Ronaldo Gogoni 24/08/2023 às 10:30
O Aurora R15 é o mais recente desktop da Alienware, a linha gamer de alto desempenho da Dell. Ele chegou ao Brasil com fabricação/montagem local, em uma proposta que lembra bastante o antológico iMac G3 da Apple: basta ligar, conectar à internet, e sair usando.
Tal abordagem de design um tanto blindado, que privilegia a forma sobre a função, tem seus revéses: assim como um laptop gamer, o Aurora R15 apresenta limitações sérias para upgrades, ainda que suas opções de customização (no site oficial) ofereçam munição de sobra para os games mais pesados.
Afinal, o Aurora R15 vale o (muito) que pede? Eu o testei por duas semanas e conto o que achei dele nos próximos parágrafos.
Desde 2004, o Meio Bit publica análises opinativas com o intuito de ajudar os leitores a tomarem sua própria decisão de compra, seja de um gadget, um game ou um serviço/software/app. Nós somos francos em nossas opiniões e destacamos pontos positivos e negativos de igual maneira, não importando a natureza dos produtos, de modo a manter a integridade e transparência do site.
Ninguém externo à redação do Meio Bit teve acesso a este review de forma antecipada, bem como não houve nenhum tipo de interferência, pagamento, ou direcionamento da Dell e/ou terceiros, em relação ao seu conteúdo.
O desktop gamer Alienware Aurora R15, o monitor AW2523HF, o teclado 510K Low Profile RGB, e o mouse 720M, foram fornecidos pela Dell em caráter de empréstimo; todos serão devolvidos à empresa após os testes.
Vamos admitir, o gabinete do Aurora R15 é estiloso e atraente. Ele apresenta uma leve inclinação e LEDs customizáveis na parte frontal, barra superior do nome da marca, bomba do watercooler e ventoinha traseira, além da iluminação própria da placa de vídeo. Ele possui linhas arredondadas e a base inteira é o pé, o que confere firmeza.
A tampa lateral esquerda (vendo o gabinete de frente) é transparente e apresenta uma grelha e furos para circulação de ar, a única diferença notável entre o R15 e o R14, que era toda fechada; isso foi feito devido reclamações pelo aquecimento dos componentes.
Como todo desktop, o Aurora R15 é bem servido de portas. A parte frontal conta com 3 USB-A, sendo uma delas energizada, uma USB-C 3.1, e uma saída P2 para fone de ouvido, todas dispostas na posição vertical.
Porém, é na parte de trás que estão as muitas conexões principais, para diversas funções.
Temos conexões de áudio para sistemas de som com Surround e subwoofer, a entrada para microfone, duas saídas S/PFID, uma coaxial e outra óptica, a óbvia e necessária porta Ethernet Gigabit, e mais 8 portas USB, sendo 4 USB-A 2.0 (duas energizadas), duas USB-A 3.0, uma USB-C 3.1 (10 Gb/s) e uma USB-C 3.2 (20 Gb/s).
A placa de vídeo conta com conexões próprias, sendo 3 portas DisplayPort e uma HDMI 2.1. Fechando o conjunto, há duas portas coaxiais para conectar a antena Wi-Fi 6E, que não usei por dispor de rede cabeada, mais estável.
Com 51 cm de altura e 13 kg, o Aurora R15 é bem grande e pesado, e talvez não seja fácil de acomodar em qualquer mesa, mas a verdade é que um conjunto como este foi feito para ser visto e apreciado, e não escondido em um nicho.
Na traseira do Aurora R15, existe uma alavanca em que só é preciso soltar o parafuso, puxar para destravar a tampa de acrílico, e então movê-la para trás e cima a fim de removê-la, e ter acesso ao seu interior. Para colocar de volta, basta fazer a operação reversa.
Isso foi feito para viabilizar upgrades por parte do usuário, o que seja a ser irônico, visto que o design não ajuda muito.
A placa-mãe é um modelo proprietário da Dell, com soquete LGA 1700 que suporta processadores Intel Alder Lake e Raptor Lake, mas possui um design um tanto datado, sem dissipadores modernos vistos em modelos da ASUS, Gigabyte e outros. Ela oferece apenas dois slots de memória RAM DDR5, que suportam até 64 GB a 5.600 MHz, uma quantidade baixa para gabinetes, mas aceitável em laptops.
Os pentes presentes, da fabricante SK Hinyx, são bem comuns e não seguem o design arrojado do gabinete. A placa também conta com dois slots M.2 para SSDs NVMe.
A GPU presente, a RTX 4070 Ti da Nvidia, ocupa boa parte do espaço interno e deixa muito pouco sobrando entre ela e a fonte ATX. Em tese, você conseguiria trocá-la pela RTX 4090 (nos EUA, uma configuração específica vem com tal placa), porém esta seria uma tarefa para poucos, e depende também do fabricante escolhido.
No geral, os upgrades deste desktop se limitariam para a maioria do público à RAM e SSD, igual em um laptop, e em alguns casos, também a CPU e watercooler, aqui um de 240 mm também proprietário; GPU, apenas para os corajosos.
Em um desktop, acesso ao interior deve andar de mãos dadas com a facilidade para upgrades, e nesse sentido, o Aurora R15 não é tão amigo assim.
O SSD escolhido pela Dell pertence à quase desconhecida companhia japonesa Kioxia, um modelo KXG80ZNV1T02 de 1 TB, que eu julgo ser pouco para um desktop; bastaram alguns games instalados e o espaço restante encolheu para ridículos 70 GB, o que pode (deve) ser mitigado por uma segunda unidade.
Por outro lado, embora o componente não seja de uma grife famosa, ele apresentou um excelente desempenho, como atestado pelo CrystalDiskMark, o melhor software de diagnóstico para unidades de armazenamento, porque contém japinha:
A Dell pode ter economizado alguns trocados com a escolha de um SSD menos badalado, mas ao menos não colocou um de má qualidade.
A Dell enviou para os testes e review alguns itens adicionais, para otimizar a experiência com games e aproveitar principalmente as capacidades da RTX 4070 Ti. O principal é o monitor gamer Alienware AW2523HF, um Full HD de 25 polegadas, taxa de atualização de até 360 Hz (DisplayPort; 255 Hz via HDMI), e tempo de resposta de 0,5 ms (GtG).
O painel LCD alcança 99% no padrão sRGB, fazendo dele ideal para trabalho em design, mas sua alta taxa de atualização o torna perfeito para uso em games com GPUs potentes, priorizando a taxa de quadros sobre a resolução.
Além de ótimo ângulo de visão, fidelidade de cores, facilidade de ajustes de altura e inclinação, ele suporta conexões USB diretas, uma vez ligado via cabo USB-B ao desktop, e conta com uma curiosa barra lateral retrátil, um suporte para headsets.
Seu único "defeito" é ficar limitado ao 1080p; uma resolução 4K, ou mesmo Quad HD, cairia bem.
O teclado mecânico Alienware 510K Low Profile RGB, outro item enviado para testes, ganha pontos por usar switches Cherry MX Red, tido como o padrão para games, é bem suave ao clicar e oferece pouca resistência. O perfil baixo compacto segue o padrão US, com design 100% (pad numérico), como tem que ser.
Ele possui cabo revistido reforçado e conta com uma porta USB-A na parte de trás, que o habilita ser usado como um hub, onde muitos optarão por conectar o mouse.
Nos meus testes, a digitação tanto em jogos quanto para trabalho e composição de textos é bem fluída, embora eu ainda prefira o padrão ABNT2. Este é um ponto que a Dell deve considerar para uma revisão futura.
Por fim, o mouse gamer Alienware 720M. Ele é posicionado pela Dell como um produto "três-em-um", podendo ser usado com fio, da maneira tradicional, sem fio, com adaptador próprio de 2,4 GHz, ou via Bluetooth, que a fabricante garante o uso por 420 horas até o próximo carregamento.
Com resolução de 26.000 DPI (!), taxa de frequência (polling rate) de até 1.000 Hz no modo Bluetooth, monitoramento de 650 IPS e aceleração de 50 G, ele é bastante preciso, embora apresente um visual simplificado. Em alguns aspectos, ele lembra bastante o Razer DeathAdder Elite, e o HyperX Pulsefire Surge, embora ambos contem com "apenas" 16.000 DPI.
Eu achei o 720M um mouse honesto, embora ele tenha um ponto fraco incômodo (mais sobre isso a seguir). Mas voltemos ao Aurora R15.
A configuração do gabinete enviada pela Dell conta com o processador Core i9-13900K da Intel, um 24-core de ponta que chega até 5,8 GHz com overclock, além de 32 GB de RAM DDR5 a 4.800 MHz, e um SSD M.2 de 1 TB. Como já mencionamos, a GPU presente é a RTX 4070 Ti da Nvidia, com 12 GB de RAM GDDR6X, a única que a fabricante disponibiliza para o produto no Brasil.
Tal kit é bastante poderoso, e combinado ao monitor de 360 Hz, foi possível testar o Aurora R15 com folga, e ele definitivamente não fica devendo em desempenho bruto na hora de jogar, que é o que interessa.
Estes foram os resultados que o desktop cravou no Geekbench 6:
Na hora da jogatina, o Aurora R15 atingiu as seguintes marcas em quadros por segundo (fps) nos games testados, sempre com DLSS 3, recurso exclusivo da arquitetura Ada Lovelace (RTX Série 40), no talo:
As temperaturas médias da CPU e da GPU durante a execução de games foram de 76º C e 79º C, respectivamente, marcas apenas razoáveis, talvez devido o watercooler de 240 mm, e os conhecidos problemas de ventilação do gabinete em si. Tanto o R14 quanto o R15 foram bastante criticados por usuários, por seu design não favorecer a passagem de ar adequada.
Talvez por isso, a Dell tenha mudado o design para o Aurora R16, recém-anunciado para o mercado norte-americano, focando justamente na ventilação.
Como sempre, o Aurora R15 sai dse fábrica com alguns apps proprietários de diagnóstico e customização da Dell. O principal é o já conhecido Alienware Command Center, que oferece opções para otimização de games instalados, monitoramento de temperatura, controle de overclock, e customização das luzes RGB tanto do gabinete, quanto de outros produtos da linha conectados, no caso, o teclado e o mouse.
Ele também reconheceu o monitor, mas este não tem RGB para ajustar.
O Alienware Aurora R15 é um gabinete gamer voltado para quem quer potência, mas não está interessado em por a mão na massa e montar seu próprio PC, ou não tem conhecimento para isso. O problema, as decisões de design focando na aparência comprometeram as possibilidades para upgrades futuros.
Isso nos traz aos preços*. Na configuração enviada para o review, com processador Core i9-13900K, GPU RTX 4070 Ti, 32 GB de RAM, Windows 11 Home e SSD de 1 TB, o Aurora R15 sai por R$ 19.800, sozinho. O monitor AW2523HF custa R$ 3 mil, o teclado 510K, R$ 530, e o mouse 720M, R$ 540 (eis o ponto fraco).
Caso você opte por adquirir os 4 itens, tal qual esta análise foi conduzida, será preciso desembolsar a bagatela de R$ 23.870, o que seria aceitável caso o gabinete não limitasse os upgrades.
Se você possui conhecimento e tempo sobrando, partir para montar seu próprio desktop com a 4070 Ti e o i9-13900K, optando por uma placa-mãe que suporte mais RAM, ainda é a melhor opção, com o custo saindo bem mais em conta, descontando o investimento em periféricos (monitor, mouse, teclado).
Já para quem não deseja se preocupar com troca de peças, talvez um laptop gamer seja uma boa pedida, embora estes tenham sua própria cota de problemas.
No fim, o Aurora R15 é um produto para quem busca poder de fogo, e acima de tudo, gosta dos designs alienígenas da Dell.
Pontos fortes:
Pontos fracos:
* A Dell reajustou os valores de todos os seus produtos pouco tempo após a publicação deste review; o texto foi atualizado com base nos preços sugeridos em 01/09/2023.