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Overwatch 2 — um update para reconquistar os fãs

Overwatch 2 é uma atualização massiva disfarçada de sequência do FPS heroico, e traz diversas mudanças... para o bem e para o mal

1 ano e meio atrás

Quase 3 anos após o anúncio original, Overwatch 2 foi finalmente lançado. O primeiro título da série lançado em maio de 2016 pela Blizzard, um FPS cooperativo com temática heroica, conquistou milhares de fãs pelo mundo, com uma jogabilidade sólida e personagens carismáticos, garantindo muitas horas de entretenimento.

Overwatch 2 (Crédito: Divulgação/Blizzard Entertainment)

Overwatch 2 (Crédito: Divulgação/Blizzard Entertainment)

O desenvolvimento visível do "novo" título foi acompanhado de muitas dúvidas e desconfiança, e a migração para o modelo gratuito com microtransações fez dele mais um GaaS (Jogo como um Serviço), mas Overwatch 2 continua sendo o que sempre foi: extremamente divertido de jogar.

Overwatch 1.5

Vamos direto ao ponto principal: Overwatch 2 não é uma sequência, e sim uma atualização massiva do título original, que em tese deixou de existir; quem adquiriu Overwatch até 23 de junho de 2022 receberá um Pacote de Fundador, com 2 skins e um avatar exclusivos, e a liberação automática da nova heroína Kiriko, bastando entrar no jogo até 5 de dezembro para resgatá-lo.

Os créditos legados, diferentes da moeda premium usada no título atual, continuam válidos, para a aquisição de itens cosméticos da versão anterior, enquanto os novos são comprados com os créditos premium de Overwatch 2, ou desbloqueados através do Passe de Batalha (mais sobre isso a seguir).

A mecânica de Overwatch 2 passou por uma grande e criticada reformulação, com a redução dos times de 6 para 5 integrantes. Nas batalhas por função, incluindo o modo Competitivo, eles serão compostos por 2 heróis de Dano, 2 Suportes, e apenas 1 Tanque, contra os 2 originais de Overwatch.

A decisão da Blizzard em reduzir o número de tanques pôde ser constatada em primeira mão, com as batalhas ficando mais dinâmicas e menos cadenciadas, mas, simultaneamente, o jogador controlando o Tanque tem agora uma enorme responsabilidade, pois será ele, sozinho, o responsável por absorver a maior carga de dano do time. Logo, ele terá que planejar bem sua posição.

Jogar como tanque agora é uma baita responsabilidade (Crédito: Reprodução/Blizzard Entertainment)

Jogar como tanque agora é uma baita responsabilidade (Crédito: Reprodução/Blizzard Entertainment)

Isso coloca uma carga absurda sobre quem escolhe os heróis mais flexíveis, como D.Va e Doomfist, este tão modificado que acabou mudando de categoria (originalmente Dano); ambos são muito úteis para infligir dor aos adversários, mas dada a restrição a apenas um Tanque, os main destes (eu incluso) deverão repensar suas prioridades. Será isso ou optar por tanques mais tradicionais, como Reinhardt ou Winston, em prol do time.

Na parte de novidades, Overwatch 2 chega com 3 novas heroínas, sendo duas delas anteriormente apresentadas e referenciadas no lore: a capitã Sojourn, uma DPS com estilo de combate similar ao do Soldado: 76, mas com técnicas que quando bem usadas, se tornam extremamente letais, e a Rainha Junker, uma Tanque com boa resistência e ótimos ataques a curta e média distância.

A grande novidade para todos, que não foi sequer disponibilizada durante os períodos de Beta, é a novata Kiriko, uma ninja da categoria Suporte que possui um moveset similar ao de Genji, mas conta com habilidades mais próximas da Mercy, oferecendo cura, invencibilidade, e um Supremo que aumenta a velocidade e diminui o cooldown das habilidades do time.

Nas mãos de jogadores experientes, Kiriko tem grande potencial para virar o resultado de uma batalha, logo, é compreensível que ela esteja indisponível no modo Competitivo durante as primeiras 3 semanas de Overwatch 2; isso dará tempo para os jogadores não só dominá-la, como entender seus padrões e desenvolver meios de quebrar seu gameplay, quando tiverem que enfrentá-la.

Além disso, Kiriko é um rolinho de canela (Crédito: Divulgação/Blizzard Entertainment)

Além disso, Kiriko é um rolinho de canela (Crédito: Divulgação/Blizzard Entertainment)

Há também novos mapas em diversas localidades inéditas, com o destaque indo para Paraíso, situado no Rio de Janeiro. Apesar de ser do tipo Híbrido (conquista de área e entrega de carga), ele é o maior em extensão já incluído em Overwatch, contando com o jogo original, sendo em média duas vezes maior que os demais.

Além disso, ele traz uma série de easter eggs para os brasileiros, tudo escrito em português sem erros (coxinha!), e até uma pequena porção do mapa reproduz a vila do Chaves. Vai procurar.

O mapa Paraíso permitirá ao herói brasuca Lúcio desempenhar um papel importante no modo História, quando ele for incluído em Overwatch 2 no futuro.

A novidade nos modos de jogo responde pelos mapas de Avanço (Push no original). Neles, os times disputam o controle de um robô, que deve empurrar uma barricada até pontos específicos do mapa, e é basicamente uma adaptação do Cabo de Guerra.

O mapa Paraíso, no Rio de Janeiro, é o maior já incluído (Crédito: Divulgação/Blizzard Entertainment)

O mapa Paraíso, no Rio de Janeiro, é o maior já incluído (Crédito: Divulgação/Blizzard Entertainment)

Diferente do que acontece nos mapas de entrega de carga, a velocidade de movimento do robô é igual em ambos sentidos, e uma vez que ele chegue ao destino, próximo ao ponto de ressurgimento do time inimigo, a vitória é garantida.

O sistema de recomendação também foi remodelado, e agora é possível selecionar dois amigos de time como destaques na partida, ao invés de apenas um como em Overwatch.

Na parte técnica, Overwatch 2 continua tão bonito quanto sempre foi, o que, na verdade, depõe contra o jogo: os modelos estão levemente mais detalhados, mas ainda estão muito próximos do que vimos no jogo original. Cada herói legado ganhou uma nova skin padrão, e cenários antigos trazem diferenças como mudanças na hora do dia em que a batalha é travada; Dorado foi um dos que ficou mais bonito.

Sobre o som, preste atenção nas interações entre os heróis antes das partidas, todos os legados ganharam novos diálogos, e a dublagem e localização continuam primorosos, com trabalhos estelares de profissionais como Flávia Saddy (Widowmaker), Christiano Torreão (Junkrat), Luiz Carlos Persy (Doomfist), Guilherme Lopes (Cassidy) e vários outros.

O modo Avanço é bem curioso (Crédito: Divulgação/Blizzard Entertainment)

O modo Avanço é bem curioso (Crédito: Divulgação/Blizzard Entertainment)

A voz de Christiane Louise (1971 — 2021), que dublou a Mercy, foi mantida ao lado de novas linhas gravadas pela dubladora atual, Tonia Mesquita, e o mesmo vale para as falas de Ângela Bonatti (Ana), que se aposentou; Marize Motta responde pelos novos diálogos.

No mais, as novas músicas puxam para um estilo mais eletrônico, diferente da vibe grandiosa de Overwatch, uma clara homenagem ao estilo de John Williams, o grande compositor de temas memoráveis do cinema, principalmente para heróis.

Passando a sacolinha

A grande mudança de Overwatch 2 está em seu modelo de negócios, claro. A Blizzard, de olho no sucesso estrondoso de Fortnite, que conquistou o mundo com o modo Battle Royale gratuito, decidiu ser hora de abandonar a estratégia do preço cheio de título AAA, assim, o game é um free-to-play multiplataforma, com cross-play e cross-save total, o que aumentou exponencialmente sua acessibilidade.

As loot boxes, há anos fonte de dores de cabeça para desenvolvedores, também foram abandonadas, mas como monetizar é preciso, Overwatch 2 recorre ao famigerado Passe de Batalha, que conta com as modalidades gratuita e Premium (paga), e traz avatares, banners, poses de vitória, emotes, falas, skins exclusivas... e heróis.

Sai preço full, entra o Passe de Batalha (Crédito: Reprodução/Blizzard Entertainment)

Sai preço full, entra o Passe de Batalha (Crédito: Reprodução/Blizzard Entertainment)

Por padrão, Kiriko só é desbloqueada ao atingir o nível 55 do passe gratuito, tornando-a inacessível de início a novos jogadores que chegarão graças ao F2P, a menos que estes comprem o Pacote do Observatório, que custa R$ 200; tanto este quanto a compra do Passe Premium à parte liberam o acesso aos itens mais valiosos, desde que você jogue bastante para subir de nível.

Não obstante, quem está chegando agora terá acesso a um rol de heróis limitado, com apenas 15 dos 35 disponíveis de início, sendo os Tanques Orisa, Rainha Junker, Reinhardt, Winston e Zarya, os DPS Pharah, Reaper, Sojourn, Soldado: 76, Torbjorn, Tracer e Widowmaker, e os Suportes Lúcio, Mercy e Moira.

Para liberar os demais, com exceção de Kiriko, é preciso jogar um total de 150 partidas.

Dentre os itens mais interessantes do Passe Premium, o destaque vai obviamente para a recompensa final, uma skin mítica para o herói Genji, que permite customizar tatuagens, espada, máscara (móvel) e padrão de cores, em diversas combinações possíveis. Segundo a Blizzard, há planos para mais visuais similares no futuro.

No mais, Overwatch 2 também possui uma loja dedicada, similar à de Fortnite, onde é possível comprar skins e outros itens com a moeda premium, que obviamente, é conseguida abrindo a carteira, o game até fornece uma quantidade limitada delas, ao cumprir desafios semanais (F2P, lembra?), mas muito pouco.

Claro que tem uma lojinha (Crédito: Reprodução/Blizzard Entertainment)

Claro que tem uma lojinha (Crédito: Reprodução/Blizzard Entertainment)

É compreensível que a Blizzard busque monetizar Overwatch 2 de modo similar a outros títulos GaaS (Jogos como um Serviço), com Fortnite sendo a óbvia referência de modelo de negócios, mas a mudança não só está desagradando muita gente, como a fome por dinheiro da Activision acabou implementando os piores aspectos do formato, como o FOMO (Fear of Missing Out, ou Medo de Ficar de Fora).

Futuras temporadas do Passe de Batalha também trarão pelo menos 2 novos heróis, todos restritos ao Passe de Batalha, ainda que eles sejam todos desbloqueáveis na categoria gratuita. Quem não conseguir atingir os níveis correspondentes até o fim da temporada ficará sem eles para sempre? A Blizzard não esclareceu se eles serão posteriormente disponibilizados na loja, na minha opinião, algo inevitável.

Bugs e ausências

O lançamento de Overwatch 2 foi um dos mais tumultuados que já vi. Ele foi vítima de ataques DDoS massivos, aliados à provável situação em que a Blizzard pode ter considerado que seus servidores aguentariam o tranco inicial. Como resultado, logar no game foi uma tarefa hercúlea durante as primeiras 72 horas.

Como se não bastasse, o título foi afligido por todos os tipos de bugs, como compras legadas não validadas, heróis trancados para jogadores veteranos, skins que não migraram entre plataformas pelo cross-save, e erros de logoff forçado na plataforma Xbox, sempre que um jogador conquistava um troféu. Esse aconteceu comigo várias vezes.

Outro ponto negativo, embora tenha sido anunciado muito antes, foi a ausência do modo História, que não só expandirá o rico lore de Overwatch dentro do jogo, e não mais apenas em animações e HQs, como vai implementar um velho pedido dos fãs, a jogabilidade PvE (Jogador contra Ambiente).

O modo História, com jogabilidade PvE, deve chegar em 2023 (Crédito: Divulgação/Blizzard Entertainment)

O modo História, com jogabilidade PvE, deve chegar em 2023 (Crédito: Divulgação/Blizzard Entertainment)

Este modo, presente em eventos sazonais como A Vingança de Junkenstein e Arquivos, permite que amigos organizem times para enfrentar inimigos controlados pela CPU, no que muitos preferem estes a terem que lidar com oponentes humanos, que muitas vezes podem ser extremamente tóxicos.

Por mais que o time então liderado por Jeff Kaplan (que saiu da Blizzard em abril de 2021) tenha se esforçado para fazer de Overwatch um game diverso e amigável a todos, humanos são criaturas incontroláveis, e o desejo da Activision em focar no "mais games, mais rápido e gastando menos", teve seus efeitos.

O lançamento "precoce" de Overwatch 2 (para os padrões da Blizzard) como uma experiência apenas PvP, com foco no Passe de Batalha, deixa claro que de agora em diante, a ordem do dia é "vamos faturar".

O mundo (ainda) precisa de heróis

Eu confesso que mesmo com todos os contras, Overwatch 2 reacendeu em mim o desejo de voltar a curtir o FPS de heróis, cuja identidade continua original, distante das temáticas militares de concorrentes diretos. A adição de um novo modo de jogo e novos personagens, tão carismáticos quanto os originais, potencializou o sentimento de querer voltar àquele mundo.

Assim como muita gente, eu perdi a vontade de continuar jogando, por achar que a fórmula estava estagnada, e não provia grandes novidades, mas em certos aspectos, Overwatch 2 é um caso típico da "pata do macaco" (não a do Winston): cuidado com o que deseja.

Overwatch 2 (Crédito: Divulgação/Blizzard Entertainment)

Overwatch 2 (Crédito: Divulgação/Blizzard Entertainment)

Overwatch 2 tem uma boa jogabilidade, é bonito de ver, e conta com um dos elencos de heróis mais diverso e representativo dos games, e mais importante, é divertido; contudo, não dá para ignorar as decisões de negócio da Blizzard, que busca a monetização acima de qualquer coisa (e todo mundo reclamava das loot boxes...), o que o fez ser lançado sem o modo História/PvE, este sem data para chegar.

Ainda assim, o modelo F2P permite que mais gente possa jogar, e é possível acessá-lo em todas as plataformas com o mesmo save, o que considero grandes vitórias; o tempo dirá se a Blizzard vai acertar a mão com Overwatch 2, se ele será superado por concorrentes, ou se o público se manterá interessado por sua atual encarnação.

Overwatch 2 — Ficha Técnica

  • Plataformas — PS5, Xbox Series X|S, PS4, Xbox One, Windows e Nintendo Switch (analisado no PS5 e Xbox Series X);
  • Desenvolvedora — Blizzard Entertainment;
  • Distribuidora — Blizzard Entertainment;
  • Classificação Indicativa — 12 anos.

Pontos fortes:

  • Modelo free-to-play tornou o game mais acessível;
  • Continua divertido e original;
  • Novos personagens, mapas e modos de jogo.

Pontos fracos:

  • Nem sinal do modo História, por enquanto;
  • Todos terão que lidar com formato de GaaS;
  • Mudanças na composição dos times força uso técnico dos tanques.

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