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A relevância do Twitter para os desenvolvedores de jogos

Enquanto alguns estúdios indie afirmam ter desistido do Twitter, outros continuam enxergando na rede social uma ótima ferramenta para divulgar seus jogos

38 semanas atrás

Mesmo que não tenha uma conta por lá, você provavelmente está ciente das muitas mudanças pelas quais passou o Twitter nos últimos meses. Apesar de vários usuários estarem insatisfeitos com a maneira como Elon Musk vem tratando a plataforma, será que ela ainda pode ser uma boa ferramenta para a divulgação de jogos indies? Pois essa é uma pergunta que tem gerado respostas interessantes — e conflitantes.

Twitter

Crédito: Reprodução/Freepik/macrovector/Dori Prata

Após conversar com profissionais de alguns estúdios durante a Develop 2023, Connor Makar publicou no VG247 um artigo cujo título pode ser traduzido como “‘Se tornou inútil’ — Desenvolvedores de videogame falam sobre a morte lenta do Twitter e o que está por vir.” Nele o autor relata a preocupação de algumas dessas pessoas com a maneira como a rede social deixou de ser interessante, a começar pelo gerente de comunicação da Boneloaf, criadores do Gang Beast.

“Na verdade, não usamos mais o Twitter,” afirmou Conor Clarke. “Essa é uma decisão consciente, porque no final do ano passado vimos muitas mudanças na plataforma graças à mudança de alto nível na liderança que eu pessoalmente não gosto [...] tentei evitar todas as coisas obscuras, todos os algoritmos que empurraram Andrew Tate e porcarias para frente. ”

Ainda segundo o gerente, a alternativa encontrada por eles foi explorar melhor outra rede, o TikTok. Apesar de não estarem por lá, o estúdio percebeu que havia um enorme público interessado no seu jogo, com os vídeos sobre ele contando com mais de um bilhão de visualizações. Mesmo admitindo que não existe almoço grátis, já que todas as redes sociais estão ali para pegar nossos dados, o TikTok seria aquela que considera menos pior.

Soccer Story (Crédito: Divulgação/PanicBarn/No More Robots)

Outro que mostrou todo seu descontentamento com a rede do passarinho foi Mike Rose, CEO da No More Robots. Sem poupar palavras, o executivo atacou Elon Musk diretamente, jogando sobre o bilionário a culpa por a rede ter perdido relevância.

“Ele é um idiota, não é?” questionou Rose. “O problema é que estupidamente construí uma parte do meu negócio no Twitter. Uma grande razão pela qual nos saímos tão bem, especialmente nos primeiros dias da No More Robots, foi porque joguei o jogo do Twitter tão bem. Pude ver dias em que vendíamos mil cópias do jogo por causa de uma série de tweets. Foi muito poderoso para mim e então, é claro, ele apareceu e estragou tudo. E agora se tornou um pouco inútil para mim.”

Segundo Rose, a situação se tornou tão ruim, que ele deu a ordem para que a pessoa que cuida da rede social deixasse de se importante com a conta, podendo passar a publicar nela qualquer coisa que quisesse.

Contudo, há aqueles que preferem não lamentar aquilo no que o Twitter está se tornando, enxergando a plataforma como uma boa ferramenta de divulgação. Esse é o caso, por exemplo, de Josh Grier, diretor de operações do Emberlab. Sem falar sobre uma possível queda na visibilidade, o profissional que ajudou a dar vida ao belo Kena: Bridge of Spirits limitou-se a dizer que o jogo se beneficiou muito do feedback que os jogadores deram através da rede de microblogging.

Outro diretor financeiro que não criticou Musk e seus comandados foi John Burns. “Você sempre precisa inovar,” defendeu o executivo do estúdio Arctic7. “Há 20 anos, tudo girava em torno da publicidade em filmes, ou em outdoors, ou em revistas impressas. Hoje em dia, tudo gira em torno de usar diferentes canais e veja, os canais digitais estão sempre mudando em termos do que eles oferecem, sabe? O mercado se move.”

Dumativa - Twitter

Shieldmaiden (Crédito: Divulgação/Dumativa)

Diante destas opiniões, fiquei curioso em saber qual seria a percepção dos estúdios brasileiros em relação ao atual estágio do Twitter, se eles também notaram uma perda na relevância ou se a rede continua sendo uma boa vitrine para suas criações.

Entre aqueles com quem conversei está Rafael Bastos, produtor na Dumativa. “No nosso caso, não teve impacto direto nenhum,” disse o representante do estúdio que criou jogos como A Lenda do Herói e Shieldmaiden. “A gente tem conseguido trabalhar em todas as redes e manter a taxa de crescimento constante tanto de seguidores quanto de engajamento. A gente tem usado cada vez mais o Twitter e continuamos investindo nele, visto que a gente usa muito rede social em geral.”

Rafael contou que eles até lamentam alguns recursos removidos pela rede social, como o Twitter Studio, mas que isso não chegou a prejudicar a visibilidade, apenas os obrigou a mudar como usavam a plataforma. “Esse tipo de mudança súbita não é exclusiva do Twitter, então acho que a resposta mais correta é que não sofremos nenhum tipo de mudança na nossa taxa de sucesso dentro da plataforma,” garantiu. “Ela está no nosso plano de conteúdo cada vez mais e é onde a gente tem um engajamento para Call to Action maior.”

I Did Not Buy This Ticket (Crédito: Divulgação/Galleon Visual Novels)

Quem expressou uma opinião parecida foi Tiago Rech, designer de narrativa na Galleon Visual Novels e Monumental. Embora ele não tenha notado uma melhora nos últimos meses, não pôde dizer que o alcance tenha piorado. Segundo Tiago, desde abril, quando eles lançaram sua última criação, o jogo I Did Not Buy This Ticket, foi na rede do passarinho em que eles tiveram o maior retorno.

“Mesmo com o serviço piorando por conta do Elon Musk, o site continua mais relevante que outras redes — só não sei quanto tempo vai durar isso,” declarou o designer de narrativa. “O TikTok foi uma rede que prometia tudo e não entregou nada no engajamento até agora (risos).”

2ndBoss - Twitter

Wild Dogs (Crédito: Divulgação/2ndBoss)

Já Abdel Oliveira, sócio no estúdio 2ndBoss, notou até uma melhora após essa mudança no comando do Twitter. “Seguindo alguns parâmetros que tenho tentado nos últimos meses, os posts têm alcançado engajamento bem interessante,” defendeu, apontando ainda uma possível explicação para isso: “Acho que o fato do assunto relevante aparecer para outras pessoas, mesmo não sendo seguidoras, ou seguidor de seguidor, levou as coisas mais longe.”

Segundo o game designer que ajudou a criar títulos como Wild Dogs e atualmente está trabalhando no Darkest Abyss — jogo inspirado nos Castlevania clássicos —, ultimamente ele tem publicado na conta do estúdio apenas sobre o que estão produzindo, “com vídeos/GIFs curtos, no meio do dia, e entre terça e sábado.” Fora isso, as postagens não costumam ter muito engajamento.

Tudo isso me faz acreditar que a visibilidade no Twitter precisa ser avaliada caso a caso, com a maneira como os estúdios estão usando a plataforma tendo um impacto muito maior do que as mudanças realizadas recentemente. Isso não quer dizer que eu concorde com a maioria dos mandos e desmandos realizados por Musk, mas como agora ele é o dono da bola, só consigo pensar que nos restam três opções: bater em retirada; aceitar a situação e fazer o possível para tirar o máximo que a rede tem a nos oferecer; ou reclamar muito... no Twitter.

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