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EA, Premier League e o bagunçado futebol brasileiro

EA oferece mais de R$ 3 bilhões para renovar contrato com a Premier League e mostra o quanto o futebol precisa evoluir por aqui

1 ano atrás

Quando se trata de histórias de sucesso no futebol, poucos casos são tão emblemáticos quanto a Premier League. Criada em 1992, a principal divisão do futebol inglês se tornou um colosso, sendo transmita para 212 países e alcançando 4,7 bilhões de espectadores. A sua importância se tornou tão grande, que se antes os jogadores sul-americanos tinham como sonho jogar em qualquer lugar da Europa, hoje eles fazem questão de irem para a Inglaterra.

FIFA 23 - Premier League

Crédito: Divulgação/EA Sports

Obviamente, tamanho interesse faz com que muitas empresas queiram ter seu nome associado à Premier League e uma delas é a Electronic Arts. Respondendo como um das principais parceiras do campeonato desde a temporada 2016/1017, a EA estaria negociando uma renovação de contrato com a entidade que cuida da disputa e o que chama a atenção são os valores envolvidos.

De acordo com a Sky Sports, na última sexta-feira (10), os 20 clubes que participam atualmente da liga teriam se reunido com representantes da EA Sports para ouvir a proposta de extensão do contrato por mais seis anos, o que renderia aos cofres da Premier League uma quantia de 488 milhões de libras esterlinas. Se confirmado, isso seria o equivalente a cerca de US$ 590 milhões, ou impressionantes R$ 3,069 bilhões!

Isolado, o montante pode assustar por ser bem alto, mas é ao sabermos que ele representaria mais que o dobro do que foi pago na última vez que temos uma melhor noção do que a editora norte-americana estaria disposta a pagar para continuar explorando a marca. Contudo, o investimento não seria feito pensando apenas na popularidade da Premier League.

Recentemente a Electronic Arts confirmou que não renovaria seu acordo com a FIFA, algo que vinha acontecendo a mais de três décadas e que os permitia utilizar o nome da entidade máxima do futebol nos seus jogos. Com isso, a partir deste ano a empresa publicará um jogo chamado EA Sports FC e a possibilidade de perder também o principal campeonato nacional poderia ter um impacto imenso sobre as vendas.

A parceria garantirá à EA Sports o direito de continuar utilizando todos os clubes que participam do campeonato inglês. Mas além deles, o próximo jogo também deverá contar com as representações de mais de 19 mil atletas, 700 equipes e um número superior a 100 estádios. Competições? Podemos esperar pelo menos 30 ligas nacionais e é aí que precisamos falar do que acontece no nosso quintal.

Crédito: Divulgação/EA Sports

A relação da EA com o futebol brasileiro tem andado estremecida há muitos anos, com a falta de um acordo com a entidade que representa os atletas que jogam por aqui inclusive tendo rendido alguns processos à empresa. A solução encontrada pela EA foi, num primeiro momento, utilizar apenas jogadores fictícios e negociar individualmente com os clubes, com o nosso campeonato contando com apenas algumas equipes.

Porém, o que já era muito ruim se tornou ainda pior, com a última edição do jogo a carregar consigo o nome da Federação Internacional de Futebol chegando ao mercado sem um campeonato brasileiro. Sim, embora no FIFA 23 possamos disputar o poderoso campeonato chinês, o argentino ou até mesmo o “dinamarcão”, infelizmente não temos a possibilidade de nos sagrarmos campeões por aqui, mesmo com um clube criado no modo carreira ou com uma equipe real, mas com jogadores que não existem de verdade.

Há quem goste de jogar a culpa por essas ausências na própria EA, que não estaria disposta a abrir os cofres para garantir os direitos sobre as equipes e atletas daqui. Isso até pode ser verdade, mas o fato é que enquanto não tivermos uma liga minimamente organizada, com uma empresa competente cuidando dela e não a Sra. CBF, dificilmente a editora vai querer se arriscar por águas tão turvas.

O problema é que sempre que o futebol brasileiro flerta com a possibilidade de uma liga profissional, o egoísmo e o individualismos dos dirigentes brazucas fala mais alto, fazendo com que invariavelmente caminhemos um passo adiante e vários outros para trás. Alguém poderá lembrar da Primeira Liga, iniciativa surgida em 2015 e que ao invés de servir como embrião para um campeonato nacional, resultou num enorme fiasco.

FIFA 23 - Premier League

Crédito: Divulgação/EA Sports

No entanto, o insucesso em criar uma liga brasileira já havia acontecido muito antes, quando em 1987 os clubes criaram a Copa União, com o seu desfecho sendo ainda mais ridículo. Repare, isso aconteceu bem antes do início da Premier League e por mais que hoje os nossos clubes não estivessem mais ricos que os do principal campeonato nacional do planeta, pelo menos poderiam estar numa condição bem melhor.

Mas isso não passa de especulação, assim como temos visto na nova tentativa de se criar uma liga por aqui, mas novamente mediante um impasse. Tudo começou em maio de 2022, quando sete clubes brasileiros se uniram para criar a Liga do Futebol Brasileiro (Libra). Com o tempo outras 11 equipes se juntaram a eles, dando indícios de que finalmente veríamos o nascimento da tão sonhada liga brasileira.

Porém, vários outros clubes não concordaram com algumas ideias propostas, especialmente em relação à divisão da receita oriunda da televisão e assim criaram a Liga Forte Futebol do Brasil (LFF), que hoje conta com 26 membros.

Crédito: Divulgação/EA Sports

Enquanto o racha entre os times continua, os dois grupos têm buscado empresas interessadas em investir na criação do possível campeonato e neste sentido, a LFF saiu na frente. De olho no potencial da nossa suposta liga, a Serengeti Asset Management e a Life Capital Partners aceitaram pagar R$ 4,85 bilhões por 20% da competição, num acordo que teria 50 anos de duração.

Porém, para que o contrato seja firmado é preciso que a liga conte com pelo menos 36 equipes e considerando a falta de acordo entre os grupos, essa é uma equação que ainda parece longe de ser resolvida. Para piorar, os contratos atuais dos clubes com a televisão vencem em 2024, o que faz com que a liga brasileira precisasse começar no ano seguinte. Enquanto isso, o relógio continua avançando.

Caso o martelo realmente seja batido e um campeonato brasileiro decente venha a ser criado, pode ser que um dia a EA volte a olhar com mais carinho para o nosso futebol e finalmente vejamos os nossos clubes (e atletas) voltarem aos seus jogos. Até lá, só podemos olhar com inveja para como a Premier League se fortaleceu e lamentar a maneira amadora como ainda tratamos algo tão valioso como o futebol.

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