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Inkbound: remando contra a correnteza das microtransações

Estúdio indie surpreende ao anunciar que sua mais recente criação, o jogo Inkbound, deixará de contar com qualquer modelo de microtransações

25 semanas atrás

Os estúdios independentes costumam ser elogiados por resgatarem gêneros que antes andavam esquecidos ou até por trazerem um sopro de originalidade para uma indústria um tanto estagnada. Porém, existe outra vantagem em não precisar prestar contas a alguma editora: a liberdade para escolher o modelo de monetização da sua criação. E um belo exemplo disso foi dado pelos criadores do Inkbound.

Inkbound

Crédito: Divulgação/Shiny Shoe

Mais conhecidos pelo jogo Monster Train, o Shiny Shoe é um estúdio localizado em São Francisco e que em junho de 2022 anunciou seu próximo projeto, um RPG cooperativo com elementos roguelike chamado Inkbound.

Disponibilizado no Steam como em acesso antecipado, o título implementou um sistema de microtransações para, segundo a desenvolvedora, ajudar a financiar sua produção. Porém, numa medida pouco comum e que deverá agradar muita gente, eles anunciaram um recuo nesta prática, prometendo para 27 de outubro a remoção de todas as vendas adicionais.

Em uma carta aberta aos consumidores, o Shiny Shoe justificou a decisão da seguinte maneira:

“É o nosso objetivo criar jogos nos quais possamos investir e atualizar além do lançamento. Como desenvolvedores, gostamos de expandir nossos jogos com o passar do tempo, combinando nossa criatividade com o feedback da comunidade para adicionar novos conteúdos e diversão.

Por esse motivo, lançamos o Inkbound com dois recursos de monetização in-game, para apoiar o desenvolvimento contínuo do jogo — com o Leveling Pass (ou Passe de Batalha) e a Loja de Cosméticos. Tentamos fazer deles os mais generosos e diretos possível, ao mesmo tempo, sendo 100% opcional, apenas cosmético, sem impacto na jogabilidade e sem FOMO [medo das pessoas de ficarem desatualizadas].

Contudo, está claro que o sentimento da indústria e dos jogadores está tendendo a ser contra esses recursos. Por essa razão, estamos removendo a monetização cosmética completamente. Conteúdo do Passe de Batalha existente será transformado em DLCs opcionais de ‘pacote de apoiador’ apenas cosméticos vendidos no Steam. O resto do conteúdo cosmético continuará disponível no jogo e obtido enquanto jogamos.

Para qualquer um que esteja lendo isso e que comprou qualquer coisa dentro do jogo — obrigado, de verdade. Esperamos que tenha aproveitado seu tempo com o Inkbound até agora e faremos o melhor para lançar a versão 1.0 em algum momento do ano que vem. Qualquer um que tenha feito uma compra receberá recompensas bônus como parte desta transição, como um agradecimento ao seu apoio.”

Inkbound

Crédito: Divulgação/Shiny Shoe

Na sequência, o pessoal do Shiny Shoe deu alguns detalhes sobre como essa mudança acontecerá, reforçando que embora a Loja de Cosméticos — que passará a se chamar Cofre Cosmético — permanecerá no jogo, tudo o que estiver disponível nela poderá ser adquirido apenas com a moeda ganha enquanto jogamos.

Por lá eles também explicam que as pessoas que adquiriram moedas com dinheiro real serão premiadas com o dobro do que compraram e que ao derrotar um Guardião, haverá a chance de um baú aparecer com uma recompensa cosmética em seu interior.

Por fim, eles ainda confirmaram a total remoção do Passe de Batalha e detalharam o conteúdo que será distribuído aos jogadores que pagaram por esse conteúdo adicional.

Embora remover as microtransações de um jogo não seja algo inédito, inclusive com algumas gigantes tendo adotado essa estratégia, como foi o caso da Warner Bros. Games e o The Lord of the Rings, Shadow of War, essa é uma correção de rumo raramente vista, praticamente uma exceção que confirma a regra.

Crédito: Divulgação/Shiny Shoe

Mas se neste momento deve haver várias pessoas por aí soltando fogos para comemorar a decisão desse pequeno estúdio, a dúvida que fica é sobre como eles planejam manter a produção, já que admitidamente contavam com essa fonte de renda oriunda das microtransações.

Pode ser que eles tenham chegado a tal decisão após verificar que as vendas dos cosméticos eram irrisórias, que não compensava o risco de queimar a imagem do Inkbound perante a comunidade. Porém, sem sabermos o quanto a loja in-game rendia, só podemos especular.

De qualquer forma, é possível sustentar o desenvolvimento apenas com a venda do jogo em si? Bom, é preciso avaliar caso a caso, mas o mercado possui alguns exemplos de títulos independentes que continuam recebendo ótimos conteúdos mesmo após muitos anos de seus lançamentos, como o Stardew Valley ou Terraria.

Para o público, a sensação de estar sendo bem tratado por uma desenvolvedora costuma ser muito bem-vista e não resta dúvida de que o Shiny Shoe chamou a atenção de muita gente que nunca tinha ouvido falar em suas produções. Também desconfio que a postura fará com que alguns acabem investindo no Inkbound, nem que seja só para prestigiar a atitude e com o tempo pode ser que uma base muito maior de jogadores se forme justamente por essa medida.

Crédito: Divulgação/Shiny Shoe

No entanto, mesmo que o estúdio um dia chegue à conclusão de que esse é um modelo de negócios que não os satisfaz, ainda haverá a possibilidade da venda de expansões. Por mais que esse modelo também conte com alguma rejeição, ele está na indústria há várias décadas e desde que o conteúdo oferecido justifique o valor cobrado, muitos não deverão ver problema em gastar com a sua aquisição.

Logo, existem diversas maneiras de manter a produção rendendo mesmo após um bom tempo desde o seu lançamento. O curioso é pensar que muitas delas são lembradas apenas pelos estúdios menores, justamente aqueles que mais precisam de qualquer trocado para manter a máquina girando. Enquanto isso, lá pela terra dos gigantes, o foco muitas vezes continua nas loot boxes, XP boosters, NFT, Pay-to-unlock, Pay-to-Win e tantas outras estratégias para esvaziar nossos bolsos.

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