módulos com sucesso no satélite, além dos Estados Unidos, Rússia/União Soviética, e China. Infelizmente, o conjunto que consistia do lander Vikram ("coragem") e do rover Pragyan ("sabedoria"), não respondeu aos comandos de ativação em terra, e a missão foi dada como perdida.

O programa Chandrayaan no geral não tem dado certo, na verdade. A missão anterior, com a sonda Chandrayaan-2, também deu chabú quando o módulo se chocou com a Lua em 2019, ao invés de pousar; a orbital Chandrayaan-1 é o único sucesso do programa, quando esta operou por 312 dias, entre 2008 e 2009, antes de perder a comunicação com a Terra.

Chega a ser curioso que a Índia conseguiu fazer o mais difícil, que era chegar em Marte e manter a missão por vários anos, na primeira tentativa, ao mesmo tempo que se enrola com a Lua, que seria mais "fácil" (nota: nada no Espaço é fácil). Claro, cada falha adiciona mais informações e chances para aprender e aprimorar, no que os indianos vêm se provando capazes.

Sonda lunar Chandrayaan-3: não se pode acertar (de primeira) sempre (Crédito: Divulgação/ISRO)

Sonda lunar Chandrayaan-3: não se pode acertar (de primeira) sempre (Crédito: Divulgação/ISRO)

Mesmo com a Organização de Pesquisa Indiana para o Espaço (ISRO), a agência espacial local, tendo anunciado o fim da missão Chandrayaan-3, para o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, os esforços do país deverão ser intensificados para estabelecer a nação como uma potência no espaço, ao lado dos Estados Unidos, China, Rússia, e da União Europeia.

O político foi apresentado aos planos futuros da ISRO, que incluem a continuação do programa Chandrayaanm, mas focam principalmente missões tripuladas. A cápsula Gaganyaan ("veículo celeste"), posicionada como a espinha dorsal do programa espacial indiano unificado, prevê o transporte de três astronautas viomanautas (o termo oficial usado pela ISRO), e upgrades incluirão capacidades de acoplagem.

Apresentada originalmente em 2019, a Gaganyaan deveria ter sido testada em dezembro de 2021, mas claro, não rolou; a previsão atual é de que a cápsula voe até meados de 2024. O objetivo é claro, mandar seus viomanautas para a Lua até 2040, com suporte total, incluindo foguetes, cápsulas e veículos de solo.

Antes disso, em 2035, a Índia deverá ter estabelecido sua própria estação espacial na órbita da Terra, chamada Bharatiya Antariksha ("estação espacial indiana". Sim, todos os nomes em sânscrito descrevem suas funções principais).

Não para por aí: Narendra Modi instigou os cientistas indianos da ISRO a buscarem desenvolver uma missão em Marte que inclua sondas em solo, e uma primeira missão orbital em Vênus, o planeta que, embora mais perto da Terra, tem suas particularidades e desafios a serem superados.

No que depender do primeiro-ministro Narendra Modi, a Índia irá ainda mais longe no espaço (Crédito: EuropaCorp/Buena Vista International/Disney)

No que depender do primeiro-ministro Narendra Modi, a Índia irá ainda mais longe no espaço (Crédito: EuropaCorp/Buena Vista International/Disney)

Óbvio que Narendra Modi, como todo líder populista, está fazendo o típico discurso político para ficar bem na foto e aproveitar os bons resultados do programa espacial da ISRO (mais a sonda MOM do que o programa Chandrayaan, mas enfim), em busca de votos e reconhecimento entre seus pares do BRICS no exterior, o bloco em que o Brasil é o único que não tem um programa de verdade, e faz questão de não ter.

A diferença é que a Índia fez por onde para fugir do atraso causado por inúmeros fatores, e mesmo que ainda tenha seus muitos problemas, correu atrás para se tornar uma das grandes nações exploradoras do Espaço, ao invés de por a culpa nos outros pela sua própria incompetência, lançar satélites em foguetes que viram ICBMs de forma não intencional, cubesats caríssimos que não funcionam, ou o caso do satélite que subiu sem a rede em terra estar pronta.

Como dito antes, o termo "Belíndia" hoje continua ofensivo, mas para a Índia.

Fonte: Prime Minister of India

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