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Chromecast, 10 anos depois

Chromecast original, que completou 10 anos, "inteligentificou" TVs não-smart e lançou uma nova categoria de produtos para consumo de conteúdo

33 semanas atrás

O Chromecast está completando 10 anos nesta segunda-feira (24). O dongle do Google chegou como uma opção aos set-top boxes, como a Apple TV (a caixinha, não o app) e similares, sendo bem mais barato e acessível.

Na verdade, o Chromecast chegou como uma ferramenta voltada principalmente para donos de TVs mais antigas, tanto as que não tinham funções Smart, quanto aquelas que perderam (e ainda perdem) suporte a apps e atualizações ao longo dos anos.

Os dispositivos da família Chromecast venderam mais de 55 milhões de unidades até 2017 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Os dispositivos da família Chromecast venderam mais de 55 milhões de unidades até 2017 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Até 2013, o usuário tinha algumas opções para consumir conteúdo de serviços de streaming, áudio e vídeo na sala de estar, algumas caras, outras complicadas. As mais simples e custosas implicavam em comprar uma Smart TV, já com os apps integrados, ou um set-top box para ligá-lo a um televisor mais antigo. Embora US$ 99 não fosse tão caro assim na época e a Apple TV tivesse pouca concorrência (basicamente, só o player da Roku), nem todo mundo estava disposto a arcar com esse custo.

Outra opção, paralela aos set-top boxes, eram os consoles de videogame, que desde a 7.ª geração (PS3, Xbox 360 e Wii) passaram a ser dispositivos multimídia, rodando games e aplicativos, inclusive de streaming, mas o problema de novo esbarrava no preço dos dispositivos, geralmente maior que o da Apple TV.

As opções mais complicadas implicavam em espelhar conteúdos do PC/Mac para a TV, via protocolos Miracast ou Apple AirPlay, este também disponível no iPhone e iPad, que nem todos os televisores suportavam, e não eram de uso simples para o usuário médio. Por fim, a opção mais radical era ligar o computador direto na TV, via HDMI, o que nem sempre era tão prático.

Lançado em 24 de julho de 2013, o Chromecast original chegou com uma proposta bem diferente. O preço de US$ 35 era ridiculamente baixo, quando comparado à Apple TV e ao set-top box original da Roku, isso porque o dispositivo não era uma solução em si. O ChromeOS fora adaptado para servir como uma ponte de espelhamento de conteúdos, onde apps compatíveis conversariam com o dongle, assim, vídeos, áudios e fotos poderiam ser exibidos na TV.

Claro, por ser um dispositivo do Google, ele era totalmente integrado ao Android, viabilizando o espelhamento de tela de smartphones e tablets que rodavam o sistema do robozinho, para reproduzir conteúdos que o Chromecast não suporta diretamente, como games, por exemplo.

Chromecast para todos

O Chromecast foi inicialmente voltado para TVs não-Smart, sendo uma opção mais barata para quem desejava uma experiência mais moderna ao consumir filmes, séries e músicas na sala de estar, mas ele atendeu também o público que possuía aparelhos conectados mais antigos, que perdiam funcionalidades com o passar dos anos, ou que contavam com SOs embarcados complicados de usar, ou simplesmente tenebrosos (LG NetCast, que queime no mármore do inferno).

Não demorou para que desenvolvedores começassem a investir em aplicativos que cobriam as deficiências iniciais do Chromecast, para permitir a reprodução de mais conteúdos que ele originalmente não suportava, até porque o hardware era muito modesto. Seus 2 GB de espaço interno eram dedicados exclusivamente ao ChromeOS, visto que ele não suportava a instalação direta de apps.

A primeira geração contava com apenas 512 MB de RAM, reproduzia conteúdos em Full HD/1080p com taxa de quadros de até 30 fps, ou a 60 fps em HD/720p, e era compatível com redes Wi-Fi de até 2,4 GHz. A segunda geração, lançada em 2015, já se conectava em redes de 5 GHz, mas as capacidades de vídeo eram iguais. Curiosamente, o armazenamento foi reduzido para 256 MB, no que Mountain View otimizou o ChromeOS para ocupar o mínimo de espaço possível.

Com o Chromecast 2.ª geração, o Google introduziu o Chromecast Audio, voltado à reprodução de música, sem vídeo, para "inteligentificar" aparelhos de som. Até por isso, ele trazia ainda menos RAM, 256 MB, já que não precisava de muita coisa mesmo.

O Chromecast Audio nunca foi mais do que uma curiosidade, já que a maioria dos usuários preferia ouvir músicas de seus apps de streaming na TV, mas era uma opção para dispositivos antigos com pouco ou nenhum suporte a redes Wi-Fi para pareamento, o que hoje é lugar-comum.

Em 2016, o Google introduziu o Chromecast Ultra, o primeiro dispositivo da família que suportava 4K e HDR, mas não só seu preço não era lá muito amigável (US$ 69), como ele esquentava para burro durante o uso. Ironicamente, ele foi o dispositivo escolhido como o padrão para execução de games por streaming em TVs com o Stadia, e foi vendido inclusive em um bundle com o controle do hoje finado serviço.

Em 2018, o Chromecast de 3.ª geração finalmente passou a suportar 1080p a 60 fps, pelos mesmos US$ 35 das gerações anteriores, e em 2020, o dispositivo finalmente evoluiu para um set-top box completo, com a versão 4K do modelo com Google TV, uma versão revista do Android TV, sistema originalmente desenvolvido para TVs, acompanhado inclusive de um controle remoto dedicado, por US$ 50.

Apenas em 2020, o Google apresentou a versão HD deste Chromecast, pela primeira vez com um preço abaixo do valor original fixado em 2013; nos Estados Unidos, ele custa apenas US$ 30, o que foi feito para confrontar o óbvio movimento do mercado, com os concorrentes apresentando produtos mais ou menos na mesma faixa de preço, e com funções melhores.

Destes, os dispositivos da Amazon e da Roku foram os que mais evoluíram; set-top boxes desde o início, a fabricante dos "players de Netflix" originais e a companhia de Jeff Bezos investiram em aparelhos que são soluções completas, dispensando o uso do smartphone ou tablet como controlador e fonte dos conteúdos, embora continuem compatíveis e podendo ser pareados/espelhados normalmente.

Hoje, é possível reproduzir conteúdos em 4K em aparelhos que custam o mesmo que outros pedem em dispositivos apenas 1080p, Google incluso. Por isso, o corte no preço padrão do Chromecast.

Do ponto de venda de negócios, a linha de dongles de Mountain View vendeu mais que pão quente. Até 2017, ano em que a companhia parou de fornecer dados oficiais, mais de 55 milhões de unidades foram vendidas em todo o mundo.

O Chromecast evoluiu ao longo da década, e viabilizou soluções similares de concorrentes (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

O Chromecast evoluiu ao longo da década, e viabilizou soluções similares de concorrentes (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Há quem defenda que hoje, com as Smart TVs ficando mais acessíveis, a utilidade de dongles e set-top boxes exclusivos para streaming, excluindo consoles e a Apple TV, que também roda games, é questionável. Usam o argumento de que tais dispositivos não são mais necessários, ainda mais com aparelhos que incorporaram as funções de casting do Google, com sistemas como Android TV e Google TV.

No entanto, fabricantes de TVs tendem a depreciar seus aparelhos com o passar dos anos, limitando versões de seus sistemas apenas aos modelos vigentes do ano corrente. A LG, por exemplo, defende tal atitude como parte do seu modelo de negócios.

Ainda que modelos de anos anteriores continuem recebendo updates para correção de bugs e de segurança, estes estão sempre presos às versões de seus SOs com as quais foram lançados. O mesmo pode se dizer de dongles e set-top boxes, mas o custo para trocar um desses costuma ser bem menor.

O Chromecast original, por exemplo, deixou de receber patches de segurança recentemente, em abril de 2023; modelos também descontinuados como os de 2.ª e 3.ª geração, o Audio e o Ultra, ainda são periodicamente atualizados. Concorrentes como Amazon e Roku também fornecem updates regulares a seus gadgets.

O ciclo de substituição de uma TV costuma ser o segundo mais longo para usuários finais, perdendo apenas para os consoles de videogame; no Brasil, os consumidores tinham o hábito, antes da crise, de trocar suas telas sempre a cada Copa do Mundo, quando os fabricantes oferecem promoções agressivas.

Com um dongle como o Chromecast ou um concorrente, é possível estender a vida útil de um aparelho, que pode perder suporte a serviços e funcionalidades conforme deixa de ser atualizado, além do fato de que tornar uma TV antiga em um dispositivo inteligente, mesmo os modelos mais antigos e improváveis, e sem gastar os tubos, é sempre bom.

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