Gundam Evolution já tem data para morrer

Pegue uma franquia bastante popular e com muitos anos de estrada, idealize um jogo multiplayer que receberá atualizações constantes e revele que ele será distribuído gratuitamente. Essa parece ser a receita ideal para o sucesso, um projeto com grande potencial para encher os cofres da sua editora, mas não foi bem o que aconteceu com o Gundam Evolution.

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Anunciado em julho de 2021, o jogo de tiro em primeira pessoa parecia a realização do sonho de muitos fãs dos robôs criados por Yoshiyuki Tomino. Nele participaríamos de combates entre dois times formados por seis jogadores, onde eles teriam que realizar objetivos conforme o modo escolhido: capturar certos locais, ativar ou destruir uma arma de destruição em massa, etc.

Já em março de 2022, a Bandai Namco anunciou que o Gundam Evolution estava perto do seu lançamento, o que acabaria acontecendo seis meses depois, para PC, Xbox One, Xbox Series S|X, PlayStation 4 e 5.

Oferecendo 22 mechs aos jogadores, o título gratuito chegou sem causar muito alarde, alcançando uma média de apenas 72 pontos no Metacritic. O interesse por parte do público também não foi dos melhores, pois apesar de ele ter registrado um pico de quase 57 mil jogadores simultâneos no Steam, apenas cerca de 700 pessoas se dedicaram a ele no último mês.

Até por se tratar de um jogo distribuído gratuitamente, conseguir conquistar o maior público possível acaba sendo fundamental para que um jogo como serviço se mantenha e como o título da Bandai Namco não teve sucesso neste sentido, o seu encerramento se tornou inevitável.

O responsável por dar a péssima notícia àqueles que ainda se divertem com o Gundam Evolution foi Kazuya Maruyama. Através de uma publicação no site do jogo, o produtor executivo fez o que se tornou comum neste tipo de situação: agradecer o apoio do público e lamentar por o estúdio ter fracassado.

“Queríamos criar um título que unisse os fãs de FPS e os de Gundam. Nos desafiamos para criar um autêntico Gundam FPS que pudesse ser jogado globalmente. Infelizmente, determinamos que não será mais possível fornecer um serviço que satisfaça os nossos jogadores.

Queremos expressar nossa gratidão a todos que jogaram o game e nos apoiaram até este ponto. Ao mesmo tempo, queremos sinceramente pedir desculpa aos nossos fãs e jogadores.”

Maruyama então disse que, apesar do término do Gundam Evolution ter sido marcado para acontecer no próximo 29 de novembro, o título ainda receberá novos conteúdos. Isso se deve ao lançamento da sexta e da sétima temporada do jogo, previstas para 23 de agosto e 25 de outubro, respectivamente.

“Faremos o melhor para garantir que os nossos jogadores aproveitem o Gundam Evolution ao máximo até o fim,” declarou o produtor. Isso significa que aqueles que continuarem jogando ainda receberão três mapas e duas unidades.

Por um lado, essa dedicação por parte da equipe envolvida na criação do título merece ser elogiada. Fazer com que vários profissionais continuem trabalhando num jogo que está prestes a desaparecer é algo louvável.

Porém, com o anúncio de que o fim é iminente, o natural é que o número de pessoas interessadas em experimentar o Gundam Evolution despenque, o que consequentemente deverá fazer com que até os maiores fãs procurem outros títulos para se divertirem. Logo, será que todo esse esforço por parte da Bandai Namco faz sentido de um ponto de vista comercial?

O certo é que novamente temos um motivo para lamentar a efemeridade de um jogo voltado para as partidas online. Aqui estamos falando de algo que deixará de existir apenas pouco mais de um ano desde o seu lançamento, uma situação que sabemos que não será a última a acontecer.

O interessante é pensar que essa máquina de triturar jogos tem sido alimentada principalmente pelas microtransações, pela distribuição gratuita e pela a ideia de jogos como serviço (Game as a Service, ou simplesmente, GaaS). Se antes os servidores dos títulos que comprávamos eram mantidos por vários anos, hoje as editoras não possuem o menor pudor em desativá-los rapidamente. Se um GaaS não está dando o lucro esperado, basta puxar o fio da tomada, varrer a sujeira para debaixo do tapete e fingir que aquele experimento não existiu.

Aliás, experimento talvez seja a melhor maneira de descrever muitos jogos lançados nos últimos anos. Na busca por um novo Fortnite ou um PUBG: Battlegrounds, muitas foram as empresas que apostaram em títulos com enorme potencial para o sucesso, mas que se mostraram retumbantes fracassos. E salvo algumas exceções, o destino deles foi o mesmo: apenas alguns meses funcionando e uma súbita despedida.

Para os jogadores, fica a mesma sensação de estarmos participando de um passeio por um cassino. Que garantia temos de que o tempo (e até o dinheiro) investido num game não será jogado fora simplesmente porque algum executivo cansou de manter aquele universo funcionando? Como saber se a experiência que vivemos num determinado jogo não será impedida de ter continuidade já nas próximas semanas?

A situação do Gundam Evolution é emblemática, já que o conteúdo final será adicionado ao jogo apenas pouco mais de um mês antes dos servidores desligarem. E numa época em que alguns debatem maneiras de manter viva a história dos games, como não lamentar casos assim?

É triste, mas quanto mais o tempo passa, mais tenho a sensação de que apenas o passado mais distante dos videogames poderá ser mantido. Muito daquilo que temos recebido atualmente parece já chegar com uma data de validade, um prazo para desaparecer e sorte daqueles que tiveram a oportunidade de experimentar tais mundos virtuais.