Meio Bit » Games » Sony, EA e a quase briga pela franquia FIFA

Sony, EA e a quase briga pela franquia FIFA

Segundo ex-funcionário da EA, em 1997 a Sony recebeu uma oferta para adquirir a marca FIFA Soccer, mas receio de irritar editora impediu o negócio

22 semanas atrás

Durante três décadas a Electronic Arts e a FIFA mantiveram um acordo que deu origem a uma das franquias mais populares da indústria. Porém, a relação que aparentemente era amistosa passou por uma certa turbulência logo no início, uma possível traição que por pouco não deixou a marca da principal entidade do futebol mundial cair nas mãos de uma empresa que dava seus primeiros passos nos games, a Sony.

FIFA Soccer 97

FIFA Soccer 97 (Crédito: Reprodução/Emperor MAR/MobyGames)

A revelação de tal passagem foi feita ao site Time Extension por Tom Stone, então presidente de marketing da divisão europeia da EA. O ano era 1997, quando a editora norte-americana negociava renovar o contrato com a organização presidida na época pelo brasileiro João Havelange.

“Chris Deering [presidente da Sony PlayStation Europe] se encontrou comigo e disse, ‘nos foi oferecido os direitos pelo FIFA Soccer. Eu disse, ‘você deve estar brincando. Sério? A ISL chegou a vocês e perguntou se gostariam de uma licença exclusiva mundial para o FIFA? Após tudo o que fizemos por eles?’”, contou Stone. “Eu estava realmente zangado, mas o Chris me disse, ‘eu não assinarei com eles, a menos que vocês não cheguem a um acordo com a FIFA. Esse é um negócio de vocês, vocês o criaram.’ Obviamente, o Chris estava tendo uma visão geral do apoio que a EA deu para o PlayStation mundialmente. Acho que teria sido uma conversa interessante caso a Sony tivesse assinado aquele acordo. Acho que a EA teria respondido muito mal àquilo,” concluiu.

Essa última parte do comentário do executivo é interessante, pois mostra que eles tinham total noção do que estava acontecendo e que não há mocinhos quando se negocia os direitos sobre uma marca tão poderosa.

FIFA International Soccer

Crédito: Reprodução/Luiz Pacheco/MobyGames

Para a Sony, poderia ser um tiro no pé arrumar briga com aquela que era a maior editora do mundo na época. Se por um lado eles ganhariam a chance de produzir um jogo de futebol que levaria a marca da FIFA, por outro provavelmente perderiam títulos como Need for Speed, Theme Hospital, NBA Live, Madden, Nuclear Strike, Diablo (que foi publicado pela EA) e tantos outros.

Hoje só podemos especular como um rompimento como esse poderia ter afetado tanto a Electronic Arts quanto o PlayStation. Sem o apoio de marcas tão fortes como as produzidas pelos norte-americanos, será que o console da Sony teria se tornado o monstro que se tornou? E sem levar seus jogos para um videogame tão popular, será que a EA não poderia ter voltado sua atenção para o Nintendo 64?

O que sabemos ao certo é que a Sony preferiu apostar na sua própria franquia de futebol, fechando uma parceria com uma das marcas mais fortes dos esportes e colocando a Psygnosis para produzir o Adidas Power Soccer. Porém, a série nunca chegou perto de ameaçar a Electronic Arts, muito menos de incomodar aquele que se tornaria o queridinho dos donos de um PlayStation, o Winning Eleven/Pro Evoilution Soccer.

Outra certeza é que quando se trata de tanto dinheiro envolvido, a aparente amistosidade entre empresas muitas vezes não passa disso, uma imagem vendida para fazer parecer que as partes se adoram. No caso do FIFA Soccer, o que ambos os lados queriam era pura e simplesmente faturar o máximo que pudessem.

Adidas Power Soccer (Crédito: Reprodução/Xttx111/MobyGames)

Tudo bem, aqui temos um atenuante para a entidade máxima do futebol que é a participação da ISL, na época a maior empresa de marketing esportivo do mundo. Ainda assim, alguém será inocente suficientemente para achar que a consulta à Sony foi feita sem o conhecimento da FIFA?

Enfim, o fato é que aquela possível aquisição da fabricante do PlayStation não foi a única vez em que a parceria entre EA e FIFA estremeceu. Segundo o produtor Marc Aubanel, o rompimento que só surgiu em 2022 poderia ter acontecido bem antes.

“Sabíamos que estávamos fazendo mais pela FIFA do que eles estavam fazendo por nós, de um ponto de vista da marca,” declarou Aubanel. “Então, estávamos discutindo sobre largá-los décadas antes da EA finalmente os largar. O único motivo para não termos feito isso, foi porque o marketing estava petrificado em relação a perder do reconhecimento da marca. Construímos muito patrimônio com aquela marca. Estávamos cansados de ter que pagar por aquilo, mas toda vez que tínhamos que renegociar com a FIFA, eles simplesmente não queriam correr o risco de ter que mudar a marca.”

A vida pós-FIFA

Crédito: Divulgação/EA

Porém, o temor de perder consumidores não se concretizou, ao menos não neste primeiro momento. Segundo a Electronic Arts, apenas durante a primeira semana pós-lançamento do EA Sports FC 24, 11,3 milhões de pessoas experimentaram o jogo. Para comparação, esse número é superior em um milhão ao registrado pelo FIFA 23 durante o mesmo período.

Já quando se trata do FC Mobile, porção do jogo para smartphones e tablets, apenas nos primeiros dez dias ele alcançou 11,2 milhões de jogadores. Ou seja, para quem imaginava que a perda de uma marca como a FIFA poderia impactar as vendas ou no interesse do público, a previsão não se confirmou.

Vale lembrar que a FIFA exigia um pagamento de US$ 1 bilhão para que seu nome fosse usado pela EA, mas mesmo sem aceitar pagar a quantia, a editora manteve os direitos sobre as maiores competições de futebol (exceto pela Copa do Mundo). Já para a entidade, hoje sob o comando de Gianni Infantino, restou apostar em blockchain. Alguma dúvida de quem saiu ganhando com essa ruptura, pelo menos por enquanto?

Como teria dito Andrew Wilson, atual CEO da Electronic Arts, a seus funcionários, “a marca FIFA tem mais significado como um videogame do que como um órgão que governa o futebol.”

Leia mais sobre: , , .

relacionados


Comentários