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Overwatch 2, GaaS e promessas não cumpridas

Ao recuar em boa parte dos planos de conteúdos PvE, Blizzard consolida intenção de focar no formato GaaS em Overwatch 2

43 semanas atrás

Prestes a completar 7 anos no ar (contando com sua encarnação original), Overwatch é um dos FPS mais populares do mercado, no que muito do mérito está na criação de personagens carismáticos e cheios de personalidade. Por outro lado, o público sempre reclamou do profundo foco da Blizzard na porção PvP (Jogador contra Jogador), mesmo quando o game ainda não era free-to-play.

Quando a Blizzard anunciou Overwatch 2 em 2019, ela o fez apoiando-se em agradar os jogadores que preferiam a porção PvE (Jogador contra Ambiente), focando-se em modos cooperativos e progressão de personagens, à parte do PvP, que acabou priorizado no lançamento inicial.

Lifeweaver é a mais recente adição ao rol de heróis de Overwatch 2 (Crédito: Divulgação/Blizzard Entertainment)

Lifeweaver é a mais recente adição ao rol de heróis de Overwatch 2 (Crédito: Divulgação/Blizzard Entertainment)

Agora, a desenvolvedora anunciou ter cancelado boa parte dos planos que não se alinham com o formato GaaS (Jogos como um Serviço), já que a ordem da matriz Activision é lucrar, e gastar pouco com produção.

No início, Overwatch 2 era bem diferente

Os planos originais para Overwatch 2, apresentados na Blizzcon 2019, eram bem diferentes do produto que conhecemos hoje. Em primeiro lugar, ele deveria ter sido um jogo stand alone completo, que seria vendido tal qual Overwatch, que a princípio, não seria desligado; de fato, a ideia era permitir jogadores interagirem entre ambos títulos, via cross-play.

A grande justificativa para a existência do segundo jogo, era o foco maior na história e em conteúdos PvE. Muita gente reclama desde sempre que por mais que conte com heróis criativos, cada um com uma história rica e complexa por trás, Overwatch não aborda nada disso na jogabilidade, salvo diálogos soltos entre os heróis, entre uma batalha e outra. Para saber mais, você precisa consumir outras mídias, como curtas animados disponíveis no YouTube, ou HQs e contos publicados no site oficial.

Em Overwatch 2, o jogador teria os modos PvP à disposição normalmente, acompanhados de uma maior disponibilidade de missões co-cop de PvE, focadas no desenvolvimento da história dos heróis e do mundo, que é bastante rico e nunca foi devidamente explorado. Seria como os eventos sazonais de Overwatch, Terror de Halloween e Arquivos, no que o segundo tem relevância na história dos heróis (curiosamente este evento não é realizado desde 2021, mas divago).

Paralelo a isso, Overwatch 2 também introduziria um modo de Missões de Herói, que contaria com uma árvore de progressão e habilidades a serem desbloqueadas, a fim de incrementar as capacidades de seus heróis favoritos nos modos PvE.

De certa forma, a Blizzard estava procurando fazer com que o game se diferenciasse ao máximo de outros títulos similares no mercado, enquanto ofereceria novos conteúdos para quem não gosta de jogar contra outros players, que podem ser bem tóxicos, uma reclamação que ouvi bastante ao longo dos anos. Muitos desses preferiam voltar a Overwatch apenas durante os eventos sazonais de PvE, ou jogar contra a CPU.

O trailer de jogabilidade da Blizzcon 2019 mostra como os planos para Overwatch 2 eram diferentes, e de certa forma, ambiciosos.

O que a Blizzard não contava, era com a Activision perdendo a paciência com a desenvolvedora.

"Vamos faturar"

Por muitos anos, a casa de Warcraft e Diablo gozou de proteção da matriz, quando comparada a outros estúdios mantidos a rédeas curtas. Assim, seus profissionais puderam tocar o desenvolvimento de seus projetos por muitos, muitos anos antes de serem lançados.

Overwatch, por exemplo, nasceu de ideias descartadas de um MMORPG chamado Titan, cujos trabalhos começaram em 2005, mas que acabou cancelado em 2014. Pouco tempo depois, o título original foi revelado, para chegar aos consoles e Windows quase dois anos depois. Overwatch 2 estava seguindo a mesma linha, originalmente ele nem deveria ter saído em 2022, quiçá em 2023.

Ainda em 2018, a Activision removeu todos os privilégios que a Blizzard possuía, e impôs a seus desenvolvedores o mesmo regime de seus demais estúdios: lançar mais jogos, mais rápido, e gastando menos. Muitas cabeças foram cortadas, e devs que permaneceram passaram a acumular funções.

Quando o produtor Jeff Kaplan deixou a Blizzard em 2021, todas as defesas postas ao redor de Overwatch 2 caíram, e o desenvolvimento mudou. De jogo separado, ele acabou convertido em uma atualização do título original, que deixou de existir, e o formato de preço cheio foi abandonado em prol do F2P com microtransações pesadas, como venda de skins e novos personagens (estes podem ser desbloqueados jogando, mas muito).

Mais importante, o foco passou a ser exclusivamente o PvP e o Passe de Batalha, para atingir o mesmo nível de sucesso financeiro de Fortnite, e outros Jogos como um Serviço. O game foi lançado incompleto, sem nada de PvE exceto o evento de Halloween sazonal.

Nos planos pós-lançamento de Overwatch 2, a Blizzard afirmava que as experiências co-op anteriormente anunciadas seriam implementadas em 2023. Agora, a desenvolvedora revelou os planos para as próximas temporadas, e elas não são boas.

Cronograma de Overwatch 2 para as próximas temporadas (Crédito: Reprodução/Blizzard Entertainment)

Cronograma de Overwatch 2 para as próximas temporadas (Crédito: Reprodução/Blizzard Entertainment)

A 6.ª temporada, que começa em agosto, trará uma parte dos conteúdos PvE prometidos, na forma de Missões de História cooperativas, que serão lançadas gradualmente, ao invés de tudo de uma vez. Dessa forma, é como se fossem eventos sazonais com desenvolvimento do lore e personagens, mas com distribuição fragmentada. Não se sabe sequer se essas missões serão fixas, ou rotativas.

Já o outro novo modo, chamado Maestria de Heróis, oferece uma série de missões que o jogador poderá concluir com um herói específico jogando solo, mas sem ganhos de habilidades, ou itens, atrelados ao progresso.

Por outro lado, as Missões de Herói foram completamente descartadas. Durante o stream realizado na última terça-feira (16), o produtor executivo Jared Neuss explicou que o modo "não progrediu (durante o desenvolvimento)" da forma que a equipe esperava. Os planos originais previam árvores de evolução enormes para cada um dos heróis, mapas gigantescos, e inimigos com designs e habilidades variados.

Assim, o produtor disse que o modo foi cancelado porque "o desenvolvimento iria durar para sempre", algo que vai de encontro à política imposta pela Activision, de gastar menos tempo (e dinheiro) na produção, e maximizar o lucro. E não há fórmula mais barata e simples de aumentar os ganhos, do que concentrar os esforços em itens cosméticos e Passes de Batalha, com o PvP sendo o foco.

Ainda mais que crossovers com outras marcas, trazendo mais opções de itens cosméticos vendidos com dinheiro real, serão corriqueiros; vale lembrar que, com o fim das caixas de loot, você só consegue a maioria das novas aparências (algumas são recompensas em modos de jogo) se abrir a carteira.

O primeiro crossover de Overwatch 2 trouxe skins premium baseadas nos personagens do mangá/anime One-Punch Man (Crédito: Divulgação/Blizzard Entertainment/ONE/Shueisha/TV Tokyo)

O primeiro crossover de Overwatch 2 trouxe skins premium baseadas nos personagens do mangá/anime One-Punch Man (Crédito: Divulgação/Blizzard Entertainment/ONE/Shueisha/TV Tokyo)

Embora a justificativa inicial para a existência de Overwatch 2 fosse focar mais no PvE e conteúdos de história, a direção atual do game, por influência da Activision, correrá atrás do dinheiro em primeiro lugar, e assim o PvP, a mecânica que justifica a existência dos torneios e da progressão do Passe de Batalha, que movimentam muita grana, tomará precedência. Eventos sazonais, como o atual Starwatch, um pastiche de Star Wars (afinal, por que não?), também servem de desculpa para o lançamento de mais skins premium.

Ainda assim, considerando que o game fez US$ 100 milhões nos primeiros três meses, os resultados são positivos para a Blizzard e para a Activision, por mais que muitos jogadores lamentem o descarte das melhores ideias para o PvE.

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